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05/08/2019 às 16h48min - Atualizada em 05/08/2019 às 17h29min

Professores da UFU lamentam corte no programa Idioma Sem Fronteiras

Curso de inglês da instituição já teve 23 turmas e hoje só é mantida uma

VINÍCIUS LEMOS
Estimativa é que programa tenha atendido 10 mil alunos desde 2014 | Foto: Reprodução/Facebook
Voltado à formação especializada de professores de língua estrangeira, o programa Idiomas Sem Fronteiras (ISF) tem sofrido uma drástica redução devido à política educacional implementada pelo atual governo. Hoje, apenas uma turma do curso de inglês é mantida na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o que representa menos de 5% das 23 turmas que a instituição já teve apenas desse idioma. Estima-se que o programa tenha atendido a 10 mil alunos desde 2014.

Neste mês o Ministério da Educação (MEC) informou que pretende encerrar os trabalhos do programa, cuja provável última portaria semestral que institui o programa é válida até dezembro deste ano. Graduandos do curso de Letras, que eram responsáveis pela capacitação de estudantes de línguas, lamentam a perda da oportunidade para carreira e também de bolsas.

De acordo com o professor e coordenador do ISF na UFU, Ivan Ribeiro, a fala mais recente vinda do MEC foi apenas o que pode se chamar de “golpe final” no programa, que já vinha sofrendo com cortes e contingenciamentos desde o início do ano. O principal deles se deu na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cujos valores repassados a pagamento de bolsas custeavam os professores do Idioma Sem Fronteiras. Ao todo, o Governo Federal fez a redução de mais de 6 mil bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado em 2019. Em 2014, quando as turmas de inglês foram abertas na UFU, havia a possibilidade de capacitação de 1,1 mil alunos.

“É um balde de água fria, porque nós estávamos com a esperança de manutenção do programa dentro de uma plataforma governamental que agora fecha convênios com União Europeia e Estados Unidos. Imaginávamos que isso poderia ser mantido para qualificação dos estudantes”, afirmou Ivan Ribeiro. Hoje, a única turma de inglês mantida pela UFU só existe por meio de um professor voluntário.

Anteriormente, ao custo de R$ 1,5 mil mensais, cada um dos professores tinha 20 horas de atividades, em três dias por semana, sendo um deles aos sábados, para o ensino do idioma inglês. Os professores eram, via de regra, graduandos do curso de Letras, que passavam por avaliação de proficiência para ocuparem os cargos. Cada um mantinha três turmas acompanhadas da coordenação do programa, inclusive estabelecendo o conteúdo a ser oferecido e elaborando o material didático.

“O programa era gratuito e ajudava na formação dos alunos e tinha o intuito de internacionalização das universidades, colaborava justamente para alunos que iam para fora do País”, disse o coordenador, que estima 8 mil testes de proficiência em inglês realizados nos últimos cinco anos.

Para 2020, a UFU tenta uma nova estratégia para manutenção das aulas de inglês. Ainda são esperadas informações a respeito do programa Future-se, denominado pelo Governo Federal como tendo o objetivo de fortalecer a autonomia administrativa, financeira e da gestão das universidades e institutos federais. Essas ações serão desenvolvidas por meio de parcerias com organizações sociais. Mas de acordo com Ivan Ribeiro, as políticas ainda são vagas para ter qualquer ação para substituição do programa.
 
OUTROS IDIOMAS
Turmas de outros três idiomas oferecidos pela UFU ainda são mantidas. São turmas de francês, espanhol e português para estrangeiros, cujos professores são pagos pela própria UFU, sem orçamento direto do Capes, mas com bolsas de valores abaixo do que é pago aos profissionais que ministravam as aulas de inglês.
 
ISF ajudava na formação de estudante
Natural de Ribeirão Preto (SP), a ex-professora de inglês do programa Idioma Sem Fronteiras Gabrieli Valentim é estudante da faculdade de Letras na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Entre novembro de 2018 e julho deste ano, ela ministrou aulas para aproximadamente 60 alunos. A redução drástica do ISF na UFU foi visto com pesar por ela, mas não chegou a surpreendê-la.

“Sabíamos de algumas coisas que aconteciam, sabíamos que estávamos em uma zona de risco, porque o Idioma Sem Fronteiras remetia ao Ciência Sem fronteiras e ao governo anterior, o que poderia ser finalizado a qualquer momento”, disse Gabrieli Valentim.
Sem a bolsa de R$ 1,5 mil, hoje ela busca outro trabalho ao mesmo tempo que aponta perda na própria formação. “Era a melhor oportunidade que tínhamos na graduação para crescer como professores e como pessoas. Era grande responsabilidade e aprendizado de prática”.

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