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22/10/2021 às 14h00min - Atualizada em 22/10/2021 às 14h00min

Relatos sobre sequelas neurológicas pós-covid crescem nos últimos meses, aponta especialista

Segundo o profissional de Uberlândia, gravidade da doença, tempo de internação e psicopatologias podem afetar saúde cerebral

GABRIELE LEÃO
Centro Vida atende pacientes que foram diagnosticados com covid-19 e a precisam de cuidados contínuos | DIVULGAÇÃO/PMU
Os efeitos colaterais causados pelo novo coronavírus têm intrigado a comunidade científica. Sequelas neurológicas, como perda de memória recente e dificuldade de concentração, são observadas em diversos casos e podem durar por meses após a infecção. Em Uberlândia, um casal, que preferiu não se identificar, ainda se recupera das sequelas da covid-19 após seis do diagnóstico positivo. Neurologista da cidade diz que queixas sobre sequelas neurológicas cresceram nos últimos meses.

O administrador de empresas, de 55 anos, e a esposa, de 52, tiveram a doença em março deste ano. Segundo o entrevistado, alguns dias depois que um parente testou positivo para o coronavírus, ele e companheira começaram a sentir os primeiros sintomas, dores de cabeça, febre, náuseas e diarreia.

“Os primeiros dias foram tranquilos, como uma gripe, mas com o passar do tempo, os sintomas começaram a ficar mais fortes. Logo perdi o olfato, o paladar e comecei a ter dificuldades para me alimentar, só conseguia ingerir líquidos, e mesmo assim, não era suficiente”, comentou o administrador.

Afastado das atividades de trabalho por causa da quarentena, o administrador precisou lidar também com o quadro de saúde da companheira. Fora do período de contágio, o marido começou a perceber a piora do quadro de saúde mental da esposa.

“Um dia antes de voltar ao trabalho, percebi que ela estava mais ansiosa e até mesmo agitada. Depois de encerrado o expediente do primeiro dia, começou o surto mental. Minha esposa começou a alucinar, pensando que alguém estaria a perseguindo, que teriam câmeras filmando a nossa vida dentro de casa e com medo de sair na rua. Como ela já era acompanhada por um psiquiatra, marcamos uma consulta de avaliação”, comentou.

A mulher ficou 10 dias internada na ala psiquiátrica e precisou de acompanhamento profissional. “Seis meses depois ela está melhor, mas teve sequelas que, segundo o médico, foram acionadas pela Covid-19. Além da perda de memória, perda de peso, síndrome do pânico e dificuldade de raciocínio, minha esposa está afastada do trabalho e deve continuar o tratamento por mais quatro meses, mas mesmo assim não temos garantias de uma vida normal”, comentou.

O médico neurologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Diogo Fernandes, contou que esses tipos de casos, que envolvem perda de memória, confusão e dificuldades de assimilação, pós-covid-19 cresceu nos últimos meses.

O médico comentou que a doença pode comprometer o sistema neurológico, assim como o sistema nervoso e muscular, e isso aumenta o risco de algumas doenças neurológicas, como fenômenos vasculares cerebrais.

“Na medicina temos diversas situações. Além das sequelas apresentadas pelo coronavírus serem novas, temos diversos fatores que influenciam no aparecimento de sintomas, como o tempo de intubação, se o paciente ficou na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) por muito tempo, ou se apresentou apenas sintomas leves. Todos os casos precisam ser estudados de modo aprofundado, principalmente os que apresentam perda de memória, motora, ou psíquica, como depressão, ansiedade ou insônia”, explicou.

Diogo Fernandes ainda comentou que existem diversos pacientes que saem do quadro da doença com falta de nutrientes e vitaminas, e precisam se submeter a tratamento com remédios e terapias para conseguir voltar à saúde neurológica.

“O que é necessário fazer, em pacientes que tiveram covid-19 ou não, é procurar o médico assim que perceber essas dificuldades, como perda de memória, dificuldades em realizar atividades corriqueiras ou quando se sentir deprimido”, finalizou.

CENTRO VIDA
Em Uberlândia, o Centro Vida, Programa Municipal de Reabilitação em Saúde, atende pacientes que foram diagnosticados com Covid-19, ficaram internados, e agora precisam de cuidados contínuos.
A equipe do Centro Vida é formada por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistente social, psicólogos, médicos e enfermeiros que oferecem  um acompanhamento completo para que o paciente recupere a saúde, a reinserção social e tenha qualidade de vida. O setor que realiza a dispensação de equipamentos de oxigenoterapia e ventilação mecânica não invasiva também fará parte do Centro Vida para facilitar o acesso às famílias e aos pacientes.

A equipe médica da unidade hospitalar que acompanhou o paciente é responsável por direcionar para a reabilitação no Centro, localizado no centro de Uberlândia, na avenida Rio Branco, nº 49. O local funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h.

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