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18/03/2022 às 18h08min - Atualizada em 18/03/2022 às 18h08min

Número de transplantes de órgãos e tecidos cresce 10% na região de Uberlândia em 2021

Mesmo com aumento, fila de espera em Minas Gerais tem mais de 5 mil pessoas; diretor da MG Transplantes afirma que pandemia afetou quantidade de procedimentos

SÍLVIO AZEVEDO
Douglas recebeu um rim em janeiro, depois de dois anos e meio de aguardo | Foto: Arquivo Pessoal
Segundo a MG Transplantes, órgão estadual que regulamenta os procedimentos no estado, a região Oeste da Central Estadual de Transplante, onde Uberlândia se situa, teve um aumento de 10% no número de transplantes em 2021 em relação ao ano de 2020, passando de 157 para 173. Contudo, o número era para ser maior, já que 5,8 mil pessoas ainda aguardam na fila em todo o estado de Minas Gerais. Um dos principais motivos para a grande espera é a pandemia da covid-19.

De acordo com o diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, a pandemia afetou diretamente a quantidade de transplantes realizados, principalmente nos dois primeiros meses de 2022, com a alta taxa de casos da variante Ômicron da covid-19.

“Janeiro e fevereiro foram meses muito ruins de doação de órgãos, pois teve muito doador que testou positivo para a covid-19, provavelmente pela cepa Ômicron, que se espalhou rapidamente”.

Durante o período, a fila por transplantes de córnea foi a que mais aumentou. Conforme dito por Omar, o procedimento de captação do tecido foi suspenso por determinação do Ministério da Saúde em razão da crise sanitária causada pelo coronavírus.

“Com isso a fila subiu muito. A gente só captava de doadores com morte encefálica para atender urgência. O transplante eletivo ficou suspenso, voltando somente no final de 2020, início de 2021. Então a fila começou cair, mas lentamente porque muitos doadores ainda dão positivo para covid e a doação precisa ser descartada”, complementou.

2022
Em 2022, até o fim de fevereiro, já foram realizados 27 transplantes na região Oeste, sendo dezesseis de córnea, seis de rim, dois de coração e três de fígado. O marceneiro Douglas Vieira Xavier, de 52 anos, foi um dos pacientes que receberam um transplante neste ano. 

Com dois anos e meio na fila para fazer o transplante de um rim, Douglas passava por vários procedimentos para tratar problemas renais. Foram oito meses de hemodiálise, até a tão aguardada cirurgia que aconteceu no dia 23 de janeiro, no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).

“Sábado (22) eu estava sentado vendo TV e o telefone tocou, era a menina da Central de Transplante. Me falaram que estavam fazendo a captação de um rim e eu era o primeiro da fila, e perguntou se eu queria fazer o transplante. Falei que sim, me fez perguntas e pediu para ver se me internava naquele dia ou no dia seguinte”.

No momento, foi hora de reunir a família e dividir a sensação de alívio e emoção. “Veio uma sensação assim, nossa, aconteceu. Aí já chamei minha mulher, minha filha e choramos um pouquinho. A sensação é estranha, muito boa, que nem tem como explicar. É uma coisa que você está esperando e vem do nada”

No domingo pela manhã, Douglas foi internado, fez os exames e aguardou a chegada do rim, doado por uma pessoa que faleceu na cidade de Uberaba. No dia 11 de fevereiro, Douglas recebeu alta e está se recuperando em casa e fazendo os acompanhamentos necessários. 

Segundo ele, falar sobre a doação de órgãos é muito importante para conscientizar as pessoas. “Cada dia é uma surpresa nova. Quer falar pra todo mundo que está bem, que está se alimentando bem, tomando muita água. São coisas que você quer expor para todo mundo. É uma sensação de viver de novo. Você nunca mais precisa fazer uma hemodiálise, volta a engordar, pega cor”.

TRANSPLANTES
Para a realização do transplante, há uma lista única do estado de Minas Gerais, sob a responsabilidade do MG Transplantes, em que são observados vários critérios como urgência, compatibilidade de grupo sanguíneo, compatibilidade anatômica (tamanho do órgão e do paciente), compatibilidade genética, idade do paciente, tempo de espera, dentre outros.

Para o diretor da instituição, é muito importante que as pessoas sejam favoráveis à doação dos órgãos ainda em vida. Além disso, caso sejam, é necessário comunicar à família sobre o desejo de ser doadoras.

Segundo as informações do MG Transplante, há três tipos de doadores: o doador em morte encefálica, o doador vivo e o doador de coração parado. O doador vivo é qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, sem comprometimento de sua saúde e aptidões vitais. Por lei, podem ser cônjuges e parentes até o quarto grau.

Os doadores vivos podem doar um dos rins, a medula óssea, uma parte do fígado e uma parte do pulmão. O potencial doador vivo também deve ser encaminhado a um centro transplantador para que se verifique as possibilidades do transplante. 

Em caso de doador falecido, a retirada de tecidos e órgãos depende da autorização do cônjuge ou parentes até o segundo grau, que são consultados após o diagnóstico de morte encefálica (parada total e irreversível do cérebro, atestado por diversos exames).

Quando o paciente está em quadro de morte encefálica, podem ser retirados todos os órgãos passíveis de doação. Com o coração parado é possível doar apenas as córneas, que podem ser retiradas em um prazo de até seis horas. 

Para entrar na lista de receptores de órgãos e transplante é preciso ser encaminhado por um médico para um dos centros transplantadores. O paciente é submetido a vários exames, que variam conforme o caso clínico, para que seja comprovada a necessidade do transplante.

 
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