Toque de recolher das 20h às 5h e lei seca foram anunciados no dia 20 de fevereiro I Foto: Valter de Paula/Secom/PMU Com sucessivos registros de recordes de mortes nas últimas semanas por Covid-19, 100% de ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e cerca de 800 pacientes internados nas redes pública e particular de saúde de Uberlândia, sendo mais de 300 em UTIs, o cenário ideal para a pandemia e o colapso do sistema de saúde da cidade não piorarem ainda mais é a manutenção das restrições em vigor no município. A avaliação é de um infectologista e de um virologista.
Atualmente, Uberlândia está na Fase Rígida do Plano Municipal de Funcionamento das Atividades Econômicas (PFAE) e continuará na chamada Fase Vermelha até a próxima sexta-feira (19). Na última quarta-feira (12), a prorrogação das restrições foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM). A medida, adotada em 20 de fevereiro, visa conter o aumento da pandemia do coronavírus em Uberlândia ocorrido nas últimas semanas. E também foi mantido o toque de recolher das 20h às 5h e a lei seca, que começaram a valer no dia 23 de fevereiro.
Para o infectologista Henrique de Villa Alves, enquanto não houver reduções da taxa de contágio - que tem oscilado nos últimos dias -, do número de casos graves, que levam às internações e de mortes na cidade, não será possível retomar as atividades. “Nesse momento, a perspectiva de abrir o mercado e permitir maior movimentação vai depender destes fatores. A intensidades das medidas é proporcional aos casos e óbitos. Não tem como fazer as liberações com pacientes em estado grave aguardando leitos de UTI, já que a ocupação delas está em 100% há vários dias”, explicou.
O infectologista lembrou que a estrutura da rede de saúde de Uberlândia já foi ampliada, mas, nem assim, conseguiu atender toda a demanda provocada pelo agravamento da pandemia e a confirmação da presença, na cidade, das variantes do coronavírus de Manaus e do Reino Unido. “Existem limites físicos para expansão de leitos nos hospitais e do quadro de profissionais da saúde para trabalhar nos atendimentos. Os hospitais estão contratando, mas não é o suficiente. Então, nessa situação, não é possível retomar as atividades neste momento”, afirmou.
Ainda de acordo com Henrique de Villa Alves, neste momento, a melhor saída, para Uberlândia e para o país, que vivem a pior fase da pandemia, é intensificar a vacinação contra a Covid-19. “A imunização tem que chegar não só aos grupos de risco“, disse.
Quem também aponta a vacinação como a grande solução é o biólogo, mestre em microbiologia e doutor em genética e biologia molecular e virologista, Paulo Vitor Marques Simas. “Se imunizasse a população em massa, poderia ter retorno mais gradativo e rápido à normalidade”, pontuou. “Por erros estratégicos, não tivemos as vacinas aplicados em larga escala”, completou.
Para o doutor em genética e biologia molecular, o ideal, neste momento, devido ao recrudescimento da pandemia no município, seria o lockdown, inclusive com os serviços essenciais seguindo regras extremas, mas este cenário é muito distante do real. Ainda de acordo com Paulo Simas, é preciso buscar equilíbrio entre o mundo ideal e o real. “Para isso, é preciso que haja um plano estratégico conjunto”, defende o especialista, lembrando que precisariam participar das discussões e soluções os diferentes setores da sociedade.
Mas, ainda conforme o doutor em genética e biologia molecular e virologista, estes representantes não poderiam esquecer que “estamos falando de vidas” e que o tema da pandemia é complexo. “Não pode fechar os olhos para o cenário socioeconômico, mas, também, é preciso lembrar que o sistema de saúde está colapsado e que daqui a alguns dias pode ter até um colapso funerário. Estamos vivendo o pior momento da pandemia, inclusive com variantes do vírus e, consequentemente, efeito na taxa de contágio e mudança no perfil epidemiológico da doença, com muitos jovens sendo contaminados e tendo casos graves e morrendo”, observou.
Paulo Simas afirmou, ainda, que, por tudo isso, é preciso parar a polarização no país e traçar um plano estratégico conjunto que resolva a situação. “No Brasil, os órgãos técnicos acabam sendo políticos. Isso afeta a vida das pessoas, que estão morrendo asfixiadas, sem a mínima dignidade. Isso é um genocídio. Não pode continuar”, finalizou.