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15/04/2020 às 11h18min - Atualizada em 15/04/2020 às 11h18min

Mais de 35% do comércio está de portas fechadas em Uberlândia

Análise feita pela CDL mostra frustração da classe em razão dos reflexos da pandemia da Covid-19

BRUNA MERLIN
Loja de tecidos Miramontes aposta em vendas por delivery | Foto: Arquivo Pessoal
O colapso econômico causado pela pandemia do coronavírus está obrigando toda a população a se adaptar a uma nova rotina. Para os comerciantes de Uberlândia, que cobram a retomada das atividades, a situação não é diferente. Uma pesquisa feita pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) mostra que, devido a incerteza do futuro, os empresários estão se esforçando para não encerrar as atividades e manter pelo menos o mínimo das vendas.

Todo o comércio do município, exceto os estabelecimentos considerados essenciais como supermercados e farmácias, foi fechado após o decreto anunciado pelo prefeito Odelmo Leão, no dia 20 de março, para aumentar as restrições de prevenção à Covid-19. Desde então, 36,6% das empresas estão totalmente fechadas, segundo a pesquisa da CDL realizada com quase 300 empresas associadas, situadas em todas as regiões da cidade.

Ainda de acordo com o levantamento, 16,2% das que estão abertas são de serviços essenciais. Os outros 36,9% correspondem a estabelecimentos que buscam alternativas de funcionamento mesmo fechados. Eles funcionam internamente com atendimento reduzido por delivery, utilizando de contatos por redes sociais, WhatsApp e aplicativos.

O estudo também revela que 27,1% dos comércios já ofereciam o serviço por meio do mundo virtual.  Outros 10,6% iniciaram o atendimento online por causa da crise da Covid-19.

É o caso da loja de tecidos Miramontes localizada no Bairro Martins. O atendimento físico foi suspenso no dia 23 de março e os 150 funcionários receberam férias coletivas. O proprietário, José Luis Rodrigues, esperava que a situação voltasse ao normal até 6 de abril, mas como não houve liberação para o retorno das atividades, ele precisou desenvolver outras medidas para conseguir vender. Agora, as vendas são feitas por meio do WhatsApp e através do telefone físico da loja. 

“Adotamos o sistema delivery pela primeira vez, mas ainda é muito complicado oferecer esse serviço no setor de tecidos. Os clientes gostam de ver e sentir o produto, e através de fotos isso não é possível”, explicou.

A nova alternativa também exigiu mudanças. Somente 15 empregados foram escalados para continuarem trabalhando e os outros seguem dispensados. Mas, a preocupação do dono é grande já que o faturamento com o delivery não chega nem a 10% das vendas realizadas pelo atendimento físico.

“Nunca passamos por isso e não sei o que irei fazer se continuarmos fechados por mais uma ou duas semanas. Como irei pagar as despesas da loja e os funcionários, que têm famílias. É muito preocupante”, ressaltou o proprietário.

O presidente da CDL Uberlândia, Cícero Heraldo Neves, acredita que os meios digitais podem sim ajudar os empresários durante esse momento, mas muitos precisam começar do zero e isso dificulta um pouco as coisas. “Diversas micro e pequenas empresas nunca pensaram em expandir o negócio para o virtual, sendo assim, elas estão tomando essa decisão agora. Ainda não deu tempo de fazer um planejamento porque esse recurso exige investimento e estrutura também”, detalhou.

DEMISSÕES
A loja de roupas femininas Saskia se encaixa nos 27,1% dos comércios que já ofereciam o serviço de vendas online antes da crise. Mas, mesmo com a alternativa, outras medidas severas precisaram ser adotadas pela proprietária Lenielda Nascimento Gomide.

O atendimento físico nas quatro unidades da loja foi suspenso no dia 21 de março. Além de oferecer férias coletivas aos funcionários, a dona teve que demitir cinco empregados.

Ainda de acordo com Lenielda, as demissões foram necessárias porque o serviço de vendas online exige uma menor estrutura de pessoas e não haveria renda o suficiente para pagar todos os contratados. “Sempre tivemos o recurso de vender pela internet, mas o retorno ainda é baixo e não seria possível continuar tendo despesas a mais”, concluiu a dona da empresa.

Outras estratégias estão sendo adotadas pelas empresas diante do cenário. A CDL aponta que 29,6 % concederam férias individuais, 14,7% deram férias coletivas e ainda 10,6% optaram por utilizar bancos de horas. Apenas 3% anteciparam feriados dos colaboradores.

DÍVIDAS FUTURAS
A dificuldade financeira e as despesas fixas como aluguel, pagamentos de funcionários e fornecedores, levam os empresários a urgência para reabrir o quanto antes seus estabelecimentos. Mas, enquanto não é possível a liberação pela Prefeitura, os comerciantes buscam mais alternativas para conter as dívidas futuras.

A análise feita pela Câmara de Dirigentes Lojistas também revela que 48,8% das empresas optaram por renegociar com fornecedores e 36,7% pretendem recorrer a empréstimos. Além disso, 18,7% vão utilizar recursos próprios para recompor o capital de giro e 39,3% reduzirão as despesas. 

O proprietário da loja de tecidos Miramontes disse que precisou cancelar recebimentos de mercadorias e conversou com os fornecedores para estender o prazo para o pagamento daquelas já compradas e recebidas. “Como tivemos redução no número de vendas, consequentemente tivemos que diminuir a compra de produtos porque não compensaria”, disse.

A responsável pelas lojas Saskia teve que renegociar dívidas de credores para não sair no prejuízo e prorrogou os financiamentos para 60 dias.

PREVISÃO DE RETORNO
Presidente da CDL, Cícero Heraldo Neves | Foto: Divulgação

Os dois empresários ouvidos pelo Diário são a favor do retorno do comércio o mais rápido possível. Eles acreditam que os prejuízos serão menores tanto para os comerciantes quanto para os funcionários, fornecedores e clientes.

“É necessário repensar esse decreto. Precisam ser traçadas novas estratégias para que possamos abrir. Se essa situação persistir, vai prejudicar muitas pessoas que dependem do estabelecimento e do emprego para sobreviver”, ressaltou José Luis.

Lenielda concorda com o colega e diz que todos os cuidados necessários podem ser cumpridos mesmo com o retorno das atividades. “Se houver conscientização de todos, nós conseguimos voltar a girar a economia da cidade sem maiores preocupações”, afirmou.

De acordo com o presidente da CDL Uberlândia, Cícero Heraldo Novaes, toda a pesquisa foi montada para entender os anseios e as dificuldades que os empresários estão passando, saber o que estão fazendo para aguentar esse momento e ao mesmo tempo ouvir suas sugestões para que possam ser levadas às esferas competentes que estão à frente das decisões para encontrar o caminho que seja mais adequado para a saúde da população e para a economia da cidade. 

“Estamos participando de constantes reuniões com o governo municipal, propondo medidas para minimizar os impactos do coronavírus nas empresas, como o fechamento de negócios e o aumento do desemprego, mas ainda não há uma previsão de retorno do comércio”, disse o presidente.

O gestor afirma ainda que todas as medidas apresentadas a Prefeitura de Uberlândia pela CDL são alternativas responsáveis para ambas as partes. Segundo ele, todos os comerciantes entendem a situação, mas querem ser compreendidos também pelo órgão público.

“Nós sabemos o que está em risco, mas tudo pode ser feito através de etapas e de forma escalonada. A contaminação do vírus na cidade tem se mantido de forma equilibrada e se respeitarmos as ordens e orientações da Organização Mundial da Saúde com o uso de máscaras, distanciamento e higiene das mãos, nós conseguimos manter o comércio funcionando”, finalizou.


O Diário de Uberlândia solicitou um posicionamento ao Município e questionou se há alguma previsão para o retorno das atividades comerciais na cidade, mas até a publicação desta matéria não houve retorno. No fim da tarde desta segunda-feira (13), no entanto, o prefeito Odelmo Leão publicou nas redes sociais da Prefeitura um comunicado sobre um investimento municipal que, segundo o chefe do executivo, irá auxiliar micro e pequenos empresários durante a crise. O prefeito informou também que mais detalhes devem ser divulgados nesta terça-feira (14).









 

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