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16/02/2021 às 15h05min - Atualizada em 16/02/2021 às 15h45min

Ramo alimentício foi o mais impactado pela alta dos preços em 2020

Levantamento da CEPES/UFU aponta que o setor teve maior variação acumulada do que o IPC no ano

IGOR MARTINS
Setor de “Alimentação e bebidas” terminou 2020 com variação acumulada de 15,74% I Foto: PIXABAY
Dados divulgados pelo Centro de Pesquisas Econômico-Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (CEPES/UFU) apontam que o ramo alimentício foi o mais impactado pela alta dos preços em 2020. As informações foram disponibilizadas através do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que pode ser acessado no site da instituição.

Conforme consta no documento, o setor “Alimentação e bebidas” terminou 2020 com uma variação acumulada de inflação de 15,74%. O índice acumulado do IPC no ano foi de 5,05%, o que significa que o ramo foi 10,69 pontos percentuais maior do que a variação municipal. A segunda categoria com maior índice do IPC foi a de “Habitação”, que apresentou uma variação acumulada de 5,13% no ano.

Dentro do ramo alimentício, o subgrupo com maior variação foi o de óleos e gorduras. Isso porque o óleo de soja foi um dos alimentos com maior alta durante 2020, apresentando um índice acumulado inflacionário de 64,78%. Outro setor fortemente impactado foi o de cereais, leguminosas e oleaginosas, puxado pelas altas do arroz, feijão preto e feijão carioca, que tiveram variações acumuladas de, aproximadamente, 40%, 38% e 14%, respectivamente.

De acordo com o economista do CEPES, Pedro Henrique Martins Prado, a alta dos preços no setor alimentício pode ser explicada por diversos fatores. Um deles, segundo o especialista, diz respeito ao isolamento social decorrente da pandemia da Covid-19, que impactou fortemente o consumo doméstico de alimentos.

“No início do ano, nós tivemos uma mudança no comportamento da população. Vimos um aumento da demanda dos alimentos para esse tipo de consumo e, dessa forma, houve também uma dificuldade no abastecimento”, explicou.
Para o economista, o aumento da procura por alimentos no mercado internacional e a forte desvalorização do real em comparação ao dólar também contribuiu para uma alta tão considerável como foi a do ramo alimentício. Ainda de acordo com Pedro Henrique Prado, o fator climático também explica o aumento no preço do feijão e do arroz.

“No caso do feijão, nós vimos um impacto com as safras de 2020. Algumas ficaram mais prejudicadas e, ao mesmo tempo, percebemos essa depreciação cambial. A melhora do preço vai depender dessa valorização da nossa moeda e também pela melhora da produção. Falando do arroz, o alimento teve um aumento forte na demanda internacional e a nossa capacidade de atendimento estava reduzida”, detalhou o economista.

Segundo o profissional, a alta no preço da carne é reflexo da queda na produção chinesa. No fim de 2020, o país asiático sofreu também com a peste suína africana. Sendo assim, os produtores precisaram sacrificar uma parcela do rebanho, o que gerou complicações nas exportações e importações de carne entre o Brasil e a China.

Na visão de Prado, é preciso aguardar por um cenário externo um pouco mais favorável e pela retomada da economia. Além disso, o economista acredita que a melhora nos índices de vacinação globais e a política externa brasileira, aliada à apreciação do preço do real, podem colaborar com uma redução do crescimento inflacionário no país.
 
FATURAMENTO IMPACTADO
 
Proprietário de um restaurante no bairro Patrimônio, Fábio Luiz Bertolucci sentiu no bolso o impacto inflacionário do setor de alimentos em 2020. Em conversa com o Diário, o empresário afirmou que o seu faturamento foi cerca de 50% menor em relação a 2019, reflexo também dos decretos de restrições de funcionamento dos comércios em Uberlândia.

“A gente começou a sentir esse impacto financeiro no período em que a pandemia chegou e nos obrigou a restringir os horários de funcionamento. A queda no faturamento e o aumento dos insumos básicos para um restaurante foram muito complicados. Subiu arroz, óleo, carne e feijão, mas a gente não podia repassar isso para o cliente, até porque perdemos muitos clientes por conta da pandemia. Se você aumenta o preço, seu cliente procura um outro local. É um desafio muito grande”, disse.

De acordo com Bertolucci, o impacto foi tão grande que ele precisou reduzir o quadro de funcionários, além de buscar alternativas na hora de montar seus pratos. Ele conta que tem buscado manter o padrão de qualidade, mas sem aumentar o preço para o consumidor.

“No caso da carne, nós procuramos algumas peças alternativas. Se a gente trabalhava com uma picanha de melhor qualidade, a gente precisou comprar picanha um pouco inferior para poder oferecer, ou até mesmo não oferecer picanha temporariamente e ter uma carne opcional. Os clientes não reclamaram, até porque a gente também não aumentou o preço. De certa maneira, eles viram novas opções. Diria que houve uma consideração por parte dos clientes, de tentarem nos ajudar a sobreviver neste momento”, detalhou o empresário.

Para Fábio Luiz Bertolucci, o alimento que mais impactou na hora da compra foi o óleo de soja, seguido da carne bovina e do arroz e feijão. O comerciante disse que espera mais um ano difícil para o setor empresarial da cidade, uma vez que os casos da Covid-19 em Uberlândia têm aumentado cada vez mais.

“Eu não vou criar expectativas enquanto pelo menos 80% da população não esteja vacinada. A nossa dificuldade, agora, é a de conciliar a queda do faturamento com o aumento dos alimentos. Isso força o empresário a ser o mais criativo possível para ele não fechar as portas. Nós não podemos abrir mão da qualidade. Temos que sobreviver mesmo com os índices inflacionários, com o baixo faturamento e ainda lidar com as restrições de funcionamento. O que nos resta é esperar por dias melhores”, contou Bertolucci.
 
Confira abaixo os alimentos com maior variação acumulada em 2020:
 
Alimento Variação acumulada (%)
Óleo de soja 64,78
Batata-inglesa 58,74
Banana-prata 52,34
Cenoura 48,73
Arroz 40,58
Músculo (carne) 39,78
Feijão preto 38,54
 
Confira abaixo os grupos com maior variação acumulada em 2020:

 
Alimento Variação acumulada (%)
Cereais, leguminosas e oleaginosas 33,68
Farinhas, féculas e massas 12,47
Tubérculos, raízes e legumes 31,82
Açúcares e derivados -1,27
Hortaliças e verduras 6,50
Frutas 26,63
Carnes 26,43
Pescado 5,65
Carnes e peixes industrializados 13,36
Aves e ovos 11,27
Leite e derivados 21,98
Panificados 2,39
Óleos e gorduras 48,65
Bebidas e infusões 2,38
Enlatados e conservas 8,04
Sal e condimentos 0,69
 

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