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25/05/2019 às 11h50min - Atualizada em 25/05/2019 às 11h50min

Escolas de Uberlândia se preparam para dar fim às guloseimas

Decreto estadual que proíbe venda de ultraprocessados tem de ser implementado

DANIEL POMPEU
Colégio Nacional, da rede privada, oferece buffet saudável para alunos desde o último ano. | Foto: Daniel Pompeu
As escolas públicas e privadas de Minas Gerais não poderão mais vender ou fornecer alimentos com alto teor de calorias, gordura, açúcar ou sódio a partir do dia 7 de junho. A medida foi determinada por meio de um decreto estadual, que também estipula a promoção de uma alimentação saudável no ambiente escolar. Em Uberlândia, o Município ainda tem estudado o conteúdo do decreto, já que, além das proibições nutricionais, o texto determina que a vigilância sanitária e os conselhos municipais de alimentação escolar sejam responsáveis pela fiscalização das unidades. Algumas escolas particulares, no entanto, já têm se adequado.

Pelo decreto, também fica proibido a inserção de peças publicitárias de alimentos com apelo infanto-juvenil dentro do ambiente escolar. A proibição da venda de alimentos ultracalóricos como doces, frituras, processados e comidas com pouco valor nutricional também se estende a ambulantes na entrada e saída das escolas, além de estabelecimentos comerciais no interior das instituições, empresas que fornecem alimentação escolar e serviços de entrega. A exceção é apenas para festas e eventos realizados dentro das escolas que estejam inseridos no projeto pedagógico.

“Quase 15% das crianças de zero a nove anos estão com sobrepeso ou obesidade, enquanto cerca de 26%, mais de um quarto, dos adolescentes estão com excesso de peso”, disse Daniela Souzalima Campos, diretora de Promoção à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SES), sobre o cenário da saúde de crianças e adolescentes em Minas Gerais. Os dados são do Sistema de Vigilância Alimentar Nutricional da Atenção Básica (Sisvan), do Ministério da Saúde. No âmbito nacional, a edição de 2015 da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) do IBGE indicou que 41% dos estudantes consomem guloseimas, alimentos com alto teor de açúcar ou gordura, em cinco dias ou mais de uma semana normal, enquanto cerca de 32% dos alunos consomem frutas frescas na mesma proporção.

De acordo com Campos, o estado tem buscado, com o processo de implementação do decreto, promover a conscientização sobre a importância de uma alimentação saudável no ambiente escolar. Segundo a diretora, a escola é um espaço fértil para a transformação dos hábitos alimentares de crianças e adolescentes. Ela entende que o decreto unifica as iniciativas do gênero no contexto estadual, considerando que cidades como Juiz de Fora e Belo Horizonte já dispõem de leis municipais que regulamentam a questão.

Questionada sobre como será feita a implementação e a vigilância do decreto em Uberlândia, a Prefeitura informou, por meio de nota, que a efetivação ainda está sendo estudada pelos órgãos responsáveis. O texto também diz que “a Vigilância Sanitária (Visa) já realiza inspeções nas escolas públicas e privadas da cidade a fim de promover e proteger a saúde dos alunos”.
 
ESCOLA PRIVADA
 No Colégio Nacional, da rede privada da cidade, o programa de educação nutricional para todos os níveis educacionais - do ensino fundamental ao pré-vestibular - acontece desde o início de 2018. Não há, desde o ano passado, estabelecimentos comerciais, as chamadas cantinas, dentro da instituição. A escola oferece um lanche no meio da manhã e outro no meio da tarde, que inclui cereais, pães, frutas, queijos e outros.

De acordo com a responsável pelo programa de educação nutricional do Nacional, Maria José Almeida, as refeições são servidas em formato de buffet e as mesas para os alunos são dispostas no pátio da instituição. De acordo com ela, a implantação do modelo sem cantina começou nas séries iniciais, por volta de 2007, e ao longo dos anos foi sendo estudada para todos os níveis educacionais oferecidos pelo Nacional.

Almeida destaca que o maior desafio nas séries mais avançadas foi restringir o poder de escolha dos alunos, já que o lanche oferecido é padronizado para todos os estudantes. Quando a escola dispunha de cantina, entre alimentos saudáveis e não saudáveis, os alunos frequentemente escolhiam os mais processados e com altos índices de gordura e açúcar.
 
NUTRIÇÃO
De acordo com Daniela Resende, nutricionista especializada em alimentação infantil, a dieta na idade escolar deve ser composta por todos os grupos alimentares, priorizando alimentos naturais. “A gente vê crianças apresentando patologias que antigamente a gente só via na vida adulta, bem avançada. Ou até na terceira idade, como diabetes, hipertensão. Essas doenças, infelizmente, vêm cada vez mais acometendo as nossas crianças”, disse.

Além dos já conhecidos problemas de saúde relacionados ao consumo excessivo de alimentos não saudáveis, a nutricionista destaca que o excesso de açúcar no sangue, ou a hiperglicemia, pode prejudicar o desempenho escolar das crianças e adolescentes. Segundo Resende, um dos problemas é a dificuldade de concentração causada pelo consumo rotineiro desses alimentos. De acordo com ela, para promover uma alimentação saudável, não é necessário ser restritivo ao ponto de os pais não permitirem que os jovens frequentem festas de aniversário, por exemplo, mas deve-se cultivar a ideia de que o consumo de guloseimas não pode se tornar um hábito frequente.

“O ato de se alimentar é aprendido. Ela [a criança] aprendea se alimentar com a família, então, na verdade a alimentação saudável vem da família”, disse a nutricionista. Ela considera, que, pelo tempo que as crianças passam na escola, as instituições também têm a responsabilidade de promover a educação alimentar. Sobre o decreto, Resende entende que o mais importante não é a restrição de alguns alimentos dentro da escola, mas o trabalho de conscientização dos próprios professores e gestores do setor educacional.
 

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