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12/08/2021 às 11h40min - Atualizada em 12/08/2021 às 11h40min

Casos de síndrome respiratória em crianças crescem 34% em 2020

Pesquisadores da UFU acreditam que aumento está relacionado a subnotificações da Covid-19; pediatra fala sobre importância da testagem em crianças

LORENA BARBOSA
O estudo ajuda a reforçar o contexto da doença no país e a importância dos sistemas de notificação de dados I Foto: Divulgação
Alunos do curso de medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desenvolveram um estudo sobre análises de internações de crianças com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) durante a pandemia. O objetivo do trabalho foi comparar as complicações e os sintomas desenvolvidos por enfermos com até 13 anos em 2020, em relação aos dois anos anteriores. A síndrome pode ser uma das evoluções da Covid-19 e o trabalho destaca a importância das notificações de casos envolvendo pacientes pediátricos, principalmente durante a pandemia.

De acordo com dados da Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde (IVIS) do Ministério da Saúde, em 2018 foram registrados 13.011 casos de crianças com a SRAG e, em 2019 foram 14.384. Em 2020, houve uma quantidade bem maior de registros, foram 19.330. A cada 100 crianças com a síndrome respiratória grave, cerca de 13 testaram positivo para o coronavírus.

O pediatra Douglas Lopes percebeu o aumento de crianças com sintomas gripais nos atendimentos de pronto-socorro. No dia a dia de trabalho ele sente também uma certa resistência dos pais na hora de fazer a coleta para a realização do exame PCR. "Por ser um exame invasivo. Às vezes eles preferem só isolar a criança pelos 14 dias", contou o médico.

William Turazza, um dos estudantes responsáveis pelo artigo, explica que a SRAG é uma inflamação que ataca o pulmão, causada por diversos vírus que agridem o sistema respiratório. Normalmente o que causa esse tipo de sintomas são doenças infecciosas, quase sempre pulmonares, como pneumonias, sejam elas causadas por vírus ou bactérias, entre elas a Covid-19.

Ainda em relação a 2020, foram analisados 51.819 casos de pacientes pediátricos. A maioria deles evoluiu para alta médica, mas aproximadamente 1800 morreram. De acordo com o estudo, a letalidade dos pacientes pediátricos com SRAG diagnosticados com Covid-19 é maior.

Além da resistência dos pais citadas pelo pediatra, os pesquisadores acreditam também na subnotificação do número de casos da doença devido à falta de testes e demora dos resultados no início da pandemia. Além disso, crianças, por apresentarem menos sintomas, muitas vezes são infectadas e não recebem o diagnóstico. “Pode ter acontecido do paciente testar positivo para a Covid-19 e ter sido tratado adequadamente, mas não ter sido notificado na base de dados”, explica Turazza.

O médico pediatra Douglas Lopes destacou ainda que a orientação para os pais é sempre observar a evolução do quadro da doença. Sintomas como, falta de ar, manchas na pele, inapetência, que é quando a criança fica mais quietinha, não quer comer, dor abdominal. Ele explica também sobre a importância do exame.

"Sempre fazer o exame, a gente vê a resistência da família. Mas o pedido sempre é feito e a orientação sempre é dada para que o exame seja feito na criança. Até para fins estatísticos", concluiu Lopes.
O trabalho dos estudantes de medicina ajuda a reforçar o contexto da doença no país e a importância dos sistemas de notificação de dados e o uso adequado deles. Dados confiáveis ajudam a criação de políticas públicas direcionadas para o combate da Covid-19 e são importantes, não somente em época de pandemia, mas também para todos os assuntos relacionados à saúde.

O artigo foi desenvolvido pelos alunos do curso de medicina da UFU, Maria Fernanda Rosa, William Turazza, Thaís Baccega e Isadora Castro, orientados pelo professor Stefan Vilges, do Departamento de Saúde Coletiva, e publicado na Revista de Pediatria SOPERJ.

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