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10/05/2020 às 09h07min - Atualizada em 10/05/2020 às 09h07min

Queda na procura por táxis e aplicativos é superior a 90% em Uberlândia

Mototaxistas também sofrem com os reflexos da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus; motorista relata que não faz corrida há dois meses

SÍLVIO AZEVEDO
Taxista há 13 anos, João Freire diz que demanda caiu 100% | Foto: Arquivo Pessoal
Taxista há mais de 13 anos, João Freire, 66, é um dos profissionais liberais impactados pela pandemia do novo coronavírus. Com um ponto em frente a um hotel de Uberlândia, o motorista viu o seu trabalho ser interrompido por completo com os decretos de fechamento de comércios, hotéis e a diminuição dos voos no aeroporto da cidade.

“Para mim, posso dizer que caiu 100%. Com tudo fechado eu não faço uma corrida há quase dois meses. Meu carro está parado desde então”, contou João, que ainda faz parte do grupo de risco por conta da idade.

O taxista relata que a paralisação acarretou em um forte impacto nas contas. Segundo ele, a aposentadoria que recebe o ajuda a sobreviver. Mas, para quem fazia uma média de 10 corridas por dia, ganhando aproximadamente R$ 270 diariamente, a queda na arrecadação é bastante significativa.

“Tive que apelar para o meu genro pagar a prestação do carro até ver se consigo. Sou aposentado, pago plano de saúde e como sou somente eu e a mulher, estou tendo como sobreviver. Na minha idade, não tenho filho mais dentro de casa, mas estou vivendo quase de favor já. Estou há dois meses sem fazer um centavo”.

Segundo o Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Táxis de Uberlândia (Sindcavtu), João não é o único impactado pela pandemia. Quase 100% dos profissionais estão parados, considerando os profissionais liberais e as duas empresas de táxis que atuam em Uberlândia. 

É o que diz o presidente da entidade, Roque de Moraes. “Nós que estávamos vindo de uma crise devido aos aplicativos e o fechamento do comércio em nossa cidade impactou bastante com o serviço de táxi. Ficou a minoria. Praticamente 95% de 279 carros pararam, pois não teriam como trabalhar com o comércio fechado”.

De acordo com o presidente, o que antes representava uma média de 1.953 corridas diárias para toda a frota da cidade, hoje não corresponde nem a 100 para cerca de 14 carros que ainda estão na rua. Entre os que sobraram, estão os que possuem pontos em locais de maior movimentação, como rodoviária, aeroporto e os que ficam na porta de um atacarejo no bairro Tabajaras. “Aqueles que tem ponto na porta de hospitais não trabalharam, assim como nos shoppings nenhum trabalhou”, disse Roque.

O representante do sindicato explica que os motoristas que dependem somente do serviço de táxi estão passando necessidade e contando com favores de outras pessoas, enquanto os que têm outra renda, como seu João Freire, seguem apenas sobrevivendo.

“Aqueles que têm somente o táxi como meio de sobrevivência estão sucumbindo. Não se sabe como estão fazendo. Alguns taxistas têm outras rendas, como benefício da aposentadoria do INSS, outros uma casinha de aluguel, mas a maioria que só tem a renda do táxi está perecendo, dependendo de familiares. Taxista não tem fundo de reserva. Uns pararam o carro e arrumaram outro meio de sobrevivência. Mas não está fácil”.

Presidente do Sindicato dos Taxistas, Roque de Moraes, diz que praticamente todos os carros estão parados | Foto: Arquivo/Jornal Diário de Uberlândia

APLICATIVOS
Nem mesmo os motoristas de aplicativos estão escapando dos impactos da covid-19. A Uber, por exemplo, demitirá cerca de 3,7 mil funcionários e fará o bloqueio do salário do seu CEO, Dara Khosrowshahi, até o final do ano. 

Por meio de nota, a Uber informou que “com menos pessoas realizando viagens, infelizmente a realidade é que não há atividades para muitos de nossos funcionários que trabalham com suporte direto a clientes. Como não sabemos por quanto tempo durará uma eventual recuperação, estamos tomando medidas para equilibrar nossos custos com o tamanho do negócio atual. É uma decisão difícil, mas correta, para ajudar a proteger a companhia no longo prazo e permitir que consigamos sair melhor desta crise”.

Para o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Triângulo Mineiro (AMAPPTM), Rodrigo Passos, a queda no número de viagens foi de 93% e as horas de trabalho aumentaram pelo menos 400% para atingir uma média bruta de arrecadação.

“Hoje são cerca de 18 mil motoristas. Os que locavam o carro, cerca de 60% dos motoristas, não estão rodando porque não tem como pagar a locação e levar dinheiro para casa. Para se ter noção, os motoristas levavam cerca de 1h para fazer cerca de R$ 25 a R$ 30 bruto, sem contar combustível. Hoje, tem que fazer de 5h a 6h. É uma coisa que está muito séria”, afirma.

Além da baixa remuneração, muitos motoristas estão com medo de rodar por causa da possibilidade de contágio. O presidente do sindicato foi um dos infectados em Uberlândia. “Eu mesmo peguei a covid-19 e estou até hoje sem rodar por estar assustado com essa situação. Fiquei bem ruim. Não cheguei a ir para a UTI, mas precisei usar respirador. Muitos estão desistindo do serviço pelo risco e pelo pouco faturamento”.

Segundo Rodrigo, o fim da pandemia pode não significar melhora para a categoria, já que ele estima um aumento da concorrência por causa do desemprego causado pelo fechamento de empresas, indústrias e de queda na receita das famílias. “Não tem corrida e a coisa só tende a piorar, porque depois dessa pandemia, com aumento do desemprego, as pessoas vão correr para ser motoristas de aplicativo. Então o que já estava ruim, vai ficar pior. Estamos bem apreensivos com toda essa situação”.

Para dar assistência aos motoristas que estão passando por necessidades, a associação tem buscado doações de cestas básicas em instituições e empresas, mas também recebem de pessoas interessadas em ajudar.

“Fizemos uma campanha de arrecadação em grupos de motoristas e em Facebook. Só que a coisa está muito devagar. Tive ajuda de uns servidores da Prefeitura. Conseguimos cestas básicas para doar. Outras, a diretoria da associação fez uma vaquinha e comprou. Isso está longe de atender a demanda. É muita gente e precisamos de ajuda, doação”, disse Rodrigo. 

Os interessados em ajudar a associação podem ligar no telefone (34) 99159-0499. “Todo mundo está sem dinheiro, seja motorista ou passageiro. O desemprego está batendo na porta de todo mundo, sabemos disso. Temos que confiar em Deus. Não temos dimensão de até onde vai essa pandemia. A gente conta com a compreensão e a compaixão das pessoas que possam nos ajudar. Podem ligar que a gente vai buscar”.

MOTOTÁXI
Até o início da pandemia, Uberlândia contava com aproximadamente três mil mototaxistas prestando serviços na cidade. Com a chegada do novo coronavírus e o fechamento do comércio e isolamento social, esse número diminuiu bastante. É o que afirma o presidente do Sindicato de Proprietários de Vans, Moto-táxi e transportes Alternativos de Uberlândia, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Sinditranstap), Ronaldo Fernandes.

De acordo com o presidente, muitos mototaxistas se aliaram à tecnologia para conseguir alguma renda, além de contar com a ajuda do Governo Federal. “Atualmente existem poucos mototaxistas que, para encarar o momento difícil que estão vivendo, tem buscado se reinventar utilizando a tecnologia a seu favor, como os aplicativos para prestação de serviços. Como a categoria de mototaxista foi incluída na lista para receber o auxílio emergencial de R$ 600, muitos estão fazendo”.

Para os que continuaram trabalhando, Ronaldo informa que foram repassadas orientações aos mototaxistas para evitar o contato e a infecção do novo coronavírus tanto deles, quanto dos passageiros. “Esses profissionais estão fazendo a higienização dos coletes, capacetes e fazendo uso de luvas, máscaras e álcool gel”.

A categoria já havia sofrido uma redução de profissionais com a chegada dos aplicativos. Em 2017 eram aproximadamente seis mil mototaxistas em Uberlândia. “Em função dos aplicativos, chegamos a um número de redução de 50% dos prestadores de serviço, além dos que migraram para o motofrete, que são os prestadores de serviços delivery”, disse Ronaldo.

MAIO AMARELO
A campanha Maio Amarelo deste ano também será focada nos profissionais que atuam prestando serviços essenciais para a população, entre eles os motoristas do transporte alternativo, disponibilizando informações e orientações que auxiliem na proteção desses profissionais.

O tema será “Perceba o risco, proteja a vida”, buscando, além da diminuição no número de acidentes de trânsito e o alto índice de mortos e feridos, conscientizar motoristas sobre a orientação das autoridades para respeitar o distanciamento social.

A campanha será realizada por meio das redes sociais do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e das instituições parceiras, como Ministério da Cidadania (Senapred), Ministério da Saúde (DASNT/SVS), DNIT, ANTT, PRF, Associação dos Detrans (AND), Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), Sest/Senat e Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).














 

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