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15/01/2020 às 14h07min - Atualizada em 15/01/2020 às 14h07min

Cafeicultores da região preveem nova queda em 2020

Produtividade caiu 17,8% em 2019; expectativas do setor para este ano também não são boas, segundo a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Coocacer)

BRUNA MERLIN
Produção do café, queda no preço de venda e clima preocupam cafeicultores | Foto: Agência Brasil/Divulgação
O despertador toca às 6h e a primeira coisa que o brasileiro pensa é em passar seu café quentinho e fresquinho. O relógio também marca o mesmo horário para os cafeicultores, mas o pensamento é diferente. Retração da produção, queda do preço de venda, qualidade da colheita e a influência do clima são algumas das preocupações dos produtores do grão para o ano de 2020.

Esperança e busca por alternativas são as principais apostas dos cafeicultores que registraram prejuízos com a redução da produção de café no ano de 2019. Uma queda que representa mais de 20% em comparação a 2018, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Ainda de acordo com a Conab, a produtividade média de café no ano passado foi de 27,2 sacas por hectares, 17,8% menor em relação a 2018. A área total cultivada chegou a 2,13 milhões de hectares. Em comparação ao ano retrasado, houve redução de área tanto para a espécie arábica quanto para o conilon, em um total de 1,2%.

Muitos fatores podem influenciar essas mudanças bruscas nos dados de um período para outro. Apesar do resultado, a retração da produção do grão é considerada normal por muitos produtores.

O supervisor de negócios da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Coocacer), que hoje atende cerca de 500 produtores de Uberlândia, Araguari, Cascalho Rico e Indianópolis, Rodolfo Carneiro, explica que a queda em 2019 era esperada já que o ano anterior representou alta produtividade ou como costumam dizer, safra cheia. O grão alterna anos de alta produção com anos de baixa produção.

“Os períodos se intercalam. É comum termos um ano de safra cheia e outro nem tanto. Isso é natural porque faz parte da fisiologia da planta que precisa de um tempo para se recuperar e produzir mais”, explicou Carneiro.

Para Rodolfo, outros motivos ajudaram a piorar a situação que já estava ruim. Mudanças no tempo e também a queda no preço de venda das sacas prejudicaram ainda mais os produtores.

Atualmente, o preço médio da saca de 60 quilos é de R$ 410. Esse valor é 10% menor do que foi cotado em 2018, segundo o supervisor de negócios da Coocacer.

“São situações que não temos controle porque o preço do café é formado através dos índices nas bolsas de valores de Nova Iorque. Os Estados Unidos que opera o preço para trabalharmos, e qualquer interferência na economia mundial pode melhorar ou piorar tudo”, completou Rodolfo.

Rodolfo Carneiro, supervisor de negócios da Coocacer | Foto: Arquivo Pessoal


Ainda de acordo com o representante da cooperativa, a queda não aconteceu de um dia para o outro. A redução vem acontecendo desde 2017 e já foi registrado uma diminuição de 25% até 2019.

A cooperadora da Coocacer Evanete Peres Domingues, de 65 anos, presenciou todos esses problemas na sua lavoura, que fica no distrito do Amanhece em Araguari. Segundo ela, apesar de conseguir driblar a situação e colher uma boa quantidade de safra, a qualidade ficou abaixo do esperado. O tempo chuvoso de maio e seco de outubro e novembro causaram alguns prejuízos para ela.

“As chuvas de maio acabaram com uma boa porcentagem da minha plantação que estava em período de maturação. O preço que já estava baixo eu tive que vender mais baixo ainda devido à qualidade, que ficou comprometida”, lamentou Evanete.

Rodolfo ressalta também que o preço do café teve um aumento de 20% no início do mês de dezembro, mas os produtores já haviam feito a colheita e o grão plantado posteriormente ainda estava crescendo no período. “Isso gerou mais um descontentamento. A colheita é feita de junho a setembro quando o valor estava baixíssimo. Quando o preço aumentou novamente, os cooperados não tinham café para vender. É uma situação muito complicada”, finalizou Carneiro.
 
2020
A tendência para 2020 seria semelhante ao que aconteceu em 2018, safra cheia e preço regular de venda, mas como aponta Rodolfo Carneiro a situação está longe de acontecer. Devido ao histórico da produção de café e de todas as influências climáticas e financeiras em 2019, os produtores poderão continuar tendo dificuldades neste ano.

“A renda do cafeicultor em 2019 foi baixa então, consequentemente, ele terá menos recursos para tratar a lavoura e produzir a quantidade que costuma produzir. É um efeito cascata e a produção provavelmente continuará baixa neste ano”, ressaltou o supervisor.

A produtora Evanete está estudando alternativas para tentar escapar dos problemas, mas mantém o pé no chão e acredita que continuará tendo prejuízos. De acordo com ela, novos espaços para plantações e renovação na lavoura foram alguns dos investimentos feitos com o objetivo de evitar as dívidas.

“Eu espero e torço muito para que a situação melhore. Que o preço do grão volte ao valor normal e que eu não tenha perca de qualidade. Com certeza a minha produção cairá aproximadamente 60% em relação ao ano passado, mas se as coisas melhorarem nos outros fatores, já vai ajudar muito”, comentou a cafeicultora.

Rodolfo também torce para que o clima ajude na produção já que ele foi desfavorável no ano passado. “É necessário que as chuvas comecem em outubro para que a planta cresça novamente no tempo certo. Os sistemas de irrigação não são suficientes para aguar a plantação no período que ela mais precisa”, explicou.
 
PROCESSOS
Equipamentos utilizados no preparo do café proporcionam experiências diferentes | Foto: Bruna Merlin


Ferver a água, colocar o pó no filtro e ir despejando o líquido pelo coador até o café cair pronto na garrafa térmica ou xícara. Esse é um dos métodos mais conhecidos mundialmente de passar o café. Mas, atualmente, essa forma de preparo se tornou pequena perante aos inúmeros processos que proporcionam experiências sensoriais diferentes com a bebida.

Existem três tipos de torras típicas do grão. A torra clara acentua a acidez e o aroma com suavidade do sabor; a média traz o equilíbrio entre a acidez, o aroma e o amargor; e, por fim, a escura deixa o café menos ácido, mais amargo e menos incorporado. Com o tempo, as cafeterias brasileiras se especializaram em outras variedades e hoje é possível encontrar mais de 20 jeitos de fazer a torrefação. Não é à toa que cerca de 95% da população do Brasil consome o produto, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

A cafeteria Mundo Café, localizada no bairro Fundinho em Uberlândia, funciona há quase um ano e meio e é especializada em café premium. O nicho, que é novo no Brasil e que cresce a cada dia que passa, é habilitado em produzir a bebida de acordo com as características sensoriais.

“Os tipos de torrefação vão muito além dos tradicionais. A torrefação é feita de forma que você potencialize todas essas características do café. Nós temos um torrador profissional que faz uma curva de torra buscando o ápice de qualidade do sabor da bebida. É um equilíbrio entre doçura, acidez, corpo e finalização”, explicou a administradora da Mundo Café, Paula Dulgheroff.

Os jeitos de preparo da bebida também apresentam uma variedade imensa. Além do café coado e expresso, existem outras alternativas como a prensa francesa que preserva os óleos naturais e ressalta o sabor da bebida, o aeropress que resulta em um café suave e saboroso com menos amargor e acidez e outros métodos que proporcionam sabores, texturas e aromas diferentes.
Na Mundo Café são oito tipos de processos utilizados para a preparação do café. Segundo Paula, cada um garante uma interação diferente com a água e o café, promovendo sensações de sabor diversas.
 
Dá para fazer em casa?
Torrador “bolinha” é utilizado para processo feito em casa | Foto: Divulgação

A reposta para a pergunta é sim! Para aqueles que querem se aventurar e conhecer ainda mais sobre o produto, vários equipamentos e formas podem ajudar na hora de torrar o grão.

Dentre os métodos mais conhecidos para fazer a torrefação em casa, pode-se utilizar uma pipoqueira elétrica, o forno convencional, a bolinha e também a boca do fogão. É importante ficar atento à mudança gradual da cor do grão para que ela não ultrapasse e possa proporcionar o sabor escolhido por quem irá consumir. Acrescentar outros ingredientes como raspas de casca de laranja, chocolate e canela também potencializam o aroma e sabor da bebida.

Moer o próprio café também é uma dica para as pessoas que gostam da bebida fresquinha. De acordo com a Paula Dulgheroff, esse método acaba preservando mais as características sensoriais do grão do que a torrefação, que é considerado um processo complexo para os iniciantes. O grão pode ser moído em equipamentos específicos para o trabalho como moinhos portáteis e elétricos.








 

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