Presidente da Unidos do Chatão disse que estão planejadas atividades durante todo o ano de 2022 | Foto: Arquivo Pessoal O recurso de R$ 1 milhão, que foi aprovado em novembro pela Câmara Municipal para ser destinado às cinco escolas de samba de Uberlândia, será pago de forma parcelada e só deve ser utilizado na estruturação dos desfiles em 2023. A informação foi repassada pela secretária municipal de Cultura e Turismo, Mônica Debs, esclarecendo que o valor, que é de origem da Secretaria, será encaminhado trimestralmente às agremiações durante o ano de 2022 para que elas possam se reestruturar.
De acordo com a secretária, a verba foi acertada em conversa com as escolas de samba para possibilitar uma preparação para o retorno dos desfiles, que não acontecem desde 2017. A realização dos eventos em fevereiro de 2022 com recursos da Prefeitura foi descartada pela Prefeitura.
“Com isso possibilitaremos o resgate, dentro dos novos moldes, do samba na nossa cidade, respeitando o que já existe, resgataremos as pessoas que vivem e apoiam esse tipo de carnaval, trazendo qualidade, melhoria, profissionalismo e, trabalhando com essas comunidades a forma como o carnaval tem que ser, não ao longo de três meses, fazendo um carnaval de sufoco, mas ao longo de 10 meses construindo um novo carnaval na nossa cidade”, disse a Secretária.
Mônica Debs esclareceu ainda que o recurso será liberado mediante o acompanhamento de técnicos da secretaria, que vão acompanhar a aplicação da verba. “O trabalho será acompanhado por cinco técnicos da secretaria, que trabalharão junto com cada comunidade onde serão desenvolvidos trabalhos dentro da economia criativa do samba, como a confecção de fantasias, elaboração, roteiros, coreografias, confecção de sapatos, alegorias, enredos, trabalhar a construção de instrumentos, trazendo com isso, uma comunidade real do carnaval, gerando possibilidade de renda e futuras profissões para essa comunidade”, destacou.
CONFUSÃO
Apesar do esclarecimento feito pela secretária de Cultura e Turismo de que a verba só deve ser utilizada pelas escolas para organização dos desfiles a serem realizados em 2023, o texto que compõe o projeto, que é de autoria do Executivo, e foi encaminhado para votação na Câmara Municipal de Uberlândia, abre possibilidade para uma segunda interpretação.
O Diário teve acesso à justificativa do projeto, que foi votado e aprovado pelos vereadores de Uberlândia. Ao fazer a defesa do recurso, a Secretaria faz uma referência ao “Desfile de Carnaval de 2022” e não 2023, conforme foi esclarecido posteriormente por Mônica Debs.
Confira o trecho abaixo:
“As escolas de samba a serem contempladas com a transferência de recursos para a realização do Desfile de Carnaval de 2022 detêm consagrado notório conhecimento e experiência sobre a tradição carnavalesca da municipalidade, sendo de relevante interesse público as atividades que têm sido prestadas à comunidade local”, informa o texto do projeto.
O Diário de Uberlândia procurou a Prefeitura para esclarecer a respeito do trecho citado na justificativa do projeto, que difere da fala apresentada pela secretária de Cultura e Turismo. Por meio de nota, o Município informou que a Lei em questão é de caráter autorizativo.
Disse ainda que, com a aprovação na Câmara Municipal, cabe ao município determinar as condições para que os repasses sejam feitos e como o recurso pode ser utilizado. Sendo assim, foi estabelecido pela Prefeitura de Uberlândia, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, que o montante seja utilizado para a reestruturação das escolas de samba, visando a execução dos desfiles das escolas de samba apenas em 2023, sempre observando a situação sanitária diante da pandemia.
AGREMIAÇÕES
A reportagem do Diário também procurou os representantes das agremiações que atuam no Carnaval de Uberlândia para comentar sobre como deve ser feita a aplicação do recurso por cada uma delas.
“Temos um plano de trabalho para cada uma das quatro parcelas de R$ 50 mil que serão repassadas. A primeira será com oficinas junto à comunidade, tais como fabricação de instrumentos, costura, percussão, coreografia, mestre sala e porta bandeira, e compras de matéria pra desenvolvimento do enredo pra o carnaval de 2023, que levará 3 carros alegórico 15 alas no total de 400 componentes”, explicou Marco Aurélio Eustáquio, que é presidente da escola de samba Garras de Águia e também da Assossamba.
Na escola Tabajara, o presidente Luciano Moicano disse que com o parcelamento da verba em um ano, as escolas terão, pela primeira vez, a possibilidade real de planejar e transformar o evento que já estava precisando de uma reformulação, há algum tempo, principalmente depois de levá-lo para os arredores do Parque do Sabiá.
“Na Tabajara iremos priorizar a reestruturação dos carros alegóricos, oficinas de alegorias e adereços, entre outros. Isso com a primeira parcela. Precisamos de comprar instrumentos musicais também, mas ainda não sabemos se essa primeira parcela será suficiente para tudo isso. Temos um show programado para fevereiro de 2022, além de trazer nosso folião de volta, queremos reforçar nosso caixa, pois a produção de um desfile para 500 pessoas requer muito planejamento e recursos”.
Luciano lembrou que o repasse é importante pois beneficia toda uma cadeia produtiva que envolve o evento do carnaval dentro das comunidades.
“Trabalhamos com costureiras comunitárias, ferragistas e aderecistas da comunidade. Geralmente priorizando os cidadãos dessas comunidades que estão desempregados e vulneráveis. Nesse caso, sabemos que o evento pode oferecer uma renda temporária para amenizar essas dificuldades. Existe uma parcela muito grande de pessoas em nossas escolas que precisam de muito apoio. Quando podemos utilizar uma parte da verba pública para associar a cultura carnavalesca com as necessidades sociais dos nossos foliões, estamos cumprindo uma função social, além da artística e Cultural”.
Essa é a linha que segue Antônio Marcos, o Marquinho, presidente da Unidos do Chatão, que disse que estão planejadas atividades durante todo o ano de 2022.
“Teremos atividades para reestabelecer e buscar as pessoas que se fastaram devido à paralisação do carnaval. Agora vai fazer um formato diferente e trazer a comunidade para dentro das nossas escolas de samba. É um momento diferente, de valorização, de reestruturação, um conjunto. É um recurso que não será revertido nada além do carnaval, da cultura, da alegria e tenho certeza de que as cinco escolas de samba estarão organizadas e faremos um carnaval muito bonito em 2023, se estiver tudo reestabelecido, tudo normal”.
Marquinho reforçou o ganho social que o carnaval proporciona para todas as comunidades envolvidas com a festa e o repasse servirá para fomentar ainda mais essa paixão.
“Na Unidos do Chatão temos nossa quadra, barracão de ensaio, e vamos fazer atividades o ano inteiro, tanto de oficina para ensinar, dentro do contexto do carnaval, percussão, confecção de instrumento, costura, serralheria voltada para a confecção dos carros alegóricos quanto para as fantasias também. Esse dinheiro será investido no carnaval. Foi muito sensível, grato, pela posição da secretaria de Cultura. E uma situação que nunca foi feita em Uberlândia”, disse.