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25/08/2019 às 09h56min - Atualizada em 25/08/2019 às 09h56min

Feira agropecuária do Camaru já dividiu espaço com associação comercial

Atual Parque de Exposições sedia a maior festa popular de Uberlândia e tem história pouco conhecida fora do Sindicato Rural

VINÍCIUS LEMOS
Primeiro Parque de Exposições foi fundado na Avenida Vasconcelos Costa | Foto: Sindicato Rural de Uberlândia/Arquivo
O próximo dia 30 de agosto marca o início oficial da 56ª edição da Exposição Agropecuária de Uberlândia, ou simplesmente Camaru 2019. A maior festa popular da cidade, realizada durante as comemorações do aniversário de Uberlândia, contudo, só existe da forma como se conhece hoje, seja em formato e local há 37 anos, desde que o parque de exposições na zona sul foi criado no início dos anos de 1980 pelo Sindicato Rural de Uberlândia. Dali, saíram três prefeitos de Uberlândia – Virgílio Galassi, Paulo Ferolla e Odelmo Leão. A história da tradicional festa envolve negócios agropecuários, shows e um salto estrutural para a entidade, seguindo uma tendência de grandiosidade da época para o Município, a exemplo de outras obras imponentes existentes como o Parque do Sabia e o Estádio Municipal.

As primeiras exposições agropecuárias de Uberlândia aconteceram no início da década de 30, como pequenas mostras de gado nos fundos da Santa Casa de Misericórdia, que ficava na Avenida Floriano Peixoto, no centro da cidade. Com o passar do tempo e o crescimento da cidade, o espaço se tornou proibitivo para eventos desse tipo, sendo necessária uma nova área para abrigar os eventos com animais.

A até então denominada Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Uberlândia (Aciapu) deixou o espaço e fundou em 1936 o primeiro Parque de Exposições Agropecuárias, situado na Avenida Vasconcelos Costa, no bairro Martins. Ali foi realizada a primeira Exposição Agropecuária de Uberlândia, cujas edições não eram anuais. As exposições já nesta época envolviam paradas, shows e mostras de animais, sempre próximo ao aniversário da cidade, em agosto.

Parque de Exposições começou a ser pensado no fim da década de 1970 | Foto: Sindicato Rural de Uberlândia/Arquivo

A nova sede comportou as feiras durante 45 anos. Nesse período, já na década de 1960, um grupo de pecuaristas da Aciapu tomou a iniciativa de criar uma Associação Rural, com o apoio da Associação Comercial e Industrial (Aciub), desmembrando as entidades. Em 1965, então, por determinação da Lei Federal 4.214, a Associação mudou o nome para Sindicato Rural de Uberlândia. Atualmente, são 897 associados.

O atual presidente do Sindicato Rural, Gustavo Galassi Gargalhone, relembrou que até seus sete anos de idade participava das cavalgadas em uma pequena charrete com seus familiares. Um pouco mais velho, já montava um cavalo da raça piquira. “Eu era menino no parque antigo e tinha esse cavalo. Tenho a lembrança de participar do desfile pelo Centro, até a (avenida) Afonso Pena. Eu ia no cavalinho preto”, conta. As cavalgadas movimentavam a cidade, que tinha as ruas fechadas por onde os cavaleiros passavam.

A lembrança remete ao final da década de 1970, mesmo período em que o atual Parque de Exposições começou a ser pensado. “Eu tenho essa imagem do meu pai dizendo: ‘Nesse mato vai ser o parque de exposição’. Eu lembro que não tinha nada. Era uma represa com captação de água e um calçamento”, disse Gustavo Galassi ao citar uma fala de seu pai, Lione Tannus Gargalhone, ainda entre os anos de 1979 e 1980.
 
MOBILIZAÇÃO
Lione Gargalhone foi atrás de empresários para encontrar a nova área | Foto: Divulgação 
 

ARQUIVO SINDICATO RURAL DE UBERLÂNDIA
Presidente João Batista Figueiredo esteve na inauguração do Camaru em 1982
 
“O Sindicato Rural era na avenida Vasconcelos Costa e não cabia mais animais e estandes. Era muito pequeno. A feira desenvolveu e estava no meio da cidade, onde é a Aciub hoje. Eu era associado e pedi autorização para ver se conseguia uma área que cobrisse a intenção do nosso projeto de sede do Sindicato. Era um desafio para mim e para o Odelmo Leão (antes dele ser presidente da instituição). Achamos uma saída. Fomos atrás de empresários de Uberlândia para procurar uma área para doação. Conseguimos mais de uma”.

O relato ao Diário é do ex-vice presidente Lione Gargalhone sobre o trabalho para que um novo espaço fosse pensado e construído para receber o Sindicato Rural. Das três áreas viáveis, a considerada era, em sua maior parte, do Município de Uberlândia, onde hoje está o bairro Pampulha, marcado principalmente pela presença do córrego Lagoinha. Lá, havia captação de água e como descrito pelos entrevistados, era um grande brejo.

Pela distância de aproximadamente 5 km do Centro, seria ideal para a construção da sede, que no bairro Martins passou a ser engolida pela expansão urbana de Uberlândia. Com doações de outros produtores com terras no entorno da área municipal, o Sindicato, então, elaborou um projeto e o apresentou ao último presidente do período de ditadura militar, General João Figueiredo, ainda no ano de 1980 em visita a Uberlândia. Na edição especial da revista Eqüinos, sobre a inauguração do novo Parque de Exposições, é contada a história de que o mandatário federal chegou a questionar a viabilidade do projeto em dois anos, já que a doação das áreas previa esse tempo máximo para finalização antes que as terras voltassem aos proprietários.

O projeto previa a ocupação da área de 270 mil m2 com pavilhões para atividades agrícolas, com cavalos e gado, além de áreas para piscicultura, hípica, alojamento, restaurantes, além das arenas, alojamentos, estacionamentos e a administração do próprio sindicato.

Em entrevista à mesma edição, o produtor Odelmo Leão explicou que a execução do projeto começou em fevereiro de 1981, com aplicação de 90 milhões de cruzeiros, moeda da época, levantados com a venda da antiga sede da entidade. Ao fim, o valor total da obra chegaria a 450 milhões de cruzeiros, o que convertido ao real equivaleria a R$ 163,6 mil aproximadamente.

Estima-se que pelo menos 30 pessoas e empresas estiveram envolvidas diretamente para que as obras acontecessem, principalmente com algum tipo de ajuda, seja em doação de trabalho, materiais e espaço. Em agosto de 1982, a nova sede do Sindicato Rural foi entregue. “O lugar é o Sindicato Rural, mas o nome artístico é o Camaru”, disse Gargalhone.

Presidente João Batista Figueiredo esteve na inauguração do Camaru em 1982 | Foto: Sindicato Rural de Uberlândia/Arquivo

A sigla
Citada muitas vezes com entonações diferentes pela população - seja “camarú” ou “camáru” -, o nome do complexo é um mistério para muitas pessoas. Entretanto, trata-se de uma sigla para o chamado parque escola, que foi criado não apenas como sede na instituição que agrupa os produtores rurais do Município, mas também tem atividades para os vários segmentos da atividade.
Em carta ao presidente João Batista Figueiredo, em 1982, o então presidente do Sindicato Rural Walter Alves Carneiro cita: “Em vossas mãos entregamos, com orgulho, o CAMARU – CENTRO DE AMOSTRA E APRENDIZAGEM RURAL DE UBERLÂNDIA”.
 
Shows marcaram a festa
Para o ano de 2019, a agenda de shows da Exposição Agropecuária de Uberlândia segue a tradição de nomes famosos de cantores, principalmente voltados ao gênero sertanejo. Serão 13 atrações ao todo. Historicamente ligado a esse tipo de evento, o produtor Roberval Carné Borges, conhecido apenas como Peninha, está afastado da festa há alguns anos, mas durante 24 edições ele organizou o time de atrações. “Foi entre 1983 e 1984, o primeiro show (que ele fez) foi muito grande, Jair Rodrigues e Chitãozinho & Xororó, que vinham com o sucesso ‘Sua Majestade o Sabiá’”, lembra.

O sertanejo sempre foi o carro chefe da programação cultural. Contudo, Peninha conta que com seus parceiros, montou uma lista de atrações que variavam de nomes como Chico Rei & Paraná, Roupa Nova e Ultraje a Rigor, a João mineiro & Marciano e Raça Negra. Os gêneros e atrações dependiam do gosto do público e de cada época.

Com a experiência conseguida no Camaru, Peninha afirmou que chegou a fazer mais de 30 feiras agropecuárias em um ano, organizando shows para aproximadamente 300 nomes. Por isso, ele guarda respeito ao evento em Uberlândia. “Camaru é a festa de Uberlândia. Eu mexo com show, mas não deve ser só isso, eu acho que deve haver o envolvimento de toda a comunidade”, afirmou.
 
Airton Teodoro
Airton Teodoro optou por sanar as dívidas do Sindicato | Foto: Divulgação
 
Foi em uma mesa que data da antiga sede na avenida Vasconcelos Costa que o associado e ex-diretor do Sindicato Rural de Uberlândia Airton Teodoro, também conhecido como Tio Airton, recebeu o Diário para um papo sobre seu trabalho na entidade. Citado por associados e parceiros como uma ‘lenda viva’ envolvendo os trabalhos do sindicato, no dia 16 de setembro, após mais uma festa do Camaru, ele vai completar 90 anos.

Ele é um dos mais antigos associados vivos, e uma das histórias mais importantes envolvendo Teodoro foi sua organização das contas da entidade em meados dos anos 1980, em uma das passagens como tesoureiro. “O sindicato devia. Me perguntaram, o que vamos fazer? Deveríamos pagar as contas, porque uma entidade que não deve e tem credibilidade é mais fácil de gerir assim do que com dinheiro em caixa. Trabalhamos e acertamos tudo”, resume a história.

Contudo, segundo o que consta, com um plano de levantar dinheiro entre associados e diretores, Airton Teodoro sanou as contas e para isso sacrificou o próprio bolso pagando funcionário do sindicato. Posteriormente, os doadores também foram ressarcidos. “Ele, na hora ruim, segurou as pontas e até emprestou dinheiro. Isso aqui é história viva do sindicato”, disse Gustavo Galassi, atual presidente.

Teodoro conta que desde que foi colocado no sindicato, esteve à frente de trabalhos diversos, seja ajeitando qualquer problema que acontecia nas festas ou mesmo nas várias recepções de autoridades. Perguntado como eram essas recepções, ele disse que não sabia muito bem. “Para aparecer numas coisas (como as recepções) tem que ter conhecimento, eu não tinha tempo, ficava só trabalhando por aqui. A coisa acontecia lá e tinha problema aqui e acolá, e tudo era o Airton e a gente tinha que resolver. Tinha dia que ficava até de madrugada fazendo serviço aqui”, explicou.

A própria mesa em que a conversa aconteceu, ele lembra de estar envolvido em sua compra e moldagem. “Essas cadeiras eu que mandei fazer ali no (bairro) Fundinho. Isso aqui tudo é de bálsamo”.
 
Relação de presidentes do Sindicato Rural:
1948-1952 Misael Rodrigues de Castro
1952-1956 Nicomedes Alves dos Santos
1956-1958 Odilon Custódio Pereira
1958-1963 Virgílio Galassi
1963-1965 Bolivar Ribeiro
1965-1970 Geraldo Migliorini
1970-1973 Paulo Ferolla da Silva
1973-1980 José Zacarias Junqueira Junior
1980-1983 Walter Alves Carneiro
1983-1990 Odelmo Leão Carneiro Sobrinho
1990-1998 Luiz Humberto Carneiro
1998-2009 Paulo Roberto Andrade Cunha
2009-2012 Paulo Ferolla da Silva
2012-2018 Thiago Soares Fonseca
2018 - atual Gustavo Galassi

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