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18/08/2019 às 11h11min - Atualizada em 18/08/2019 às 11h00min

Residencial Pequis se desenvolve mais rápido que o Monte Hebron

Bairros foram lançados juntos na zona oeste de Uberlândia e têm atraído comércios; Diário de Uberlândia conversou com moradores

SÍLVIO AZEVEDO
Ruas dos bairros Monte Hebron e Pequis | Foto: Sílvio Azevedo

Entregues em dezembro de 2016, os bairros Residencial Pequis e Monte Hebron, na região oeste de Uberlândia, têm se desenvolvido de maneiras diferentes desde então. Enquanto o primeiro cresce em ritmo acelerado, com grande presença de comércio, condomínios e equipamentos sociais, o segundo caminha a passos mais lentos.

Na última semana, o Diário de Uberlândia foi aos dois bairros para conversar com os moradores que se mudaram no início das habitações e constatou que há diferença de tratamento e investimentos públicos e privados, o que não significa que as 7 mil famílias que residem nos locais estão completamente insatisfeitas.

As principais reclamações, no entanto, foram de moradores do Monte Hebron, o primeiro bairro a ser entregue, no início de dezembro de 2016. Desde então, são mais de 2,1 mil casas construídas e habitadas por cerca de 3 mil moradores. Uma vida simples, um bairro novo, mas com velhas reclamações, que passam pela falta de estrutura e opções de lazer. 

Moradora desde o início do Monte Hebron, Maria Aparecida Beroldo Xavier vê o crescimento do bairro bem atrasado em relação ao Pequis. “Não teve evolução desde então. Aqui, farmácia não abriu até hoje, não tem uma lotérica. Para pagarmos a prestação da casa tenho que sair daqui e ir lá no Canaã. Se não tem dinheiro para o transporte, tem que ser a pé. Falta também a abertura de mais equipamentos sociais por parte da Prefeitura”, afirmou.

Maria Aparecida Beroldo Xavier vê desenvolvimento mais lento no Monte Hebron, onde mora | Sílvio Azevedo


Mesmo assim, Maria Aparecida disse que é feliz por morar no Monte Hebron, principalmente porque se livrou do aluguel para ter a casa própria. “Gosto muito de morar aqui. Morava de aluguel no Morumbi e foi bom demais [me mudar]. Pagava R$ 600 [de aluguel] e hoje pago R$ 85 [de prestação]”, disse.

Quem também se mudou no início da habitação do bairro foi a autônoma Anaísa Ferreira. Assim como Maria Aparecida, ela acha que o bairro pouco evoluiu nesses três anos e reclama da falta de equipamentos sociais para crianças e adolescentes.

“Só funcionam as escolas e a UBSF [inaugurada em abril de 2019 após dois anos fechada, apesar de pronta]. O transporte também tem atendido à demanda. Tenho um filho de nove anos que não tem atividade extra turno por falta de um equipamento social. Então trago ele comigo [ela é vendedora ambulante na porta da Escola Municipal Professora Luizmar Antônio dos Santos]. Enquanto fico vendendo, ele fica andando de bicicleta”, disse.

O Núcleo de Apoio Integral à Criança e ao Adolescente (Naica) mais próximo do Monte Hebron é o do Jardim Célia, mas pela distância, Anaísa Ferreira teria que contratar uma van para levar e buscar o filho, o que é inviável financeiramente.

SEGURANÇA
Um morador, que não quis se identificar, apontou a falta de segurança como um dos problemas do bairro. Para ele, falta policiamento e a violência, principalmente do tráfico, é presente no dia a dia dos moradores.

De acordo com a presidente da associação de moradores do Monte Hebron, Elenice Ferreira, são várias as demandas necessárias para dar melhor qualidade de vida da vizinhança. “Desde que mudamos para cá, o que mudou foi que agora temos escola, a Emei [Escola Municipal de Educação Infantil] e a UBSF [Unidade Básica Saúde da Família], mas infelizmente a escola atende do 1º ao 5º. Do 6º ao 9º as crianças devem procurar outros bairros. Precisamos que a Prefeitura dê manutenção nas quadras, pois as traves e as telas estão danificadas. Também é necessária a construção de um Ecoponto para descarte correto de materiais de construção”, disse.

NEGÓCIOS
Apesar dos problemas e do desenvolvimento mais lento, há quem veja no Monte Hebron uma oportunidade de negócios, como Arthur Aparecido Lopes. Ele começou com um pequeno estabelecimento comercial e hoje é dono de um supermercado. “Quando vim para o bairro, comprei o estabelecimento comercial de um amigo. Tinha muita casa, mas não muitos moradores e nem comércio. Tem dois anos que comecei e hoje já cresceu bastante”, disse.

A escolha do comerciante foi uma tentativa arriscada, mas que acabou dando certo e ele disse que não se arrepende. O supermercado acabou mudando duas vezes de lugar e hoje está em um local mais amplo. “Vim na cara e coragem. Eu moro no Jardim Holanda e nem conhecia o Monte Hebron. Quando vim a primeira vez, cheguei a assustar. Era um bairro muito simples, com casas sem muros. Aos poucos, outras empresas vieram para cá e eu resolvi ampliar o meu negócio, que graças a Deus está prosperando”, afirmou Lopes.
 
COMÉRCIO
Comércio em avenida no bairro Pequis | Foto: Sílvio Azevedo 
 

Enquanto o Monte Hebron demora a avançar, o Pequis segue em desenvolvimento. O residencial foi entregue no final de dezembro de 2016. No início, foram 1,3 mil famílias beneficiadas com as casas através do programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, e viabilizadas pela Prefeitura de Uberlândia.

Quase três anos depois, o bairro cresceu. Mais casas foram entregues e, de acordo com a Associação de Moradores do bairro, atualmente são mais de 4 mil famílias presentes. E o número não para de crescer. Quem visita a região encontra condomínios e novas casas sendo construídas, uma rede de comércio bem estruturada, com farmácias, casas de construção, supermercados e lojas diversas.

Segundo o presidente da associação, Tiago Abadio Costa, o bairro evoluiu muito nestes três anos. Se anteriormente não havia estrutura adequada para atender os moradores, aos poucos o Pequis foi recebendo equipamentos sociais e o comércio começou a chegar.

“Eu mudei no dia 2 de janeiro de 2017. No início era um pouco assustador. Um bairro novo, com muita gente desconhecida, desprotegido, sem comércio, segurança, escola, posto de saúde. Estava bem desamparado. Tudo que a gente precisava tinha que percorrer uma certa distância. Hoje a realidade é outra. Mesmo em pouco tempo, houve um desenvolvimento no comércio, no social. Ainda falta muito, mas o desamparo que se tinha não é tão sentido”, disse.

Mesmo assim, ainda existem algumas demandas por parte de moradores, como um Ecoponto, ampliação do sistema de transporte público e mais opções de lazer e esportes.

No decorrer dos anos, o Pequis tem recebido equipamentos públicos. Já foram instaladas duas escolas de ensino fundamental, três Escola Municipal de Educação Infantil (Emeis), uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) com três equipes do Programa Saúde da Família (PSF), inaugurada em março. Em fevereiro deste ano, a Prefeitura inaugurou uma nova unidade do Núcleo de Apoio Integral à Criança e ao Adolescente (Naica) e um novo Centro de Referência de Assistência Social (Cras).

O comércio também se aqueceu com o crescimento do Pequis. O casal Rosana Bernardes Coelho e Gilberto Cadima morava no bairro Brasil, mas abriu uma loja de roupas e acessórios no Pequis. Com o aumento nas vendas, decidiram se mudar para o local. “É um bairro muito tranquilo e tem praticamente tudo aqui. Supermercado, academia, farmácia. Está vindo muita coisa para cá”, disse Rosana.

Com o estabelecimento comercial desde o início do bairro, Rosana sente a diferença no movimento com o aumento no número de moradores. “Quando começamos, era difícil passar mais de três carros na avenida. Hoje, toda hora tem. Antes eram só os moradores das casas da Prefeitura. Hoje já entregaram os condomínios, outras casas e o público que visita a loja também tem se diversificando. Está compensando financeiramente. Estamos crescendo com o bairro e ajudando o pessoal oferecendo recarga de vale-transporte, de celular em dinheiro e cartão. A gente tenta oferecer o que os moradores precisam sem precisar ir ao Centro, e sem cobrar preços abusivos. E a população tem reconhecido e estamos prosperando”, disse.

Quem também viu no Pequis uma oportunidade de negócios foi João Ricardo Rodrigues da Silva, que está terminando de construir uma quadra de futebol society e um bar na avenida Wilson Rodrigues da Silva. Ele acredita que o bairro tem um potencial comercial muito grande. “É um tipo de serviço que a população não tem e aqui está virando uma outra cidade. As pessoas têm que ter acesso às coisas que todo bairro tem. Aqui tem que ser completo para atender a população como um todo”, disse.

João da Silva destaca que a forma como foi feito o planejamento do bairro favorece a chegada de novos empreendimentos comerciais. “O bairro foi muito bem planejado. Avenida larga, os terrenos comerciais são bem estruturados e acredito que o Pequis vai virar um bairro muito legal daqui uns anos. Fizemos pesquisa sobre localização e empreendimento e acreditamos que será um negócio muito produtivo para nós e muito bem acolhido pelo pessoal aqui do bairro”, explicou.
 
OUTRO LADO
O Diário de Uberlândia levou os questionamentos dos moradores para a Prefeitura, que respondeu por meio de nota.

Sobre a solicitação de um Ecoponto, a Prefeitura informou que está prevista a construção de um local de descarte no Monte Hebron, que também atenderá o Pequis, em parceria com a construtora do loteamento. Ainda segundo a nota, o Município já forneceu a área, mas não deu uma previsão para início e término da obra.

Em relação aos equipamentos sociais, o Município informou que “inaugurou, em fevereiro deste ano, um novo Naica e um novo Cras no Pequis, com cobertura de atendimento a 5 mil famílias da região Oeste. A instalação de equipamentos no Monte Hebron está em estudo, mediante disponibilidade orçamentária”.

A respeito da reclamação dos moradores da falta de vagas nas escolas, a Secretaria de Educação informou que, junto com entidades parceiras, “mantêm cinco unidades de ensino no Monte Hebron, que atendem alunos do infantil e do 1º ao 9º ano. A pasta também oferece transporte para outras unidades com vagas aos alunos que estudam do 6º ao 9º e que não puderam ser contemplados no próprio bairro”, disse.

Já a Secretaria de Trânsito e Transporte (Settran) respondeu que disponibiliza duas linhas de ônibus para o Pequis, e ampliou o número de veículos para 10 e 139 viagens diárias.

Em relação ao pedido de novos espaços de esporte e lazer no Residencial Pequis, a Prefeitura informou apenas que já disponibiliza campo de futebol, quadra coberta, parque infantil e áreas verdes.
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