Motoristas fizeram manifestação no início de agosto em frente ao Parque do Sabiá | Foto: Arquivo pessoal
Por conta da suspensão das aulas, que perdura desde o fim de março, e sem a possibilidade de exercer as atividades de transporte escolar, motoristas de vans particulares em Uberlândia estão sofrendo com a falta de trabalho. A categoria reclama da ausência de apoio por parte do governo do Estado e do Município e alega estar sem condições de sobrevivência durante a pandemia.
O Diário de Uberlândia ouviu motoristas que atuam no ramo e reclamam do abandono por parte do poder público. Há praticamente seis meses sem poder realizar o transporte de alunos, que é tida como única fonte de renda, o motorista Rogério Tadeu, de 57 anos, contou à reportagem que a categoria vem enfrentando graves problemas financeiros e muitos profissionais estão dependendo de ajuda de familiares para conseguir se sustentar.
Rogério, que atua há mais de 20 anos no ramo, encabeçou recentemente uma manifestação pacífica com cerca de 100 motoristas da cidade. A mobilização, promovida no início de agosto, reivindicava um auxílio emergencial para a categoria por parte do Estado e do Município. Ainda de acordo com o líder do movimento, os motoristas também tentaram estabelecer um diálogo com a Prefeitura, mas não tiveram retorno.
“A Prefeitura não faz nada pra gente, mas continua cobrando de nós todas as legalidades. Estamos desde março parados e não tivemos apoio de ninguém. Hoje, temos cerca de 350 vans no município e a maioria está parada. Tenho amigos vendendo carros e passando grandes necessidades. Nos ofereceram cestas básicas, mas eu recebi apenas duas nestes últimos cinco meses, e ninguém consegue sobreviver apenas disso”, contou.
Há praticamente seis meses sem poder trabalhar, o motorista Thales Alvim Medeiros, 33 anos, que vive da atividade há sete anos, não teve outra saída a não ser atrasar as prestações do veículo, que é financiado. Segundo ele, há três meses não consegue cumprir o compromisso com o banco por conta da dificuldade financeira.
Uma das reivindicações de Thales e dos colegas é uma alternativa da Prefeitura para que eles possam sobreviver neste período. “Está difícil para todo mundo, os ônibus estão andando lotados. Então, se a Prefeitura permitisse pelo menos que a gente fizesse o transporte coletivo nos pontos de ônibus já ajudaria bastante a gente”, disse.
A principal alegação dos motoristas é a impossibilidade de atuar em outra atividade com o veículo, já que segundo a legislação eles não têm liberação para trabalhar fora do ramo de transporte escolar. É o que aponta Erlani Teixeira Chaves (61), que há 16 anos vive da atividade e agora está sem a fonte de renda.
“Infelizmente nós estamos abandonados tanto pelo Município quanto pelo Estado. Eu tenho uma van que não posso usar para outra finalidade que não seja o transporte escolar. Já estou com duas prestações do veículo atrasadas. Fiz um tratamento de câncer recente, preciso de uma quantidade de remédios e não consigo trabalhar porque meu veículo não é liberado para fazer determinados tipos de serviço”, revelou.
Categoria pede ajuda do Município e do Estado | Foto: Arquivo pessoal
AUXÍLIO Para o líder do movimento dos motoristas de vans particulares, Rogério Tadeu, a categoria necessita de ajuda do Município. “De seis em seis meses eu tenho que quitar os impostos senão não deixam a gente trabalhar. Atuo no ramo há 25 anos e nunca deixei de pagar. Agora em um momento desses não era uma obrigação da Prefeitura de nos ajudar?”, questionou.
Em julho, o governador Romeu Zema sancionou a lei 23.678, que inclui prestadores de serviço de transporte escolar de alunos de instituições de ensino, públicas ou privadas, em uma concessão de renda mínima emergencial e temporária.
O Diário procurou o governo do estado para saber sobre uma previsão para a implantação do auxílio. Em nota, a assessoria disse que a Lei publicada no dia 10 de julho, no Diário Oficial, é apenas autorizativa. Ou seja, autoriza que o estado busque alternativas para viabilizar o auxílio.
O estado informou ainda que representantes do governo se reuniram com os trabalhadores do transporte escolar no dia 11 de agosto para discutir os pleitos da categoria. A nota também esclarece que, com relação às reivindicações, foi informada a necessidade de avaliação do impacto financeiro por parte da administração estadual.
A reportagem também fez contato com a Prefeitura de Uberlândia a respeito das reivindicações dos motoristas, mas nenhum retorno foi feito até o fechamento desta edição.