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07/10/2019 às 08h04min - Atualizada em 07/10/2019 às 11h05min

Entidades assistenciais ganham menos doações em Uberlândia

Redução chega a até 50% e força instituições a se reestruturarem; muitas apostam em campanhas

SÍLVIO AZEVEDO
Apae precisa de R$ 120 mil mensais para manter atividades | Foto: Divulgação
Entidades assistenciais de Uberlândia sofrem com a diminuição de doações de pessoas físicas e jurídicas. Em alguns casos, as quedas chegam a 50% do valor arrecadado até o início da crise econômica. Independentemente do segmento de atuação, com menos dinheiro em caixa, as diretorias se desdobram para manter os atendimentos. Todas as cinco entidades ouvidas pela reportagem do Diário de Uberlândia recorrem a ações para captar mais recursos, seja por meio de eventos ou campanhas de arrecadação. A maioria delas também recebe ajuda do poder público para manter os atendimentos.

O Jornal Diário de Uberlândia conversou com cinco instituições que oferecem serviços assistenciais de Uberlândia. Em todas as entrevistas, a resposta foi a mesma: diminuíram as doações. Uma das entidades ouvidas, que realiza atendimento gratuito para a população, é a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Uberlândia. Atualmente são aproximadamente 330 usuários, entre adultos e crianças, que recebem treinamento de capacitação para o mercado de trabalho e atendimentos de saúde.

De acordo com a presidente da instituição, Mirelle Vilela Freitas Guimarães, a queda nas doações foi de cerca de 40% nos últimos anos. “Hoje, o TeleApae repassa cerca de R$ 10 mil. Entre os motivos dessa queda, posso apontar o grande número de instituições que precisam e pedem doação e a crise econômica. Quem doava R$ 10, doa R$ 5. Quem fazia doações de valores mais relevantes, deixou de doar”, disse. 

A diminuição da receita com doações acaba refletindo no número de atendimentos feitos pela Apae. “Sem as doações, não dá para abrir mais vagas, pois para isso, teria que ter mais profissionais. À medida que um profissional sai, eu nem contrato outro para controlar a folha salarial”, explicou Mirelle Vilela.

Para manter a entidade em funcionamento, são necessários R$ 120 mil. Atualmente, as receitas vêm, além das doações, de emendas parlamentares, multas pagas por empresas ou pessoas físicas, e campanhas, como a tradicional Galinhada da Apae.
“Neste domingo [hoje], tem esse evento que ajuda na captação de recursos. Quem quiser, pode vir à sede da Apae, no Cidade Jardim, pagar R$ 15 e comer uma boa galinhada. É uma das formas que a gente encontra para captar recursos financeiros”, disse a diretora.

ACRAAC
Equipe da Associação de Amparo a Crianças, Adolescentes e Adultos com Câncer, durante ação do Outubro Rosa | Foto: Divulgação

A Associação de Amparo a Crianças, Adolescentes e Adultos com Câncer (Acraac) atua há 16 anos oferecendo atendimentos sociais a pacientes em tratamento contra o câncer e seus familiares. A instituição também sofre com a queda nas doações, chegando a 25%. E isso afeta diretamente nos serviços oferecidos.

Segundo a gestora da Acraac, Cândida Batista da Silva, são mais de 500 pessoas de Uberlândia e de 10 cidades da região que são atendidas e, para manter os compromissos em dia, foi necessário fazer adequações.

“Devido à crise, já tem um tempo que a entidade passa por esses apertos. Eu creio que desde 2016 a gente vem sofrendo essas situações, mas nós temos tentado se adequar. Diminuímos o aluguel com a mudança de endereço, diminuímos a quantidade de colaboradores. Nos adequamos para poder sobreviver”, disse.

Para manter os custos operacionais da entidade, que gira em torno de R$ 180 mil mensais, além das doações, são realizados bazares e outras fontes de captação de recursos. Mesmo assim, a Acraac acaba atrasando alguns compromissos.

“A gente tenta não deixar atrasar os benefícios dos assistidos, mas às vezes atrasa um pouco. Quando a gente tem prioridades, aí deixa de pagar uma coisa para pagar outra”, disse a gestora.

A Acraac é uma entidade que oferece atendimento social, com psicólogos, psicanalisas, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionista para pacientes e também à família. “Fornecemos cesta básica, suplementos, remédios e leites especiais, como os sem lactose, de soja, para quem está em tratamento e não pode comprar. São cadastrados 30 colaboradores, mas já tivemos 60. Diminuímos para não deixar de cumprir os compromissos”, disse.

Já a Ação Moradia atende, diariamente, 234 crianças do extremo leste de Uberlândia, além de oferecer qualificação profissional a 440 adultos de baixa renda.

Para colocar em prática todos seus projetos, a Ação Moradia precisaria de um orçamento de R$ 1.959.731, mas fechará 2019 com R$ 1.371.812. Em relação às doações, os valores despencaram de 2014 a 2019, passando de R$ 56.801 para R$ 32.112 anuais.

“Não temos conseguido muitos recursos de doações. Fazemos campanha onde disponibilizamos a conta bancária para transferência direta e também em boletos, mas estamos com dificuldades. Para equilibrar as contas temos que realizar contenção de gastos, que acaba influenciando diretamente no atendimento ao público”, explicou a coordenadora de projetos, Franciele Ferreira Gregório Duarte.

Para manter o funcionamento da instituição, além da subvenção que recebe do Município, a Ação Moradia realiza eventos e campanhas de doação. O principal deles é a Festa Junina, que acontece há 23 anos. “É um grande evento, que dura um mês inteiro e não há condições de deixar de fazer, pois é excencial para a manutenção da instituição. Neste ano foram arrecadados R$ 122 mil líquidos. Não é muito, mas é excencial para poder cobrir com algumas despesas.”

AACD
A Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) oferece atendimento de saúde para crianças portadoras de deficiência. A entidade foi fundada em Uberlândia em agosto de 2001 e atende oito patologias, quatro especialidades médicas e diversas terapias de reabilitação.

De acordo com a gerente administrativa da AACD Uberlândia, Cinthia Borges, apesar da queda no número de doações, os atendimentos não foram afetados pois buscou-se formas de compensação.

“Neste ano houve uma queda nas doações, que não interferiu nos atendimentos, pois a unidade buscou outras fontes de captação como a Feira de Artesanato e outros eventos realizados ao longo de 2019. Outra forma de captação é o Teleton, que será realizado nos dias 25 e 26 de outubro, que colabora com as nove unidades da instituição em todo país”, afirmou.

Para manter a instituição funcionando são necessários R$ 5 milhões anuais e as doações representam 14% da receita. As outras formas de receitas são os mantenedores, com doações mensais, a Corrente do Bem, que é a doação via cofrinhos instalados no comércio, doações de produtos diversos para o Bazar, doações espontâneas e eventos.
 
APA
Associação Protetora dos Animais atende hoje 360 cães e 68 gatos | Foto: Divulgação
 
Não são só as entidades que cuidam de pessoas que passam por dificuldades. A Associação Protetora dos Animais (APA) de Uberlândia também se esforça para manter em funcionamento sua sede, que hoje tem 438 animais - 360 cães e 68 gatos -, em um local projetado para abrigar 250. O custo mensal para manter a estrutura, que conta com três veterinários, é de R$ 40 mil mensais.

De acordo com o presidente da APA, Elson Torres, a entidade perdeu cerca de 50% de doações em quatro anos. “Até 2015 a gente recebia entre 50% a 60% do que era necessário, entre produto de limpezas, ração, remédios. Tínhamos que correr atrás de 40% restante para pagar funcionários, água, luz, impostos. Hoje não recebo 30%. Nesses quatro anos, caiu pela metade [o número de doações]”, disse.

Elson afirma que a entidade nunca foi autossuficiente. Para garantir a compra de 4 mil quilos de ração, remédios, produtos de limpeza e os custos operacionais, são realizadas diversas ações junto à comunidade. “Eu tenho que correr atrás com os eventos que faço: venda de camisetas, chaveiro, caneca, boné, pedágios que a gente faz nas ruas, 80 cofrinhos espalhados no comércio, pizza solidária, que é uma das minhas maiores fontes de renda”, afirmou.

REPASSES
Para ajudar entidades do terceiro setor, que são iniciativas privadas de utilidade pública, a manter a prestação de serviços, a Prefeitura de Uberlândia repassou, em 2018, mais de R$ 59 milhões, divididos entre seis secretarias. Para este ano, houve um aumento de cerca de 9% no orçamento de subsídios, passando para R$ 64.604.146,69.

Das cinco entidades entrevistadas, apenas a Acraac não recebeu subvenção. Para a Ação Moradia foram destinados R$ 989.903,80; Apae, R$ 299.898,96; APA, R$ 100 mil; e a AACD, R$ 207.270. Os dados estão disponíveis no Portal da Transparência do Município.
 
 
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