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08/12/2020 às 13h22min - Atualizada em 08/12/2020 às 16h45min

Diarista denuncia motorista de app por assédio sexual em Uberlândia

Vítima relatou que autor insinuou que faria o trajeto até o bairro Vila Marielza em troca de favores sexuais: “podemos negociar essa corrida”; motorista nega acusação

CAROLINE ALEIXO
Empresa diz ter tolerância zero a qualquer forma de violência aos usuários do transporte, especialmente mulheres | Foto: Tim Samuel/Pexels
A volta para a casa na noite desta segunda-feira (7), depois de mais um dia exaustivo de trabalho, não foi tranquila como a diarista Marta Teixeira* estava habituada. Desta vez, a moradora de Uberlândia solicitou a corrida via aplicativo de transporte e foi surpreendida pelo motorista ao condicionar a prestação do serviço à troca de favores sexuais. 

A vítima, de 28 anos, contou que estava no Terminal Novo Mundo e faria o trajeto até o bairro Vila Marielza. Quando entrou no carro do motorista do 99Pop, o homem reclamou que o destino era muito longe e disse que se ela quisesse eles poderiam negociar a corrida. 

“Quando entrei no carro, ele perguntou pra mim se era no Granja Marileusa ou no Vila Marielza. Eu falei que era no Marielza e ele respondeu que era muito longe. Em seguida, disse que para me levar lá a gente podia ‘negociar essa corrida’. Eu disse que nunca tinha pegado um motorista que tinha me dito isso e ele respondeu que então não poderia me levar”, relatou ao Diário. 

Ao notar a má intenção do profissional e perceber que estava sendo assediada, a passageira disse que ficou desesperada e pediu para que ele parasse o carro. O autor ainda tentou intimidá-la. 

“Nessa hora eu senti tanto medo. Ele olhou pra mim com aquela cara de raiva porque já tínhamos andado um pouco. Eu desci do carro chorando e com muito medo. Ele estacionou o carro e ficou me olhando por uns 30 minutos até eu conseguir chamar outro motorista”. 

Ela pediu ajuda em um estabelecimento comercial próximo ao local, no bairro Alvorada, e as testemunhas prestaram apoio, chamaram outro veículo e a acompanharam até o motorista chegar. O segundo motorista, que a levou até em casa, também foi solidário à passageira e a orientou procurar a Polícia Militar (PM), além de ter divulgado informações sobre a situação em grupos de WhatsApp com outros motoristas na tentativa de identificar o autor. 

Chegando em casa, o marido da vítima já a esperava no portão da residência e a jovem, ainda abalada, conseguiu se acalmar e acionar a polícia para ser registrado o boletim de ocorrência.  

 
“Eu nem sei se vou conseguir voltar a andar por aplicativo, porque estou com trauma. Tenho medo de pegar outro e acontecer até coisa pior. Eu não desejo isso para ninguém e quantas mulheres já devem ter passado por isso. Da mesma forma que foi comigo, ele pode ter feito com uma adolescente ou qualquer outra pessoa”, lamentou.

Até o fechamento da ocorrência, o autor não havia sido localizado. O caso será apurado pela Polícia Civil. 

Motorista foi bloqueado do aplicativo
A empresa afirmou à reportagem que o motorista foi bloqueado da plataforma assim que a denúncia foi registrada. Disse ainda que está à disposição para colaborar com as investigações da polícia.

“A 99 lamenta profundamente o ocorrido e, neste momento, presta atendimento à vítima. A empresa esclarece ter uma política de tolerância zero em relação a qualquer forma de violência, especialmente contra a mulher, e reitera veementemente seu repúdio ao fato”, informou em nota. 

Reforçou ainda que dedica esforços na prevenção, proteção e acolhimento de todos os usuários, principalmente para as mulheres. Entre as medidas implementadas estão a opção de compartilhar a rota para contatos de confiança, monitoramento de corrida via GPS, gravação de áudio, botão para ligação para a polícia e um rastreador de comentários que identifica, automaticamente, denúncias de assédio nos comentários ao fim das corridas. 

 

VERSÃO DO MOTORISTA
Durante a produção da matéria, a reportagem não conseguiu localizar o motorista envolvido no caso. No entanto, na tarde desta terça (8), o homem, de 38 anos e que não quis se identificar, entrou em contato com o Diário e afirmou ser inocente e que registrará um boletim de ocorrência contra a diarista. Ele também disse que estuda a possibilidade de mover um processo contra a jovem.

“Assim que eu aceitei a corrida, perguntei a ela onde era o local. Ela disse que era em uma chácara. Eu teria que andar em estrada de terra, era um lugar muito longe. Aí eu falei para ela: ‘moça, devido ao horário, eu só rodo internamente, porque preciso me precaver’. Depois disso ela apelou, saiu do carro e bateu a porta”, disse.

Durante o contato com o Diário, o motorista disse que estava se deslocando até o local onde começou a corrida para pegar as filmagens das proximidades. “Ela disse que eu fiquei parado lá um tempão. Fiquei mesmo. Fiquei esperando corrida, se eu tivesse assediado alguém, a minha primeira reação seria ir embora”, relatou.

O homem falou também que está à disposição das autoridades e que quer provar a sua inocência. “Fui excluído da plataforma [99Pop] por causa de uma coisa que ela inventou. Tenho quase dois anos de aplicativo e não tenho nenhuma reclamação. Eu quero meu direito de defesa”, finalizou.


ASSÉDIO SEXUAL
O crime de assédio sexual está previsto no artigo 216-A do Código Penal brasileiro e é definido pelo constrangimento cometido contra a vítima, com o objetivo de obter vantagem ou favorecimento sexual. 

Para praticar o ato, o criminoso geralmente se vale da sua condição, em posição superior, relativa ao exercício profissional. A pena para o crime é de um a dois anos de detenção e pode ser aumentada em até 1/3 se a vítima for menor de 18 anos. 

* O nome usado na reportagem é fictício para preservar a identidade da vítima. 



*Texto atualizado às 16h45 para acréscimo de informações.
 


 
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