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26/09/2021 às 11h00min - Atualizada em 26/09/2021 às 11h00min

Famílias de Uberlândia relatam dificuldades em ter acesso a tratamento a base de canabidiol

Tratamento atua no sistema nervoso central, e que apresenta potencial terapêutico para o tratamento de doenças psiquiátricas e neurodegenerativas

GABRIELE LEÃO
Monaliza Dias, o marido e os filhos, Miguel de sete anos e Théo de um ano | ACERVO PESSOAL
O canabidiol, conhecido popularmente como CBD, é uma substância extraída da planta Cannabis, que atua no sistema nervoso central, e que apresenta potencial terapêutico para o tratamento de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia ou ansiedade, por exemplo. Em Uberlândia, famílias relatam a dificuldade burocrática para ter acesso aos tratamentos a base da substância.

Nathália Andrade é mãe do pequeno Lorenzo de um ano e um mês. A enfermeira descobriu com 32 semanas de gestação que algo estava errado com a saúde do filho. Lorenzo foi diagnosticado aos oito meses com síndrome de West, microcefalia e paralisia cerebral.
A mãe, que teve Zyka vírus na gestação, passou por um longo processo de investigação até receber o diagnóstico completo.  

“Receber o diagnóstico foi algo muito difícil, e só descobrimos de fato recentemente quais eram as patologias do meu filho. Então começamos a buscar terapias para ajudar no desenvolvimento e qualidade de vida dele. Há cerca de três meses entramos com o pedido judicial para o uso do canabidiol, no caso para pegar a substância de terceiros que também são autorizados pela justiça, para fazer o plantio. O Lorenzo já está fazendo o uso do medicamento e tem mostrado resultados positivos”, comentou.

Ela ainda contou que a criança também faz o uso de outros medicamentos e teve muitas complicações. “Ele faz o uso de corticoides e teve todas as reações possíveis, desde de intestino preso, até crises de choro. Com o canabidiol percebemos que ele está mais interativo e tem ajudado no desenvolvimento dele”, conta.
A criança também faz terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudióloga, musicoterapia e fisio equoterapia. Mas a luta da enfermeira é constante e para conseguir associar a rotina com o marido e o outro filho de 8 anos, ela precisou sair do trabalho e passou a ser mãe em tempo integral.

“Falta muita empatia das pessoas para lidar com essa situação e o que temos de informações também são limitadas. Só consegui entender a patologia do Lorenzo buscando informações na internet e em grupo de apoio com outras mães. Além disso, temos uma lua constante para conseguir acesso as terapias necessárias.
A realidade da maquiadora e produtora de fotos, Monaliza Dias não é diferente. Miguel, o filho mais velho de sete anos foi diagnosticado aos três meses com síndrome de West e paralisia cerebral. Monaliza, que na época era graduanda em Direito, escreveu um projeto de conclusão de curso para solicitar o uso do medicamento para o filho.

A mãe entrou na justiça em 2016, mas apenas dois anos depois recebeu o aval para importar o medicamento para o tratamento de Miguel. “Foi um processo muito burocrático e demorado e agora ele tem acesso ao medicamento, financiado pela União. A cada seis meses pegamos a receita com o médico e fazemos o pedido nas farmácias autorizadas no Brasil para que ele receba o medicamento. Há três meses entramos com um novo pedido e estamos aguardando o remédio”, comentou.
A maquiadora trabalha como autônoma para complementar a renda, já que saiu do trabalho fixo para cuidar das terapias do filho, e do caçula de um ano. “Não recebemos auxilio do Governo e precisamos arcar com as despesas do dia a dia. Hoje o Miguel não está em nenhuma terapia por conta da pandemia, pois ele é do grupo de risco, mas com a diminuição do contágio por covid-19, devemos voltar em breve”, comentou.

PROCESSO LONGO
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) criou uma categoria de medicamentos derivados da Cannabis que podem ser comercializados após aprovação da Agência. Estes remédios estão indicados principalmente nos casos em que outras formas de tratamento não estão demonstrando o efeito pretendido e a venda é feita com apresentação de receita médica de controle especial.

O advogado Victor Monteiro Gonçalves é responsável por um caso no município onde a família entrou com o processo judicial para o uso do canabidiol. O advogado contou sobre o processo judicial brasileiro para ter acesso ao tratamento.

“O processo no Brasil, além de ser muito burocrático tem custo muito alto. Normalmente as famílias precisam de uma receita médica indicando o tratamento com o canabidiol com a justificativa do médico para a terapia. Esse tratamento é realizado em último caso e a Anvisa pode autorizar a importação de produtos derivados de Cannabis para o tratamento, normalmente dos Estados Unidos, mas ainda é um processo burocrático e extremamente caro, chegando a mais de R$ 52 mil por ano”, comentou o Victor Monteiro.


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