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13/05/2022 às 17h39min - Atualizada em 13/05/2022 às 17h39min

Em três anos, casos de crimes cibernéticos aumentam mais de 130% em Uberlândia

Cidade é a terceira de Minas Gerais com mais registros de ocorrências, atrás apenas de Belo Horizonte e Juiz de Fora

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Golpes do Pix têm se tornado cada vez mais frequentes na cidade | Foto: Agência Brasil
Segundo dados da Polícia Civil, casos de crimes virtuais aumentaram mais de 130% em três anos em Uberlândia. A cidade é a terceira de Minas Gerais com mais registros de ocorrências, atrás apenas de Belo Horizonte e Juiz de Fora.

Em 2018, a corporação atendeu 896 delitos pela internet no município, número que aumentou para 2.131 em 2021. Até abril de 2022, foram registradas 745 infrações cibernéticas. Ainda segundo a polícia, o crime mais contabilizado em todo o estado é o estelionato, com 28,5 mil ocorrências em 2021. A pena para esse tipo de ocorrência foi ampliada para quatro a oito anos em 2020, após um projeto de lei ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

A empreendedora, Carolina Ribeiro, caiu em um golpe através de um anúncio publicado nas redes sociais. Ela contou que estava navegando pela internet quando viu a publicação do veículo por um valor abaixo do mercado. Ela entrou em contato com o suposto vendedor pelo WhatsApp e chegou a negociar o modo de pagamento e retirada. Contudo, além de não conseguir a moto, ela perdeu R$ 6 mil. 

“Ele me falou pelo WhatsApp que era advogado e que estava em reunião, e me pediu para ir ver a moto com a sobrinha dele. Eu fui, olhei e até andei na moto. Eu não tive muito contato com a mulher que supostamente era sobrinha dele, mas vi que aparentemente estava tudo certo. Eu perguntei se poderia transferir o dinheiro combinado para o tio dela e levar a moto e ela me confirmou. A partir disso, eu fiz o depósito e ele sumiu”, explicou.

Durante o relato, Ribeiro disse que o autor e a suposta sobrinha não possuíam nenhum vínculo, e afirmou que a mulher também foi vítima do golpe. “Ela era a dona da moto e tinha anunciado a moto anteriormente. O golpista entrou em contato com ela e afirmou que ia ficar com a motocicleta e disse que eu ia verificar o veículo. O autor afirmou para a mulher que, assim que eu transferisse o dinheiro para ele, o montante seria enviado para ela.  Ou seja, ele usou o anúncio dela para aplicar o golpe”. 

Revoltada com o caso, Caroline Ribeiro registrou um Boletim de Ocorrência (BO) para tentar reverter o prejuízo, mas o investimento de R$ 6 mil nunca foi recuperado.

“Ela nem se ligou que era um golpe. O golpista já tinha entrado em contato com a vendedora e pedido para que ela mentisse para mim com relação ao parentesco. Eu perguntei a ela ‘como você confirma que ele é o seu tio se você nem o conhece?’. Talvez ela estivesse desesperada para vender a moto. No fim das contas, eu paguei R$ 6 mil, não recebi a moto e a vendedora não conseguiu vender o veículo dela. É muito difícil conseguir o reembolso nesse caso, então eu perdi o dinheiro”, disse.

GOLPE DO PIX
Quem também passou por esse tipo de situação foi o estudante da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Arthur Martins. O aluno estava procurando um ingresso para uma festa universitária que acontecerá em junho, na cidade de Uberaba, mas acabou caindo no golpe do Pix.

“Eu estava procurando um ingresso e entrei na internet. O preço estava muito caro, então decidi ir até as redes sociais, porque sempre tem muita gente anunciando o ingresso de lotes anteriores, o que fica mais barato. No mesmo dia, uma pessoa me chamou no Instagram com a entrada R$ 100 mais barata do que a vendida pela organização do evento”, detalhou.

Segundo Martins, a pessoa se passava por uma garota, supostamente estudante de psicologia em uma universidade do estado de São Paulo. Após negociarem o ingresso, o criminoso passou a chave do Pix para Arthur, que rapidamente tentou realizar a transferência até se deparar com o nome de um homem no destino bancário.

“Eu tive uma leve desconfiança e perguntei. O golpista me disse que o nome em questão era de seu namorado. Eu mandei o dinheiro e o perfil parou de me responder. Eu até tentei ligar, mas passou um tempo e o autor me bloqueou. Foi um baque grande, porque eu estava muito empolgado e foi uma quantia de dinheiro considerável”, explicou Arthur.

Com o passar do tempo, Arthur Martins relata que descobriu mais três pessoas que passaram pelo mesmo golpe com a mesma pessoa. “Eu reuni essas pessoas e chegamos a fazer uma ata no cartório para comprovar o crime virtual. Eu sei que esse dinheiro não vai voltar, mas nesses casos é muito importante avisar nas redes sociais sobre o caso”, disse.

PREVENÇÃO
O delegado chefe da Polícia Civil em Uberlândia, Marcos Tadeu Brito Brandão afirmou que a prática de crimes virtuais se tornou comum não apenas na região, mas em todo o Brasil. Segundo ele, a facilidade para aplicar golpes por meio de sites e redes sociais tem dificultado o trabalho realizado por policiais civis que atuam na área de investigação.

O delegado contou que grande parte dos assaltos migraram para os delitos virtuais. De acordo com o policial civil, a democratização do acesso à internet e a criação do Pix pelo Banco Central em novembro de 2020 impulsionaram os registros de crimes cibernéticos em todo o estado de Minas Gerais.

“Uma pessoa pode estar no estado do Amazonas com o chip de celular de Belo Horizonte, ligar para alguém de Uberlândia e pedir para depositar um dinheiro em determinada conta. O dinheiro vai para uma conta em um banco virtual de Curitiba e a partir disso essa quantia é pulverizada em diversas outras contas. Isso dificulta muito o nosso trabalho de apuração e é quase impossível recuperar esse investimento. A melhor opção é sempre a prevenção”, disse.

Ainda segundo Marcos Tadeu, vários golpistas têm utilizado a prática do “phishing”, termo criado em alusão à palavra “fishing”, que significa “pescar”. Na prática, os criminosos “pescam” informações e dados secretos das vítimas por meio de informações falsas que geralmente se iniciam através de um contato, seja por e-mail, SMS ou pelas redes sociais.

Aliado ao phishing, os infratores virtuais se utilizam da engenharia social para induzir as vítimas a enviarem dados confidenciais, como senhas de banco ou acessos a contas de Facebook ou Instagram, por exemplo. Para evitar isso, o delegado relata que é importante ter cuidado com o que é publicado nas redes sociais.

“Muitas pessoas têm uma necessidade de postar tudo nas redes sociais. Vai tomar um café e publica. Não é necessário expor tudo dessa maneira. Isso tudo nas mãos de pessoas levianas é um prato cheio. Quando você publica a todo momento, você está dando dados para os criminosos. É importante você fechar a porta para esse tipo de coisa, como se você estivesse na sua casa mesmo”, explicou.

De acordo com o policial, o estado de Minas Gerais possui uma delegacia especializada em crimes cibernéticos em Belo Horizonte. Marcos Tadeu disse ainda que Uberlândia tem tentado implementar o mesmo setor na cidade, já que a demanda por esses tipos de crime aumentou na região nos últimos anos.

Por fim, o delegado da Polícia Civil citou a existência de um posto policial localizado no Center Shopping, pronto para atender crimes cibernéticos. “A primeira providência a se fazer em caso de crime virtual é comparecer ao posto policial, lá existem investigadores que foram treinados para este tipo de ocorrência. Lá, eles vão fazer perguntas específicas e isso vai ser objeto de apuração da corporação. A partir disso, eles registram um Boletim de Ocorrência (BO)”.

Com o BO realizado, a polícia conta com a ajuda de corporações espalhadas pelo Brasil. Se um crime acontece em Uberlândia com um chip de São Paulo, por exemplo, cabe à Polícia Civil daquele estado auxiliar nas investigações. “É necessário tomar todas as cautelas possíveis e imaginárias. Na maioria das vezes, os golpes cibernéticos não têm remédio”, explicou.


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