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16/03/2022 às 18h08min - Atualizada em 16/03/2022 às 18h08min

Em pouco mais de dois meses, Uberlândia registra 178 casos prováveis de dengue

Número é quase 20% menor do que o registrado no mesmo período de 2021; período chuvoso liga alerta para a proliferação do mosquito Aedes aegypti

IGOR MARTINS
Infectologista alerta para cuidados e orientações sobre o vírus | Foto: RAUL SANTANA/FIOCRUZ
Comum durante o verão, o período chuvoso liga o alerta para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como a dengue, zika e chikungunya. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), Uberlândia tem 178 casos prováveis de dengue, registrados desde janeiro até o dia 9 de março deste ano. O número é quase 20% menor do que o registrado no mesmo período de 2021. 

Ainda de acordo com o órgão, as cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba que mais registraram casos prováveis da doença são Patos de Minas (204), Uberlândia (178) e Uberaba (174). Em todo o estado de Minas Gerais, são 23.193 notificações prováveis da enfermidade, com mais de 15 mil já confirmados. Além disso, oito óbitos foram contabilizados em decorrência do vírus, mas nenhuma morte foi notificada na cidade.

Os dados apresentados pela SES-MG apontam que Uberlândia teve uma queda de 19,4% na taxa de casos prováveis de dengue. No mesmo período do ano passado, o município tinha 221 notificações suspeitas da doença. De acordo com Silvia Nunes Szente Fonseca, infectologista e pediatra, é preciso seguir com os cuidados necessários para diminuir a circulação do mosquito.

“Nessa época há muita chuva. O Aedes aegypti precisa de um pouquinho de água parada para colocar seus ovos. O mosquito da dengue se adaptou muito bem às cidades e grandes centros. É preciso tomar cuidado e ficar de olho no quintal, na varanda, na piscina. Uma tampa de garrafa pet que ficar virada para cima e tiver água pode ser um local para a proliferação do mosquito”, explicou.

Para a profissional da área de saúde, é importante que a população se conscientize sobre os perigos das doenças transmitidas pelo mosquito. Segundo ela, a prevenção deve acontecer de maneira metódica, no dia a dia da população. Ela explica que uma vez que o Aedes aegypti se adapta a um ambiente, é praticamente impossível pará-lo.

“É necessário ficar de olho até mesmo no pote de água dos animais domésticos, por isso é importante lavá-lo constantemente. Nosso maior trabalho enquanto cidadão é tentar diminuir a população dos mosquitos. A pessoa pode até usar repelente, mas as pessoas esquecem que podem ser picadas pelo mosquito dentro de casa. O Aedes aegypti não é como o pernilongo, que faz aquele barulhinho. É um mosquito muito insistente e a picada não dói, por isso fica difícil controla-lo”, detalhou.

SINTOMAS
De acordo com Silvia, a dengue normalmente começa com febre alta, dor atrás dos olhos, dor de cabeça e vermelhidão pelo corpo. Ela conta que a pessoa infectada pode ter ainda dor de barriga e vômito. Um dos maiores problemas causados pela doença, segundo ela, é a desidratação.

Conforme dito pela infectologista, é importante se hidratar com água, soro ou até mesmo bebidas isotônicas, já que são ricas em sais minerais. “Muitas vezes nós enxergamos a desidratação, por meio do suor e do vômito. Mas a desidratação interna pode ser um problema, porque apesar de não vermos, ela afeta o coração e principalmente os rins. Se a pessoa não repuser, a dengue pode caminhar para formas graves”, alerta a médica.

Ainda de acordo com Silvia Nunes, muitas pessoas confundem os sintomas de dengue com gripe e covid-19. Ela explica que qualquer doença de sintomas respiratórios elimina a possibilidade de ter sido contaminado pelo mosquito da dengue.

“A gripe começa com sintomas respiratórios clássicos, como o nariz escorrendo, espirro, tosse e dores de garganta. A covid tem a falta de ar além de todos esses citados. A dengue pode dar falta de ar quando ela está em estágios avançados, mas com um mecanismo diferente. Não é o pulmão que está sendo atacado, é bem diferente”.

Apesar da queda no número de casos prováveis de dengue em Uberlândia, a profissional acredita na subnotificação de casos, especialmente por conta da variante ômicron, que aumentou significativamente a notificação de casos positivos para a covid-19 na cidade.

“Nós não tivemos grandes epidemias de dengue recentemente, mas pode até ter tido morte por dengue e não ter havido essa percepção, muita gente tem a doença e são poucas as que têm casos graves. As pessoas não querem sair e se expor por conta das variantes, especialmente as dos grupos de risco. Não acho que temos muita ideia da gravidade da dengue”, disse Silvia.

VACINA
Lançada oficialmente em 2015, a vacina da dengue chegou com o objetivo de controlar a enfermidade e garantir a saúde da população. Entretanto, a especificidade dos grupos contemplados e a não-disponibilização do imunizante na rede pública de saúde fazem com que a vacinação não seja amplamente divulgada.

De acordo com Silvia, apesar de bom, o imunizante contra a dengue não é prático. Segundo ela, só podem receber a vacina pessoas entre nove e 40 anos. Além disso, é necessário que a pessoa tenha tido dengue ao menos uma vez. “São necessárias três doses e o intervalo entre cada uma é de seis meses. Ou seja, é praticamente um ano e meio para ficar totalmente imunizado e a pessoa ainda precisa estar inserida nesse contexto de já ter sido infectada”.

Na visão da infectologista, estes fatores contribuem para o fato de a vacina não ser tão comentada, mesmo nos períodos de maior proliferação do mosquito da dengue. “É curioso que as pessoas que mais morrem de dengue não estão contempladas. É uma vacina intramuscular e que possui um grupo muito pequeno, e por isso muitas coisas vão contra ela. Estamos torcendo para que outra vacina apareça”, falou Silvia.

DADOS
No início desse ano, a produção do Diário solicitou à Prefeitura de Uberlândia dados de casos das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti na cidade. Confira abaixo: 

Casos confirmados de dengue por ano: 
- 2020: 1.988
- 2021: 701

Casos confirmados de chigungunya por ano: 
- 2020: 5
- 2021: 3

Casos confirmados de zika por ano: 
- 2020: 0
- 2021: 0

"UDI SEM DENGUE"
O aplicativo “Udi sem Dengue” da Prefeitura de Uberlândia foi lançado em 2019. Por meio do aplicativo, a população pode enviar fotos, vídeos e mensagens de texto ou voz alertando as equipes do Programa de Controle da Dengue, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) sobre possíveis criadouros do mosquito.

O “Udi sem Dengue” também auxilia os agentes no combate ao mosquito, já que o aplicativo funciona como um gerenciador, monitorando mais de 900 ovitrampas (armadilhas que permitem o rastreamento do mosquito) distribuídas na cidade, bem como as piscinas e reservatórios cadastrados para a inserção do peixe lebiste.

Para utilizar o aplicativo, é necessário baixar por meio da loja de aplicativos do seu celular. Depois disso, basta inserir o CPF, dados pessoais e cadastrar. Um código será enviado para verificar o cadastro. No app, o usuário consegue saber informações, solicitações, casos de suspeita de dengue, zoonoses, notícias e fale conosco.

CUIDADOS E ORIENTAÇÕES
A Secretaria de Estado de Saúde orienta os moradores sobre o combate ao mosquito. Eliminar os focos de reprodução é a principal maneira de diminuir a incidência dessas doenças. Algumas atitudes são:

• Lixeiras sempre tampadas;
• Quintal sem lixo e entulhos, garrafas e baldes de cabeça para baixo;
• Reservatórios de água do ar-condicionado, geladeira e umidificador secos e vazios;
• Ralos limpos e com aplicação de tela;
• Não usar pratinhos que acumulam água para vasos de planta;
• Pote para água de animais limpos com bucha ou escova;
• Canaletas e calhas limpas;
• Manutenção periódica de piscinas e caixas d’água;
• Babosa e outras plantas que acumulam água em local coberto.
• Lonas bem esticadas, evitando formação de poças d’água;
• Não utilize garrafas pet com gotejador em plantas que tenham aberturas que o mosquito possa entrar para colocar ovos.

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