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24/04/2022 às 14h00min - Atualizada em 24/04/2022 às 14h00min

Hospital Veterinário da UFU recebe primeiro IML de animais silvestres do país

Estrutura será utilizada pela Polícia Civil para investigação de possíveis maus-tratos a animais mortos em rodovias

SÍLVIO AZEVEDO
Objetivo é coibir maus-tratos, tráfico de animais e galos de rinha I Foto: DIVULGAÇÃO
A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) assinou um acordo de cooperação técnica com o Governo de Minas para a elaboração de laudos em animais que foram resgatados, com ou sem vida, nas rodovias que cortam Uberlândia. Com a novidade, o município passa a ter o segundo Instituto Médico Legal (IML) do país e o primeiro a atender, além dos animais domesticáveis, também espécies silvestres.
 
O acordo foi publicado no Diário Oficial do Governo de Minas em 6 de abril e tem validade de dois anos. A parceria possibilitará que a Polícia Civil utilize o IML Animal, que está inserido no Hospital Veterinário da UFU, para realização de exames de corpo delito, necrópsia, identificação de carcaça e ossada, entre outras ações.
 
A implantação do IML Animal na UFU foi uma inciativa do professor e responsável pelo setor de animais silvestres no Hospital Veterinário, Márcio Bandarra. De acordo com o docente, a parceria já vinha acontecendo desde agosto de 2021, mas somente agora foi oficializada pelo Governo do Estado.
 
“O acordo, verbalmente, existe desde agosto. A gente vem trabalhando a papelada, pois tem um monte de burocracia. O IML Animal vem com o intuito de ser o braço da Polícia Civil e do Estado no combate aos maus tratos dos animais. É claro que, quando falamos em crimes contra animais, vai desde o abuso, até o tráfico de animais. Ele veio para responder para a sociedade via polícia, via Ministério Público, que agora tem um laudo provando que há crimes, que animais são oriundos de tráfico, são galos de rinha, por exemplo”, explicou.
 
Desde o início dos trabalhos, o IML Animal já recebeu diversas demandas da polícia, como animais vítimas de maus-tratos, tráfico de animais via correio, galos de rinha, ocorrências de animais que sofreram danos em pet shop. “Esses casos vieram via Polícia. É feito o boletim de ocorrência, somos acionados para emitir um laudo e eles instauram, ou não, o inquérito”, disse Márcio Bandarra.
 
EXAMES TOXICOLÓGICOS
De acordo com o professor, nos casos de animais silvestres que chegam mortos ao IML, são colhidas amostras e enviadas para um laboratório toxicológico particular. Quando as carcaças são entregues pela concessionária, ela fica responsável por repassar o valor do exame. Quando são via entidades como Polícia Ambiental, Ibama, Instituto Estadual de Florestas (IEF), o valor sai do orçamento do Hospital Veterinário.
 
Através dessa parceria, descobriu-se que, de quatro felinos encontrados pela concessionária Eco050, pelo menos três dos animais mortos haviam sido envenenados. “Dos quatro animais que recebemos em quatro meses, duas onças pardas e duas jaguatiricas, três estavam envenenados, apenas uma onça não teve como determinar a causa. As jaguatiricas sequer foram atropeladas. Foram encontradas na beira da rodovia, mas sem sinal de atropelamento. A primeira onça estava sendo caçada, porque tinha projetil na pele, foi envenenada e foi atropelada somente porque estava envenenada”, explicou Marcio.
 
Os resultados dos exames toxicológicos, de acordo com o professor, identificaram a presença de derivados de cumarínicos, que são venenos de ratos, nos três animais. “Esse projeto com a ECO050 serve para quebrar esse paradigma de que animais em rodovias são só atropelados. Existe muita ação anterior a isso. Agora a gente tem começado a verificar com mais ênfase qual a região que foi encontrada, qual a mata que tem na região, porque esses animais são caçados por humanos. Como a gente sabe que isso é crime, não sabemos se as pessoas estão desovando na estrada, porque todo mundo dava como atropelado. E agora, com a Eco050 tentando entender esse porquê, vamos reduzir drasticamente esse número de animais atropelados, em si”.
 
Ainda de acordo com o professor, essa parceria poderá ajudar a identificar casos em que a caça ilegal, ou envenenamento intencional de animais silvestres, estejam sendo mascarados com chamados de atropelamento.
 
“Nesse início, o que a gente tem feito agora, a Eco é comunicada imediatamente e, a minha intenção, é levar isso até o conhecimento do Ministério Público Federal. Estamos falando em crimes federais. A ideia é fazer um compilado desses resultados e chegar ao MPF para ver o que podemos fazer para melhorar o combate desses crimes”, afirmou.
 
RODOVIAS
De acordo com a Eco050, que administra 436,6 km de concessão da BR-050, entre Delta (MG) e Cristalina (GO), o número de animais resgatados, ou afugentados, aumentou 24,5% entre 2020 e 2021, passando de 1.867 para 2.325. Em 2022, já foram 364 ocorrências.
 
O número de animais mortos recolhidos diminuiu, passando de 2.032 em 2020 para 1.996, em 2021. Esse ano, já foram encontradas 289 carcaças. Os números são de ocorrências com animais domésticos e silvestres, após acionamentos via 0800 940 0700 ou originadas do videomonitoramento realizado pelo Centro de Controle de Operações (CCO) da Eco050.
 
O coordenador de Sustentabilidade da Eco050, Emerson Machado, informou que as ações contra acidentes envolvendo animais silvestres e domesticáveis vão além das rodovias. “Precisa da conscientização do entorno e, a concessionária, por sua vez, ela atua de forma integrada na rodovia, nas ocorrências relacionadas com animais, tanto silvestres como domésticos, com uma rede de parceria. A região de Uberlândia é bem servida de instituições que atuam com fauna silvestre, para a gente fazer ações mais efetivas tanto de salvamento, quanto para a redução desses atropelamentos”, disse.
Segundo Emerson, caso os animais sejam encontrados feridos, são encaminhados para instituições como o Hospital Veterinário da UFU. Os que já estão sem vida, também são destinados para apara estudos científicos. 
 
“A carcaça é um material científico de grande valia. Tem várias restrições de animais silvestres que talvez podem não constar na literatura, na ciência. E através desses registros, das carcaças, em parceria com as universidades, é possível se obter dados e descrições inéditas desses animais, relacionados à anatomia, morfologia e até mesmo a ecologia desses animais. É um dado muito valioso. Então a gente tenta não perder nenhum”, disse.
 
O coordenador ainda deu dicas importantes para que os motoristas evitem se envolver em incidentes envolvendo animais nas rodovias. “No período crepuscular noturno é de grande atividade de mamíferos de grande porte aqui do cerrado. Então, a gente pede que se respeite a velocidade da via, pois ela pode, caso ocorra um princípio de ocorrência, permite que o motorista tenha tempo de reação. Então a atenção tem que ser redobrada”, orientou.
 
Outro ponto de atenção, segundo Emerson, está nas veredas à beira das estradas da nossa região. Ao trafegar pela rodovia e passar por estes pontos, principalmente no crepúsculo noturno ou comecinho da manhã, reduzir a velocidade desses pontos e redobrar a atenção porque é um ponto que pode ocorrer a travessia do animal silvestre.
 
“Em hipótese alguma a gente recomenta ao motorista a fazer a apreensão, captura ou afugentamento desse animal. Caso tenha que parar na rodovia, verifique a sua segurança antes de tentar parar e acionar o telefone da concessionária, que é o via 0800 940 0700”, disse Emerson.


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