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02/09/2021 às 18h28min - Atualizada em 02/09/2021 às 18h28min

Pesquisadores da UFU descobrem benefícios do kefir na prevenção do Alzheimer

Estudos foram feitos em moscas transgênicas com pedaços de DNA humano

LORENA BARBOSA
Testes foram feitos em moscas-das-frutas | TÁRIKA GONÇALVES DO CARMO OLIVEIRA
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 70% dos casos de demência são causados por Alzheimer. A doença, que atinge principalmente idosos, pode acarretar uma perda motora-cognitiva que torna o paciente completamente dependente de um cuidador. Pensando em diminuir os impactos, pesquisadores do Instituto de Biotecnologia (IBTEC) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) testaram a utilização do kefir, um probiótico muito utilizado para fermentação de bebidas, para a prevenção da doença.
 
O diretor do IBTEC, professor Carlos Ueira Vieira, explica que os testes com o probiótico foram feitos em moscas-das-frutas com pedaços de DNA humano. O kefir é um produto alimentar que contém micro-organismos que trazem muitos benefícios à saúde. Ao fermentar o leite e criar uma espécie de iogurte, esses diferentes micro-organismos produzem centenas de moléculas diferentes, e os pesquisadores da UFU foram pioneiros em identificar essas moléculas.
 
A escolha das moscas como cobaias se deu pelo fato dela ter um ciclo de vida curto, ter baixo custo de manutenção e produzir grande número de indivíduos. De acordo com o professor, outro fato que contribuiu para o uso dos invertebrados é que o conjunto de DNA presente nas células da mosca-das-frutas tem 60% de semelhança com genoma humano e aproximadamente 75% dos genes responsáveis por doenças humanas também têm um correspondente nelas.
 
“O que a pesquisa traz de inovação é o uso das moscas humanizadas. A gente pode fazer experimentos utilizando seres humanos, ou camundongos, que são muito caros. As moscas foram criadas por engenharia genética para desenvolver Alzheimer. São moscas transgênicas. Ela nasce sem a doença e demora cerca de 10 dias para desenvolver os primeiros sintomas. A gente via que o kefir retardava o desenvolvimento dos sintomas, então o tratamento foi preventivo”, contou o pesquisador.
 
Durante a pesquisa, o kefir foi utilizado em duas formas: in natura, como iogurte, e também como fonte de novas moléculas. Como resultado, os pesquisadores viram que o kefir em iogurte é benéfico para o modelo, melhorando a capacidade motora das moscas e diminuindo a presença de neurodegeneração, o que aumenta a sobrevida delas. Contudo, as moléculas isoladas do kefir conseguiram gerar resultados ainda mais eficazes.
 
“A gente primeiro testou o produto ‘in natura’, aí a gente pensou: se separar o micro-organismo do kefir, será que ele tem efeito anti-alzheimer? Então a gente descobriu que alguma coisa que é produzida nos micro-organismos do kefir gera um produto que é anti-alzheimer”, explicou o professor.
 
Os estudos foram conduzidos pelo professor Carlos Ueira Vieira e pela biotecnóloga Letícia Leandro Batista, que começou a pesquisa durante a graduação e terminou durante o mestrado. O material foi publicado em maio deste ano na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
 
Os pesquisadores fizeram ainda uma parceria com outros cientistas da UFU e de fora da universidade, como do Instituto do Coração de São Paulo (InCor) e da Harvard Medical School. Isso foi crucial para utilizarem várias técnicas diferentes no trabalho e encontrarem a melhor forma de testar o tratamento.
 
“É um logo passo depois que a gente publica esse primeiro artigo. Conseguimos identificar alguns compostos. Temos a quantidade deles na amostra de kefir e estamos trabalhando com eles de forma isolada para virar, quem sabe, um comprimido”, concluiu o diretor do IBTEC, Carlos Ueira Vieira.

 

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