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21/07/2019 às 13h02min - Atualizada em 21/07/2019 às 13h02min

Deputados novatos do Triângulo Mineiro apontam dificuldades no Legislativo

Em seis meses de mandato, deputados de primeiro mandato da região avaliam relações com os governos

VINÍCIUS LEMOS
Os deputados Franco Cartafina, Heli Grilo, Raul Belem e Zé Vitor | Fotos: Divulgação

Entre reformas que se refletem em todo o País e mudanças na postura de quem chegou à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa de Minas Gerais no início de 2019, deputados de primeiro mandato da região do Triângulo Mineiro têm em comum a adaptação às respectivas casas legislativas. A adaptação essa que passa sobretudo pela tentativa de diálogo e articulação política por excelência, que, segundo mandatários de primeira viagem, anda dificultada com os governos estadual e federal.

O Diário entrevistou quatro deputados novatos da região - Raul Belém (PSC) e Delegado Heli Grilo (PSL) entre os estaduais, e Franco Cartafina (PP) e Zé Vitor (PMN) entre os federais - sobre o balanço do primeiro semestre de 2019 nas respectivas casas legislativas. O deputado federal André Janones (Avante) também foi procurado, entretanto a assessoria de comunicação do político informou que ele estava em viagem e não poderia atender a reportagem nem por telefone.

Zé Vitor, que tem base eleitoral em Araguari, entende que existe um tipo de alinhamento entre a maior parte dos deputados federais e o governo de Jair Bolsonaro, mas que há arestas a serem aparadas. “Não há uma relação tão amistosa com o governo, mas as pautas são similares e isso faz as coisas andarem, mesmo que com alguma dificuldade”. Ele mesmo percebe que a maior parte dos novos deputados tem um caráter reformista.

Para ele, os colegas de primeiro mandato trouxeram pautas de grande repercussão, a exemplo das ligadas à segurança pública, que foi um dos motes de campanha do presidente Bolsonaro. O fiel da balança pesou principalmente para grupos direitistas e centro-direita, que ainda trouxeram a questão econômica fortemente. “Eu tenho uma simpatia pela economia e tenho defendido alguns assuntos, como essa busca pela desburocratização. Hoje temos uma frente parlamentar digital para tratarmos de assuntos que envolvem tecnologia, por exemplo”, afirmou, lembrando que o agronegócio se manteve relevante nas discussões, seguindo um lado mais tradicionalista.

Baseado em Uberaba, o também deputado federal Franco Cartafina reforçou a preocupação econômica particular e de outros mandatários da Câmara, junto ao interesse por mudanças que ajudem nesse sentido. “O clima da casa é o sentimento de que a economia precisa reagir logo, que o Brasil precisa recuperar a confiança dos investidores nacionais e, principalmente, internacionais. São mais de 13 milhões de desempregados que não podem mais esperar. A reforma da Previdência é um passo importante, mas é só o primeiro passo. O Legislativo enxerga isso com muita clareza e é preciso que o Executivo veja assim também”, disse.

 ASSEMBLEIA
Na capital mineira, o diálogo com outro estreante em mandatos, o governador Romeu Zema (Novo), também é avaliado como difícil por pelo menos um dos deputados estaduais da região com quem o Diário conversou. Raul Belém explicou que isso foi problemático justamente para que houvesse uma negociação das dívidas do Estado com os municípios. “Temos sentido a necessidade de o Governo voltar a mandar investimentos e nos ouvir para pautas específicas de cada região, já que existe uma dívida e isso tem atrapalhado o governo de cada cidade. Não é uma aproximação fácil e entendo que existe certa cordialidade, mas o Governo não tende a ouvir muito a Assembleia”, afirmou.

Belém, que já foi prefeito de Araguari, afirmou ter voltado as atenções dos primeiros meses dele na Assembleia para a questão municipalista, e expôs que levou sua experiência à frente do Executivo local aos deputados que ele considerava menos sensíveis a essas causas. “(É necessário mostrar) a importância dos recursos chegarem aos municípios. Mas isso não tem sido difícil (no Legislativo). Se não fosse a casa, o Governo não teria conseguido negociar a dívida estadual”, afirmou.

A exceção talvez seja o deputado estadual Delegado Heli Grilo, que entende como natural que os primeiros meses sejam para o Executivo mineiro se acertar e se adaptar à cadeira de governador, só depois é que projetos sejam avaliados. Ao mesmo tempo, o deputado está na posição de preocupação com a segurança pública e tem pelo menos dois projetos de Lei nesse sentido tramitando na casa, sendo um mudando trâmites de reintegrações de posse em terras invadidas e outro para mudar estrutura de plantões da Polícia Civil. “Eu não tenho dificuldade até agora de articulação. Tenho conseguido dialogar bem e acho que o governador está alinhado com minhas proposições. Tenho conseguido dar andamento aos meus projetos”, disse.

Ele ressaltou que a oposição tem força também e que as conversas com deputados de esquerda exigem mais esforço.
 
PERDA

Representatividade da região é menor
Nenhum dos deputados ouvidos pelo Diário é de Uberlândia, visto que o Município não colocou nenhum nome novo na Câmara e na Assembleia nas eleições de 2018. Atualmente, há apenas um deputado federal e três estaduais da cidade, todos veteranos nos cargos. Por isso, a representatividade foi assunto discutido entre os novatos no Congresso e na Assembleia, o que para os novatos tem consequência direta sobre transferência de recursos aos municípios.

De acordo com Zé Vitor, uma pauta que tem ganhado força na Câmara dos Deputados é a revisão do pacto federativo, em busca de repactuar as responsabilidades de estados e municípios e levar mais encargos de prefeituras e governos estaduais para a União. A falta de uma pauta municipalista forte pode atrapalhar uma eventual queda de braço com o Governo Federal. “Tenho percebido bandeiras mais amplas entre os deputados. Exceto por uma reforma estruturante, o contato direto para o município tem sido menor, principalmente porque muito da campanha foi feito por meio da internet e segue assim. Eu tenho pauta municipalista, sobretudo entre os pequenos e médios, mas não é uma regra”, afirmou Zé Vitor.

As tradicionais emendas parlamentares também são assunto muito ligado a atuação visando a região de origem dos deputados. “Mas elas são consequências do mandato. É importante que os deputados lutem pelos recursos. Nossa missão é devolver para nossa região, grande pagadora de impostos, o máximo possível. A representatividade, de fato, caiu um pouco, em 2014 eram nove deputados federais no Triângulo e Alto Paranaíba, agora são seis, destes, quatro muito jovens. É uma transição que as eleições de 2018 promoveram”, ponderou Franco Cartafina sobre a relação da representatividade da região no Congresso e a destinação das verbas.

Visão que segue em âmbito estadual. “Temos tentado muito visitar municípios e lideranças políticas compreendendo problemas. Perdermos parlamentares da nossa região e nós vivemos num momento de recursos escassos. Mas a bancada do Triângulo Mineiro está unida e vejo que temos condições de fortalecer nossa região até pela estratégia do governo de atração de investimentos para o Estado”, afirmou Raul Belém sobre a relação do Triângulo dentro da Assembleia.

Delegado Heli Grilo disse que uma das estratégias de seu mandato foi conseguir posições importantes para as pautas apresentadas. “Se não me engano são 31 deputados novatos (em Minas Gerais), cerca de 40% de renovação, principalmente em razão de falta de credibilidade política e partidária. É importante esse movimento e muitos caminham com dificuldade por serem novatos, mas a Polícia Civil que antes não tinha representantes, agora tem dois na Assembleia. Hoje sou vice da Comissão de Segurança Pública”, explicou.


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