Segundo Ceasa, 27 itens registram alta nos três primeiros meses do ano I Foto: PIXABAY
Quem foi ao supermercado ou ao sacolão nos últimos dias deve ter notado o aumento crescente do preço dos hortifrútis. De acordo com o último boletim divulgado pela Central de Abastecimento (Ceasa) de Uberlândia, 27 itens registram alta nos três primeiros meses do ano, com destaque para a cenoura, que teve uma elevação de 325% no valor do Kg. O encarecimento, de acordo com especialistas ouvidos pelo Diário, é reflexo da escalada do custo de insumos agrícolas e de fatores climáticos, como as fortes chuvas do início de 2022.
O levantamento da Ceasa comparou preços de 43 alimentos entre 4 de janeiro e 21 de março deste ano. No total, 16 itens recuaram no valor final e 27 apresentaram aumento. Além da cenoura, registraram alta: o quiabo (150%), a berinjela (133%), a pimenta bode (130%), a pimenta de cheiro (114%) e a melancia (100%). Esses foram os itens com maior elevação no período.
Na visão do economista Cesar Piorski, o cenário representa uma condição de choque de oferta. Em entrevista ao Diário, ele explicou que com as condições climáticas registradas desde julho de 2021, várias culturas foram afetadas e a colheita e distribuição dos alimentos ficaram comprometidas. Além disso, o custo de produção também aumentou e isso contribuiu ainda mais para a escalada de preços nos mercados.
“Não vejo esses aumentos como um movimento geral de preços. O choque de oferta aumenta ou diminui o fornecimento de uma mercadoria de maneira muito abrupta e isso pode acontecer por conta de geadas, chuvas, praga, seca, ou até mesmo no aumento de custo. Quando olhamos a elevação e a diminuição de alimentos, percebemos que essa mudança afeta o preço para o produtor rural e para o consumidor”, disse.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, segundo Piorski, também causa o aumento do valor das hortifrútis em Uberlândia. Ambos os países são grandes produtores e distribuidores de petróleo, grãos e fertilizantes. Dessa forma, o conflito tem impactado o mercado agropecuário mundial e não há remédio para isso, a não ser que o confronto acabe.
“[A guerra] impacta de maneira direta e indireta. Nós vamos sofrer as consequências enquanto esse conflito durar. A tendência é de que os preços continuem elevados. A cadeia produtiva agropecuária envolve muitos fatores e tudo isso se transforma em uma bola de neve. Se normalizar, pode ser que tenha uma estabilidade”, explicou o economista.
PRODUÇÃO AFETADA Em conversa com a reportagem, o gerente da Ceasa, Cláudio Rodrigues dos Santos, afirmou que os produtores rurais do Triângulo Mineiro têm sofrido com o aumento no custo de produção, algo que engloba a aquisição de fertilizantes, grãos, proteína animal e petróleo, além da desvalorização cambial que, em alguns casos, reflete no bolso do consumidor final.
Santos conta que um dos principais fatores para o aumento exacerbado de algumas frutas e verduras se deve à geada ocorrida em algumas regiões de Minas Gerais em julho de 2021. O impacto de outros fatores climáticos é sentido até hoje em todo o estado.
“Tivemos um frio muito intenso em julho, com uma forte geada que comprometeu muitas lavouras. Isso por si só já gerou uma queda brusca na produtividade. Depois, tivemos um calor forte e posteriormente um período chuvoso, que afetou muito as lavouras. Ainda por cima, temos os custos de insumos agrícolas, cuja maioria são importados e acompanham o dólar, isso gera muita dificuldade para o produtor rural”, explicou.
De acordo com o gerente da Ceasa, alguns fertilizantes utilizados em culturas de Uberlândia passaram de R$ 160 para R$ 300 em menos de um ano. A diminuição de área cultivada pelos produtores rurais também explica a menor produtividade de hortifrútis, uma vez que a oferta em mercados e sacolões passam a ser ainda menores.
“Os produtores não têm conseguido manter a regularidade de produção nas lavouras. Isso gera uma oferta mais retraída no mercado e, juntando tudo isso ao cenário em que vivemos hoje, de preços mais elevados, gera um valor alto para o bolso do cliente”, complementou Cláudio.
VARIAÇÕES DE PREÇOS:
Em queda (de janeiro a março de 2022) Limão tahiti (-53,8%) Banana-maçã (-50%) Banana prata (-50%) Banana marmelo (-44%) Abobrinha (-37,5%) Chuchu (-25%)
Em ascensão (de janeiro a março de 2022) Cenoura extra (325%) Moranga (183,3%) Quiabo (150%) Berinjela (133,3%) Pimenta bode (130%) Pimenta de cheiro (114,3%) Melancia (100%) Mamão (81,8%) Maçã (77,8%) Beterraba (60%) Tomate (50%)