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30/05/2021 às 12h00min - Atualizada em 30/05/2021 às 12h00min

Uruguaia viaja quase 1.400 km para encontrar cachorro perdido

Ruth Ruiz, que mora em Santa Catarina, voltou a Uberlândia para tentar informações sobre o animal

NILSON BRAZ
Ruth chegou a contratar carro de som para tentar encontrar o Charlie | Foto: Arquivo Pessoal

Depois de quase cinco meses de busca, contatos pela internet e por telefone, a uruguaia Ruth Selena Melendrez Ruiz pode voltar para casa acompanhada do Charlie. Um cão, sem raça definida, com as características do famoso “vira-latas caramelo”, como são carinhosamente chamados na internet, que acabou desaparecendo em Uberlândia depois de muitos contratempos.

 

A história de Ruth com o Charlie começou no ano de 2016, quando ela e uma das filhas resolveram adotar um animal em uma feira de animais da Associação de Proteção Animal (APA) de Uberlândia. A mulher conta que, inicialmente, a ideia dela era levar um gatinho para casa, mas por insistência da filha, adoram o Charlie. Um cão de porte médio, dócil e carinhoso, que acabou se tornando o ‘xodó’ da uruguaia.

 

SEPARAÇÃO

Em 2018 Ruth precisou se ausentar. Voltou ao país de origem para cuidar da sogra que estava passando por problemas de saúde. Sem condições de levar o animal, ela deixou o Charlie aos cuidados da filha, em Uberlândia.

 

Um ano depois, de volta ao Brasil, Ruth passou a morar no estado de Santa Catarina, em uma cidade serrana chamada Alfredo Wagner. Local onde vivia desde antes de se mudar para Uberlândia. Assim que as restrições de viagens causadas pela pandemia do coronavírus foram sendo flexibilizadas, a filha de Ruth também voltou para Santa Catarina, mas sem o cachorro.

 

“A minha filha não pegou amor pelo Charlie. Ela que adotou, mas quem criava, quem dava banho, comida, quem ia passear com ele, quem cuidava era eu. Então eu peguei amor por ele. Sem me avisar, ela deixou ele em uma casa no bairro Santa Mônica por mais ou menos uns cinco meses, e quando foi buscar ele não estava mais lá. Eu só conseguia pensar que ele estaria na rua. Foi quando comecei a buscar por ele”, disse a uruguaia.

 

BUSCAS

A partir dessa informação, Ruth procurou informações dessa família, já que um dos moradores da casa teve um relacionamento com outra filha dela no passado. Conversou com vários dos integrantes da família e descobriu que eles tinham se mudado e que, durante o processo, o Charlie, que escapava para a rua quando tinha a oportunidade, acabou se perdendo.

 

No início deste ano, pelas redes sociais e por telefone, Ruth acionou protetoras de animais de Uberlândia e tentou, de todas as formas possíveis, ter informações do animal. Mas limitada pela distância, decidiu enviar um dos filhos de volta para Uberlândia para buscar mais detalhes.

 

“Já era abril quando mandei o meu filho. Porque pelas redes sociais eu fiz bastante coisa. A cidade inteira estava procurando o Charlie, todas as protetoras estavam sabendo, eu coloquei em todos os grupos de cachorro da cidade. Coloquei um carro de som, pedi para colocar a minha voz no fim da mensagem, mas não conseguimos encontrar. Comecei a desmoronar de pensar que ele estava morto, que tivesse sido atropelado”, afirmou Ruth.

 

Em Uberlândia, o filho da Ruth conseguiu descobrir que os responsáveis por uma obra, que ficava próxima à casa onde o Charlie ficou e acabou se perdendo, teriam resgatado o cachorro. Mas, desconfiados e arredios, os homens não quiseram passar mais informações sobre o paradeiro do animal. Com esta nova pista, a própria Ruth resolveu vir à cidade e tentar, pessoalmente, encontrar o bicho de estimação.

 

Depois de muita insistência, ela conseguiu com que um dos rapazes dissesse que o cachorro estava em uma região de chácaras, em Uberlândia. Mas, quando chegou ao local e percebeu que se tratava de uma região muito grande, a mulher, mais uma vez, quase perdeu as esperanças. 

 

“Eu não ia perder nada em tentar mais uma vez. Eu mandei uma mensagem de texto, porque eu não conseguia falar. Eu só chorava. Eu abri meu coração para o rapaz, eu expliquei que eu não tinha abandonado o cachorro, porque ele sempre questionava o fato do Charlie estar na rua. E é verdade, ele estava na rua mesmo, eu não tiro a culpa, este lado da negligência da minha filha. Foi quando ele me passou o telefone do pai, que estaria com o Charlie”, disse a uruguaia.

 

Com um novo contato, Ruth precisou continuar o processo de tentar convencer as pessoas de que estava com boas intenções. Ela contou com a ajuda da dona do local onde estava hospedada na cidade para conversar com o homem, já que Ruth estava se sentindo sem condições de falar. 

 

“Eu queria ir pelo lado diplomático. Eu tinha ouvido falar no promotor Breno Lintz, mas o meu medo era que como eu não conheço quem eles são e não queriam falar onde o cachorro estava, se eu falasse em chamar autoridades, eles poderiam sumir com o Charlie”, disse a mulher.

 

REENCONTRO

Depois de dias de conversas e horários marcados e desmarcados, ela conseguiu encontrar com este outro homem que poderia indicar onde o animal estaria. Foram mais de três horas dentro de um carro de aplicativo até encontrar o local indicado, mas o dono do lugar disse que já tinha mais de dez dias que não via o cachorro, porque esteve doente e tinha acabado de voltar para a chácara.

 

“Eu fiquei muito feliz, porque dez dias é muito pouco. Ele estava por ali. Entreguei o panfleto com as minhas informações, com o valor que eu pagaria de resgate, fui embora e continuei entregando panfletos para todas as pessoas no caminho. Quando eu estava para chegar na cidade este mesmo senhor ligou dizendo que tinha encontrado o Charlie”, disse Ruth.

 

Sem acreditar muito, ela e o filho voltaram todo o trajeto e foram levados até a casa de um pastor. O animal reconheceu a dona de imediato, mesmo estando mais de dois anos separados. Ele ainda precisou ficar mais um dia longe da dona, porque ela não estava com o dinheiro que tinha oferecido para quem encontrasse o animal, mas conseguiu, depois de uma longa jornada, encontrar o companheiro de quatro patas.

 

“Foi bem exaustiva, mas deu certo. Agora eu estou longe dele novamente, por causa do trabalho, mas estou o tempo todo vigiando, mesmo em outra cidade. Eu quero dar o melhor que eu puder pra ele, porque ele sofreu muito. Nem eu sei como que tenho tanto amor por ele. Até eu me surpreendo com o carinho que peguei pelo Charlie. Então quem está de fora não entende muito”, finalizou a uruguaia.





 

 



 
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