Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
16/04/2021 às 12h23min - Atualizada em 16/04/2021 às 12h23min

Número de mortes em março supera o de nascimentos em Uberlândia

Óbitos por Covid foram o principal fator causador do fenômeno demográfico verificado na cidade

NILSON BRAZ
Uberlândia teve, em março, mais mortes registradas que nascimentos. O agravamento da pandemia do coronavírus no último mês foi o principal fator causador desse fenômeno demográfico.

Dados do Cartório de Registro Civil local mostram um aumento de mais de 227% na quantidade de registros de mortes na cidade no terceiro mês do ano, contra 7% de crescimento no número de nascimentos.

Em março de 2020 foram registrados 767 nascimentos e 346 mortes, sendo duas em decorrência da Covid-19. E no mesmo mês de 2021 os números subiram para 821 nascimentos e 1.133 mortes registradas. Destes mais de 1,1 mil óbitos, 780 foram causados pelo coronavírus. Somente o total de pessoas que morreram de Covid quase supera a quantidade de nascimentos em março de 2021.

De acordo com a oficial de registro do Cartório de Uberlândia, Tássia Galante, desde que a nova gestão - da qual ela faz parte - assumiu o mesmo, há quase 13 anos, essa foi a primeira vez que Uberlândia teve esse fenômeno. “Desde quando assumimos, em 2008, é a primeira vez que o número de óbitos supera o de nascimentos. Historicamente, não é possível afirmar nada, mas, possivelmente, é a primeira vez que isso acontece”, afirmou.

INFLUÊNCIA NA DECISÃO DE ENGRAVIDAR
As mudanças de comportamento no crescimento da população no Brasil vêm sendo percebidas há anos. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2019, mostra que o número de filhos por mulher reduziu de forma ampla nos últimos anos. Para o historiador Antônio Pereira, esse dado pode ter contribuído para o registro de menos nascimentos que mortes em março deste ano.

“Não acho que isso tenha acontecido antes. Porque ter mais mortes do que nascimentos é uma coisa muito difícil de ocorrer. A não ser que tivesse um movimento, de maneira genérica, em que as mulheres resolvessem não engravidar, ou as famílias não ter o desejo de ter filhos. Isso nunca houve. Nunca soube, anteriormente, de uma situação de ter mais mortes que nascimentos. Há, sim, uma redução natural de nascimentos porque, antigamente, as famílias tinham oito, dez filhos. Isso foi reduzindo com o tempo. Hoje, um casal não quer mais que um ou dois filhos. Agora, com a pandemia, é possível que tenha uma redução de nascimentos, que não é natural. Já que por questões de saúde é comum que as famílias optem por adiar a hora de ter um filho”, disse o historiador.

MENOS NASCIMENTOS EM 2021
E esse comportamento pode estar refletindo e contribuindo para esse saldo populacional negativo. De janeiro a março de 2020, Uberlândia registrou 2.404 nascimentos, contra 2.223 no mesmo período de 2021. Uma redução de 7,5% no número de nascidos na cidade.

A engenheira civil Lorena Ribeiro foi uma das mulheres que resolveu adiar os planos de aumentar a família. Ela, que é mãe da pequena Louise, de quase dois anos, tinha planos, com o marido, de ter mais um filho em 2021. Mas, como a pandemia não mostra sinais de estar no fim, resolveu esperar um pouco mais. “Claro que é preciso respeitar as mulheres que engravidaram nesse período, mas a minha possibilidade de escolha foi a de esperar, porque, no meu ponto de vista, tem mais pontos contra do que a favor”, comentou.

Como a pandemia e o isolamento social a obrigaram a conciliar mais coisas do que normalmente era necessário, Lorena levou em consideração que teria ainda menos apoio com a chegada de mais uma criança. Ela precisou abrir mão de alguns projetos profissionais, passou a cuidar da filha, já que as escolas estão fechadas e precisou manter o distanciamento necessário dos avós.

“No pós-parto, a mulher precisa de uma rede de apoio. Pensar que eu poderia não ter essa rede, por causa do isolamento, para não colocar o bebê e os avós em risco, me fez pensar bastante. Infelizmente, por ter medo, resolvi adiar. Meu pai, apesar de ser saudável, tem 60 anos. Minha mãe tem 55, mas tem diabetes, é hipertensa. Minha sogra já teve um câncer. Eu não quero colocar ninguém em risco. Meu esposo é bombeiro militar, linha de frente, então, a minha família representa um risco, infelizmente”, finalizou a engenheira.
 
.
Números de nascimentos e mortes em Uberlândia
 
  Mortos Vítimas da Covid-19 Nascidos
Março 2020 346 2 767
Março 2021 1.133 780 821
 
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90