18/03/2021 às 12h13min - Atualizada em 18/03/2021 às 12h13min
Com shows suspensos, músicos buscam alternativas para sobreviver em Uberlândia
Após um ano de pandemia, classe continua afastada das atividades da profissão; procura por novos empregos e campanhas de doações são algumas das opções encontradas
BRUNA MERLIN
Júlio César, da dupla Júlio César e Danilo, projetou associação para arrecadação de cestas básicas | Foto: Divulgação Após um ano da chegada da pandemia da Covid-19 em Uberlândia, os artistas da cidade continuam afastados das atividades da profissão, já que qualquer tipo de apresentação presencial está proibido devido às normas de distanciamento social. O Diário de Uberlândia conversou com músicos que, antes, contavam com agendas lotadas e, de repente, precisaram buscar novas formas para sobreviver.
O cantor Erick Lins, de 35 anos, trabalha há 12 anos com música e viu sua principal fonte de renda ir embora de um dia para o outro. Antes da pandemia, ele realizava apresentações em bares e alguns eventos sociais da cidade.
“Eu tinha de 6 a 7 shows por semana. Estava em um período muito bom da minha carreira e, infelizmente, vi tudo indo por água abaixo de repente”, ressaltou.
Mesmo realizando lives com o auxílio de patrocinadores e pequenos eventos que foram autorizados para acontecer durante o ano de 2020, Erick viu a dificuldade financeira batendo em sua porta. Com dois filhos e uma carreira estagnada, ele teve que negociar diversas contas e dívidas.
Para tentar driblar a situação, o cantor de música sertaneja decidiu fazer alguns bicos como motorista de caminhão em algumas empresas do município. Segundo ele, a renda do serviço ainda é baixa, mas já ajuda em algumas despesas pessoais.
“Está muito difícil para todos nós que trabalhamos com a arte. Estamos tendo que nos reinventar para conseguir manter o sustento dentro de casa. Muitas pessoas trabalhando em áreas diferentes para tentar sobreviver”, complementou Erick.
AMU
O músico Júlio César Neves Filho, da dupla sertaneja Júlio César e Danilo, se viu em uma encruzilhada com o cancelamento de eventos e fechamento das casas noturnas e bares devido à pandemia do coronavírus. Durante 15 anos atuando no meio artístico, ele nunca presenciou tamanha crise no setor.
Como forma de apoiar os colegas da profissão e também para conseguir sobreviver, Júlio César criou a Associação de Músicos de Uberlândia (AMU) no ano passado. O intuito do projeto é arrecadar cestas básicas para as famílias da classe artística que foram afetadas durante a pandemia.
“Conseguimos atender mais de 100 famílias que estavam passando por dificuldades. Contamos com o apoio de empresários, além de outros músicos maiores, como o Léo, da dupla Victor e Léo, que auxiliaram na causa”, detalhou.
Mesmo com as arrecadações da AMU, o cantor precisou correr atrás de outras alternativas para conseguir renda. Júlio César decidiu procurar por um emprego de carteira assinada para conseguir se manter até que o cenário melhore.
“Nessas horas, temos que arriscar tudo e estou disposto a trabalhar mesmo que seja em outra área. Essa pandemia trouxe um ensinamento muito grande que é a capacidade do ser humano de se reinventar e correr atrás daquilo que precisa”, frisou ele.
MAIS INCENTIVO
A classe artística continua fazendo um apelo aos políticos da cidade para que mais políticas-públicas sejam feitas a favor da categoria durante o período de pandemia. Os profissionais do setor afirmam que foram imensamente prejudicados e seguem sendo desassistidos.
Para o cantor, Diego Ferraço, de 38 anos, a arte é um segmento muito importante para o momento e deveria ser mais valorizada pelas autoridades políticas. Ele, assim como toda a classe, pede que seja dada uma maior atenção aos profissionais da área.
“Nós sabemos que muitas áreas precisam de atenção e com certeza são muito importantes. Mas, durante um ano, não recebemos nenhum apoio para enfrentar essa situação. Muitas famílias estão passando por dificuldades e não existe um auxílio”, ressaltou.
Diego também se encontra em meio à problemas desde que parou de realizar shows na cidade. No momento, ele ainda se dedica 100% à música e conta com recursos da poupança que tinha para se manter. “Ainda consigo me manter devido à reservas que fiz, mas não sei por quanto tempo”, disse.
A esperança e fé de que as coisas irão melhorar é o que sobra aos artistas neste cenário atual, lembra o cantor. Eles esperam que 2021 seja um ano melhor e que as atividades possam voltar de forma gradativa.
“Sabemos que a situação pode voltar ao normal só em 2022, mas mantemos nossas esperanças de que 2021 seja melhor para todos e que toda a população possa ser vacinada”, concluiu Diego.