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07/07/2019 às 10h00min - Atualizada em 07/07/2019 às 10h00min

Evento nacional reúne cerca de 500 colecionadores de carros antigos em Uberlândia

4º Encontro Nacional de Carros Antigos ocorre neste domingo (7)

SÍLVIO AZEVEDO
Jalel tem 15 carros antigos e considera cada um deles como um ‘'filho’' | Foto: Sílvio Azevedo


Colecionar carros é uma paixão antiga do empresário Jalel Salem Barbar. São cerca de 40 anos dedicados aos veículos que fizeram história. “Meu primeiro carro foi um Fusca 66, que comprei com 14, 15 anos de um vizinho. Paguei 600 cruzeiros, todo desmontado. Eu mesmo que montei. Hoje, o mais antigo que tenho é um Theco Skoda Felicia 64, raríssimo. Só tem dois modelos no Brasil. Comprei em 1985 e ainda estou restaurando”.

Com 15 carros atualmente, quatro deles com placas pretas, Jalel é enfático ao ser questionado sobre o favorito. “É igual filho. Não existe favorito. Carro é igual família, gasta igual. Não é barato e não tem como mensurar. Tem aqueles que eu falo, ‘ah, talvez esse eu venderia’, mas outros que tenho certeza que não, como uma Aerowillys 1968, que é um xodó, um Landal 1978, um carro maravilhoso, e um Fusca Preto 1968, mas um preferido é difícil”, diz.

O comerciante Fábio Marques é outro apaixonado. Ele possui cinco veículos antigos e, a maior parte deles, passou por uma restauração para deixá-los com um visual de colecionador. Um deles é uma camionete C10 ano 1972.

F
ábio Marques restaurou a camionete C10, um dos seus cinco carros antigos | Foto: Sílvio Azevedo


“Ele era utilizado para entrega de material de construção. Então peguei todo zoado. Estava bem velho. Fui fazendo todo o processo de restauração, melhorias em questão de mecânica, freios. Até porque para andar no trânsito de hoje tem que ter um freio melhor que o da época. A gente foi melhorando o carro, nesse sentido”, conta Fábio.

O investimento é alto, o que fez o comerciante parar de fazer contas. “Eu nem calculei, senão desanima de refazer o carro. Mas é muito prazeroso depois ver o carro pronto, o prazer é inenarrável”. Além da C10, Fábio tem dois Opalas, uma Kombi e um Fiat 147.
Um pouco dessa paixão poderá ser conferida de perto durante o segundo dia do 4º Encontro Nacional de Carros Antigos, organizado pelo STT Clube de Uberlândia. O evento, que teve início ontem, segue hoje das 8h às 18h, na Uniube da Granja Marileusa. A entrada é 1 kg de alimento não perecível. Nesses dois dias são esperados 500 carros de diversas cidades da região, além de colecionadores de outros estados.
 
MANUTENÇÃO
Um dos grandes desafios de quem coleciona carros antigos é conseguir mão de obra e peças de reposição. Em Uberlândia algumas oficinas trabalham com esse público e, muitas vezes, passam sufoco para atender aos anseios desses apaixonados por veículos.

Alexandre Pereira Lima, 33, tem uma oficina que oferece restauração e mecânica para carros mais antigos. E a demanda é bem variada. “Tem gente que acaba de comprar um carro antigo, que está parado muitos anos. Comprou um carro para poder curtir, quer pôr para rodar. Outros pedem um projeto de carro totalmente original. A gente trabalha em cima, faz a correria e deixa o carro do jeito que o cara pede. E também tem a pessoa que possui o carro há muitos anos e quer dar manutenção para poder fazer viagem, evento, participar de encontro de carros”.

Para conseguir peças, Alexandre destaca que é importante vasculhar a internet e feiras de automóveis. “Às vezes, a faço encomenda de peças pela internet, que ainda consegue. Tem gente com estoque de peça antiga, que era loja antiga. O complicado é que é fora do estado, é mais longe, mas sempre conseguimos. Tem também os mercados de pulga que muita gente tem peça guardada, peça nova mesmo, bem conservada. É custoso de achar, mas consegue sim”.

Mas há quem prefira dar um tom mais personalizado no carro. O especialista de manutenção Wescley Gonçalves Cardoso, 38, tem dois veículos. Um Gol BX 85, no estilo “rat look”, que é o estado de conservação da carroceria deteriorado, com ferrugem, pintura queimada e outros detalhes que dão um toque de velho. O outro é uma Caravan ano 79, batizada de Caravan Umbrella.

“Comprei a Caravan com sinais de desgastes do tempo. Mas com o apoio do pessoal do clube que participo, coloquei ela para rodar e customizei, no estilo do jogo Resident Evil, com pintura estilizada, com manchas que simulam sangue e o emblema da corporação do jogo. Originalmente ela veio com uma marca de batida frontal, que deixei e acabou dando um toque caracterizado também”, diz.
E ele ainda conta com o apoio da família. A esposa, Daniela Mioto, reconhece a paixão de Wescley e apoia a manutenção desse hobby. “Acho divertido porque é uma forma deles preservarem as histórias dos automóveis. Ele passa horas mexendo nos carros. Quando ele passa na rua e vê um carro antigo, os olhos dele chegam a brilhar”.
 
CARRO DA FAMÍLIA
O Maverick 77 está na família de Severiano e Vinícius Dantas há décadas | Foto: Sílvio Azevedo


Em cada proprietário encontramos histórias diferentes. O engenheiro Vinícius Dantas, 28, é dono de um Maverick 77. O carro foi restaurado, mas faz parte da família desde a sua infância. “Esse é o carro que me trouxe da maternidade. Era o carro da minha família. Nele, a gente viajava para visitar outros familiares que moram no Nordeste. Então ele rodou bastante e está comigo até hoje”.

A paixão é tanta que Vinícius possui outros três Mavericks, um só rodando e dois estão em restauração. “É um prazer que só quem tem e gosta pode descrever. Eu gosto muito de viajar nele. É como se fosse uma terapia. Descansa a mente, sai da rotina. O próprio slogan do Maverick era ‘Fórmula para a rotina’. Às vezes uso até para ir ao trabalho”.
 
CERTIFICADO
Veículos de colecionadores podem ser identificados pela placa com fundo preto e caracteres na cor cinza. Para conseguir esse “selo de autenticidade”, o proprietário tem que seguir uma série de regras da resolução nº 56, de 21 de maio de 1998, publicada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A emissão do certificado é feita pela Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA) e outras entidades em todo o país.

Em Uberlândia, além de amante e colecionador, Jalel Salem Barbar é diretor da FBVA e um dos credenciados como vistoriador para certificados de originalidade. Segundo ele, 50 carros de Uberlândia possuem a placa preta. “O interessado deve se filiar à Federação, e solicitar a vistoria. Caso ele [o veículo] tenha mais de 30 anos e atenda os 80% de originalidade, previstos na lei, consegue a placa preta. A resolução possui itens excluitivos, como troca de motor, ser rebaixado. Por exemplo, o Fusca. Não foi lançado com duas cores. Então se ele tiver duas cores, não passa pela vistoria da Federação. Mas existe uma margem de tolerância, como carros com a dificuldade de se conseguir peças”.

Entre os carros vistoriados, os mais comuns são Fuscas e Opalas, mas Jalel encontrou raridades para serem certificados. “Esses dias fiz a vistoria em um Studebaker ano 1927 em uma cidade do interior de Minas Gerais. Um item raro, que estava de acordo e conseguiu a placa preta. Outro foi um Ford 29. Carros que você já não vê mais nas ruas”.

Uma das críticas que Jalel faz é quanto à intenção dos proprietários de carros antigos. Para ele, o que vale é o sentimento de paixão pelo carro, mas muitos não pensam dessa maneira. “Tem casos que o cara busca o certificado apenas pela questão financeira. Mas vai muito além disso. Os colecionadores têm que ter consciência que a paixão pelo hobby está acima do valor comercial. Vai além de uma simples placa preta, mas a busca constante pela supremacia de ter um carro original ou não”.
 
Requisitos necessários para obter certificado de veículos de coleção:
- ter sido fabricado há mais de vinte anos
- conservar suas características originais de fabricação
- integrar uma coleção
- apresentar Certificado de Originalidade, reconhecido pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)
- As cores das placas serão em fundo preto e caracteres cinza.
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