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01/12/2019 às 10h32min - Atualizada em 01/12/2019 às 10h32min

Câmara de Uberlândia vive maior crise institucional da história

Após operações do Ministério Público, três vereadores foram afastados e um renunciou

SÍLVIO AZEVEDO
Leandro Neves, Marcelo Cunha, Sargento Ednaldo e Walquir Amaral | Foto: Divulgação
No dia 21 de setembro de 1999, o então vereador João Batista Pereira foi condenado a três anos de reclusão pela 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais nas esferas criminal e cível pela prática de crime de peculato - apropriação indevida de dinheiro público. Na época, ficou-se comprovado que o legislador teria adulterado notas fiscais em uma viagem para Belo Horizonte para ser ressarcido pela Câmara Municipal uma quantia maior do que a gasta. Situação que acabou lhe custando o mandato. Passados 20 anos, o legislativo municipal vive outra crise institucional – a maior de sua história - com o afastamento de três vereadores e a renúncia de outro.

Dois deles, Alexandre Nogueira (PSD) e Juliano Modesto (suspenso do SD), são investigados por envolvimento em fraude no serviço de transporte escolar e desvios de verbas de gabinete da Câmara Municipal, nas Operações Torre de Babel e O Poderoso Chefão, ambas investigadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Além disso, os dois já são réus pelo crime de obstrução de Justiça. 

O vereador Ismar Prado (PMB) renunciou, em acordo de não-persecução penal celebrado com o Ministério Público Estadual, após confessar que desviou verba de gabinete. Já o líder do prefeito na Casa, Wilson Pinheiro (PP), foi preso e teve o mandato suspenso suspeito de ter autorizado a contratação irregular de escritório de advocacia para acompanhar os trabalhos da CPI que apurava o caso das vans escolares, mediante dispensa de licitação.

Em relação aos desvios de verba indenizatória, o Ministério Público ainda deverá proceder as investigações em caso de novas denúncias ou fatos relacionados às empresas investigadas. Os casos também deverão ser repassados à Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público para instauração de inquéritos por atos de improbidade.

As vagas de Juliano Modesto e Ismar Prado já foram ocupadas por Walquir Amaral e Marcelo Cunha, respectivamente. Nesta semana será a vez de Leandro Neves (PSD) e Sargento Ednaldo (PP) assumirem as vagas de Alexandre Nogueira e Wilson Pinheiro.

Três dos quatro vereadores substituídos fazem parte da bancada de apoio ao prefeito Odelmo Leão. Para o chefe do Executivo, é importante que o Legislativo faça uma reflexão sobre os acontecimentos. Sobre o envolvimento do líder na Câmara, Wilson Pinheiro (PP), Odelmo crê na inocência do parlamentar e não deve substitui-lo.

“Foi ele [Wilson] o responsável por liderar o processo de investigação que apontou contratação irregular no transporte escolar durante o mandato anterior ao meu. Wilson é meu indicado para líder do governo e, enquanto estiver impedido, a função será exercida naturalmente pelo vice-líder Wender Marques”, disse Odelmo ao Diário.

Sobre a representatividade, o prefeito não teme ter dificuldade de aprovar projetos que o Executivo envia à Câmara Municipal devido a mudança dos vereadores. “Os projetos do Município são elaborados sempre em benefício de Uberlândia e do nosso povo. Os vereadores, independentemente de quem ocupe o cargo, devem respeitar a cidade e trabalhar por ela”.
 
EMPOSSADOS
Dos quatro suplentes convocados, dois já tomaram posse. O primeiro foi Walquir Amaral, primeiro suplente do partido Solidariedade que teve 1.526 votos em 2016. Ao analisar a situação da imagem do Legislativo, ele acredita que a população está revoltada e que a política se encontra em descrédito.

“A população precisa muito mais do que a figura de vereador, ela quer um fiscal que faça o seu papel para o qual foi eleito para fazer. E elas acabam perdendo essa esperança em relação ao político. Agora, nesse momento, as pessoas devem ter um pouco de zelo e paciência nesse momento com quem está entrando”.

Mesmo assumindo o mandato por um tempo indeterminado, já que a qualquer momento Juliano Modesto pode ter um habeas corpus deferido, sair da cadeia e reassumir o cargo, Walquir acredita que pode fazer um bom trabalho.

“Desde que reunimos com a equipe, uma frase tem norteado nosso trabalho: ‘O povo tem pressa’, e nós só temos o hoje. Porque se a gente for parar para dimensionar todo um projeto a médio longo prazo, não temos esse tempo. Então estamos fazendo o possível para atender o que é possível de se atender hoje. Sem falácias, promessas e demagogias”.

Outro recém-empossado é o advogado e ex-diretor administrativo da Câmara Marcelo Cunha, que atualmente está sem partido após o seu partido, o PPL, se fundir com o PC do B . Marcelo assumiu a vaga deixada por Ismar Prado, portanto é o único dos suplentes que tem mandato garantido até o final de 2020, já que os demais estão afastados por determinação judicial.

Atuando dentro da Câmara Municipal como assessor jurídico de outros vereadores (ele era assessor de Ismar Prado) e como diretor administrativo da casa há 14 anos, Marcelo Cunha se diz preparado e afirma que fará um trabalho voltado para os interesses da população.

“Assumi na terça-feira (26) mas sempre trabalhei na Câmara Municipal, tem 14 anos, então conheço o trâmite. Prestei assessoria jurídica até na Comissão de Finanças e Orçamento, vamos estar com a LOA a ser votada em dezembro. Então não estou chegando, vamos dizer, cru”.

Sobre sua posição política dentro da Câmara, Marcelo chega com discurso de independência, e afirma que vai votar a favor de todos os projetos que entender serem benéficos para os cidadãos e lutar para o bom funcionamento dos trabalhos.

“A princípio, vou com minha postura de independência. Estou aqui para contribuir para a cidade e a população. Então os projetos que vierem do Executivo e que trarão benefícios para a população terão o meu apoio. Caso contrário, vou ter a tranquilidade de votar contrário”.
 
POSSE
O quadro de vereadores que irão compor o plenário no último mês de 2019 será completado com dois novatos. Leandro Neves e Sargento Ednaldo. Os dois serão empossados amanhã, conforme recomendação do Ministério Público.

O administrador Leandro Neves é filiado ao PSD e entra na vaga de Alexandre Nogueira. Ele acredita que assumirá em um momento que a Câmara Municipal passa por desconfiança devido aos casos de corrupção que estão sendo investigados.

“O momento é muito ruim. O tempo está fechado. Minha visão é de que a imagem da Câmara não está favorável devido aos acontecimentos e a população generaliza. Deus manda aquele fardo que a gente pode carregar. Estou preparado para estar lá, respeitar aquilo que a população espera de um legislador”.

Sobre a responsabilidade de assumir uma cadeira na Câmara em meio a escândalos, Leandro diz que espera fazer jus à confiança que os eleitores deram a ele nas eleições de 2016, quando obteve 2.001 votos.

“Já tenho minha frente de trabalho, dependo muito de mim mesmo, do meu trabalho, meu suor. Quando estiver lá, por ter uma remuneração pública, a responsabilidade aumenta, compromisso aumenta. Mas tenho a consciência tranquila que vamos legislar para o povo, fazendo o que é correto, do bem, com resultados efetivos para a população”.

Sobre o posicionamento durante as votações, Leandro Neves foi direto. “Tenho uma grande afinidade com a gestão do prefeito Odelmo, mas temos a nossa forma de pensar. Se entendermos que os projetos do prefeito são bons, iremos votar a favor, mas se não entendermos assim, votaremos contra”.

O outro vereador a ser empossado é o Sargento Ednaldo (PP). Seus 1.817 votos garantiram a primeira suplência do partido e, com o afastamento de Wilson Pinheiro, o direito de assumir uma cadeira no Legislativo pela primeira vez.

“Desde o colégio fazia parte do grêmio estudantil, representante de classe, então sempre participo ativamente. Em 2012, eu concorri à primeira eleição em Uberlândia, tive 868 votos. Em 2016, tive 1.817 votos, sendo primeiro suplente do PP. Desde quando me candidatei estou preparado para ser vereador. É um desafio e estou pronto para trabalhar em prol da população de Uberlândia”.

Do mesmo partido do prefeito, Sargento Ednaldo ainda não se encontrou com Odelmo Leão, mas se mostra alinhado idelogicamente para a votação de pautas enviadas ou de interesse do Executivo.

“Eu acredito que os projetos que o prefeito sempre encaminha são de interesse da população. E como somos da base aliada, o que é benefício ou de interesse da população caminharemos juntos”.







 

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