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28/05/2022 às 13h00min - Atualizada em 28/05/2022 às 13h00min

Pandemia aumenta demanda por reforço escolar em Uberlândia

Profissionais da educação relatam dificuldades no aprendizado de alunos durante o ensino à distância

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever aumentou 66% entre 2019 e 2021 I Foto: AGÊNCIA BRASIL
O número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever aumentou 66% entre 2019 e 2021, segundo levantamento do instituto “Todos pela Educação”. O contexto da pandemia trouxe os desafios das aulas à distância, prejudicando o aprendizado de alunos, sobretudo dos ensinos fundamental e infantil. O impacto já é sentido entre estudantes e professores que atuam nas escolas de Uberlândia.
 
É o que confirma a pedagoga Yesa Maria Rosa. A educadora diz que a procura por aulas de reforço aumentou consideravelmente neste ano, após a retomada das atividades presenciais na cidade. De acordo com ela, várias crianças passaram por um período de provas nas escolas, e o mau desempenho ligou o alerta de pais e professores com relação à aprendizagem dos alunos.
 
A profissional que dá aulas de reforço escolar no bairro Jardim Botânico explicou que o caso é ainda mais grave para crianças de 7 anos, já que geralmente estão iniciando o processo de alfabetização nesse período. O grande problema, segundo Yesa, é que nem todas as famílias têm condições de pagarem por cursos particulares para recuperarem o ensino dos filhos.
 
“Muitas crianças estão com dificuldades. Tenho crianças na 5ª série do ensino fundamental que estão com dificuldade para ler e praticamente não sabem escrever. O ensino do nosso país já deixa muito a desejar, e ainda tem a questão que muitos pais não têm condições de pagarem por aulas particulares, o que agrava a situação”, disse.
 
Em conversa com a reportagem, a pedagoga criticou a maneira com que as escolas lidaram com o Ensino à Distância (EAD) durante a pandemia. Em sua visão, as instituições deveriam ter realizado mais atividades de maneira online, com maior acompanhamento dos professores junto aos alunos. Com o “tempo perdido”, Yesa Maria Rosa acredita em um forte impacto na educação nos próximos anos.
 
“As escolas mandavam apenas atividades para fazer em casa e depois mandavam vídeo-aulas uma vez por semana só para tirar as dúvidas da criança, isso é pouco. Acredito que mesmo paradas, as escolas poderiam ter feito mais, ter tido aulas online todos os dias. O ensino remoto já é muito difícil para a criança acompanhar, e ainda existem aquelas que os pais não conseguem ajudar. Essas foram ainda mais prejudicadas”, detalhou a pedagoga.


 
PROJETO
Buscando auxiliar crianças e adolescentes, a pedagoga ouvida pelo Diário está elaborando um projeto para atender o público que precisa do reforço escolar. Ela disse que a demanda é grande, e que conta também com a ajuda de instituições de ensino públicas e privadas.
 
“Nós estamos muito preocupados com a dificuldade das crianças e eu gostaria que as escolas também fizessem projetos para ajudar essas crianças. A gente vê que a pandemia prejudicou demais. As escolas deveriam fazer alguma coisa para ajudar esses alunos, principalmente os que não têm condições de ter esse acompanhamento particular”, explicou Yesa.
 
Um projeto similar ao da profissional foi implementado pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), que iniciou as atividades do programa de reforço escolar nas escolas da rede estadual de ensino neste mês. Em 2022, já são mais de 50 mil alunos matriculados nas turmas para aulas extras de língua portuguesa e matemática.
 
O reforço escolar oferece um trabalho pedagógico mais individualizado, o que permite focar nas necessidades de cada aluno, o que vai ao encontro do projeto elaborado por Yesa. As aulas da SEE acontecem sempre em um sexto horário ou no contraturno da escolaridade do estudante.


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DESAFAGEM EDUCACIONAL
De acordo com a psicopedagoga Luciana Marques do Prado, a pandemia causou uma grande defasagem educacional nos alunos matriculados em escolas de Uberlândia. Especializada em alfabetização e dificuldade de aprendizagem a profissional relatou que muitas crianças avançaram de série gradativamente nos últimos dois anos sem a bagagem necessária.
 
“As crianças do ensino fundamental I perderam o processo de alfabetização. Elas não foram à escola e não puderam vivenciar todas as etapas que são exigidas para que ela tenha uma maturidade para aprender a ler. Elas foram promovidas analfabetas e agora estão inseridas em uma série onde elas não estão prontas para receber aquele conteúdo”, detalhou.
 
Ainda segundo Luciana, a procura de pais por reforço escolar tem sido comum nos últimos meses. Por outro lado, ela explica que muitos acabam confundindo a necessidade de reforçar um conteúdo com a necessidade de se aprender a ler e escrever. “Tenho crianças do 6º ano que não sabem ler. Ela não precisa de reforço, ela precisa ser alfabetizada”, afirmou.
 
De acordo com a especialista, a alfabetização implementada nas instituições de ensino na cidade pouco contribuiu para a alfabetização das crianças durante a pandemia da covid-19. Além disso, ela relata que a tecnologia atrapalhou o processo de concentração e desenvolvimento de grande parte dos alunos.
 
“Prender a atenção de uma criança diante de uma tela é difícil, você consegue sustentar um aproveitamento de concentração de no máximo 20 minutos. Quatro horas na frente da aula online é difícil, isso porque estou falando apenas das escolas privadas. Muitos dos professores também tiveram que se adaptar ao modelo, e muitos deles não são tecnológicos, o que não significa que eles sejam professores ruins”, disse Luciana.
 
Além disso, a psicopedagoga aponta que os meninos e meninas do ensino fundamental ficaram desnorteados com a mudança de rotina causada durante o coronavírus. “A família precisou ficar dentro de casa e perdeu-se aquele hábito de acordar, almoçar, fazer tarefa. Isso impacta a vida educacional e a vida pessoal dela. É criança dormindo demais, dormindo fora do horário e temos a tecnologia, que desestimulou e trouxe o desinteresse na concentração”, contou.
 

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