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12/05/2019 às 08h00min - Atualizada em 12/05/2019 às 08h00min

Uberlandenses falam sobre desafios e rompimento de paradigmas da maternidade

Exercer a maternidade de forma positiva é o primeiro passo para alcançar o equilíbrio, segundo elas

ADREANA OLIVEIRA
Administradora de empresas criou o dia do filho único para dedicar atenção exclusiva a cada um dos três filhos| Foto: Marcel Gussoni
Carolina Horbilon é administradora de empresas, atleta nas horas vagas, esposa companheira e mãe de três filhos: Luca, 9, Davi, 6, e Helena, 4 anos. Seus filhos fazem parte de uma geração que em alguns anos deve exercer importante papel no desenvolvimento de nosso país e do mundo. Nesse Dia das Mães, ela é um dos exemplos que o Diário de Uberlândia encontrou para falar um pouco sobre os desafios da maternidade e do rompimento de alguns paradigmas que ainda rondam a vida de muitas mamães.

“Mais do que a sociedade, nós nos cobramos muito e queremos o melhor para os nossos filhos mas, felizmente, hoje em dia, com planejamento, é possível conciliar de forma saudável a maternidade com a vida de casal e profissional, sem aquela sensação de que deveria ser diferente”, disse Carolina.

Ela e o marido, o publicitário Marcel Gussoni, mantêm uma relação saudável estipulando pelo menos um dia da semana dedicado a eles seja para sair à noite, assistir a um filme, ver um show ou mesmo praticar alguma atividade física juntos. “É importante ter um momento nosso”.

Com três filhos de personalidades bem diferentes, Carolina conta que, há algum tempo, o casal criou o dia do filho único. “Fazemos uma viagem por ano em família, mas fora isso temos outra, pode ser mais curta, ou um final de semana ou um jantar com apenas uma das crianças. Percebemos que eles gostam desse momento da atenção exclusiva, principalmente o Luca que fica muito feliz. Nossos amigos que são pais adoraram a ideia”, afirmou.

A mamãe Carol faz questão de levar e buscar os filhos na natação, estimular as conversas em casa e investir num estilo de vida saudável, e o melhor de tudo é compartilhar isso, principalmente se for à mesa. “Um dos nossos maiores prazeres é sentar à mesa juntos, saboreando uma boa comida e conversando sobre nossas vidas. Esses momentos são preciosos e com certeza é algo que fará diferença na vida deles. A ajuda que tenho da minha família e dos amigos faz tudo ficar mais fácil”.

Mãe de dois filhos, de 5 e 6 anos de idade, a também administradora Flávia Margonari Attiê sabe bem que a maternidade não é perfeita como algumas mães fazem parecer e ela fica feliz que atualmente as mães da vida real já não se sintam mais constrangidas na hora de pedir ajuda.  “Desde que dei à luz o primeiro filho eu sabia que não conseguiria administrar tudo sozinha. Me sentia despreparada e para piorar ainda tive depressão pós-parto. Foi a partir da terapia, do cuidado comigo, do despertar da minha inteligência emocional que consegui equilibrar as coisas e me tornar uma boa mãe”, contou.

Flávia afirma que esse processo é contínuo e quando começa se começa a aprende mais sobre parentalidade mais se quer estudar e faz parte do processo não tentar transferir responsabilidades para os outros e a partir daí, assumir e lidar para corrigir o que não está certo. “Tudo começa com a gente. Fiz cursos de vários tipos, inclusive de cunho religioso e hoje colho os frutos do que plantei porque percebo as mudanças em casa. Minha tranquilidade se estende aos meus filhos que estão bem felizes”, afirmou.

Para a administradora, a figura da mãe perfeita tem que ser desmistificada. “A mulher hoje tem muito mais papeis do que no passado e tem a expectativa da Mulher Maravilha, da supermãe que não existe. Somos seres humanos e lidamos com diferentes emoções todos os dias. As pessoas precisam entender que uma mãe feliz é melhor do que uma mãe perfeita. O equilíbrio é mais importante que a perfeição”.

EMPREENDEDORISMO
A maternidade levou a uma virada de 360 graus na vida de Mayara Mendes. Mãe da Melissa, de 4 anos, ela, que é farmacêutica, decidiu investir em outra área para poder ficar mais perto da filha, sem comprometer a vida profissional. “Eu sou a primeira baby planner certificada de Uberlândia. Decidi usar minha experiência na área da saúde para desenvolver produtos para crianças. A partir daí, estou sempre fazendo cursos, participando de workshops e hoje já consigo dividir a minha experiência com outras mães”, contou ela.

A profissão de baby planner, um profissional que ajuda a mãe desde a descoberta da gravidez, segundo Mayara, ainda é nova no Brasil. O certificado da International Maternity & Parenting Institute (Impi) de Nova York, ela conseguiu quando o curso foi promovido em parceria com uma instituição brasileira. “É um mundo desafiador mas cheio de oportunidades também. Quando abri a minha empresa (@maecommel_), um novo horizonte se abriu”, disse a consultora materna.

Mayara sabe que em nossa realidade há muitas mães em situação de vulnerabilidade social que precisam de mais apoio, tanto quanto seus filhos e dá um recado. “Procure ajuda. Há grupos de profissionais, voluntários que podem conversar com você a encontrar uma forma de mudar ou amenizar essa situação mesmo quando parece muito difícil. E só as mães sabem o quanto o bem estar de nossos filhos são importantes para nós”.

Para educar um filho também é preciso estudar
A uberlandense Telma Abrahão trabalhou 11 anos no meio executivo em uma área na qual o estresse é corriqueiro: finanças. Mas nem essa experiência a deixou preparada para a maternidade. Há pouco mais de um ano, por conta da transferência do marido, ela saiu do Brasil para morar nos Estados Unidos com dois filhos pequenos. Hoje mora em Weston, na Flórida.

Lorenzo tem 5 anos e Louise está com 3 agora e ao se ver em um país diferente, onde a cultura é totalmente diferente de sua terra natal, Telma percebeu um impasse. “Aqui somos acostumados com ajudantes, família, amigos que colaboram no nosso dia a dia. Nos Estados Unidos não. Eu me vi cuidando de casa, do marido, dos filhos e quando percebi estava bastante infeliz com a forma que estava criando meus filhos”, disse ela, no intervalo do curso que deu em Uberlândia no final de abril.

Neste momento, em meio a uma crise existencial, Telma decidiu procurar uma outra forma de educar. Foi quando descobriu a instituição americana Positive Discipline Association (PDA), baseadas nos trabalhos dos doutores Alfred Adler e Rudolf Dreikurs. Telma explica que a Disciplina Positiva transformou a vida em sua casa e a experiência foi tão boa que decidiu se certificar para ensinar o que havia aprendido.

Sua primeira turma teve 42 mães inscritas no ano passado. “Na hora de postar foto da barriga no Instagram todas querem, é tudo lindo, mas é muito difícil admitir que a maternidade também traz dor, sofrimento, isso ninguém tem coragem de expor. É preciso entender que acontece com todo mundo”, comentou ela, que é Coach de Pais e Educadora Parental, membro da PDA e da Sociedade Norte Americana de Psicologia Adleriana.

Ela explica que é grande a diferença da forma que se educa os filhos no Brasil e nos Estados Unidos. “Lá a criança não tem alguém que faça tudo por ela. Desde cedo ajuda na organização da casa, colabora na escola, sente que é útil, que é capaz, aprende a cuidar de si desde cedo e desenvolve um senso de significância muito grande.

Quando as mães, e pais, percebem que é possível e necessário estudar para educar a realidade pode mudar por completo. Há toda uma ideia de que tudo se resolve por instinto e não é. “Fomos educados por meio da punição, ameaça e castigo. Nossos pais não se preocupavam se a gente ia ter autoestima, se ia se sentir capaz, se sentir conectado com o próximo, confiar no próximo. Adler nos mostra que por meio da Disciplina Positiva que o ser humano tem que ser incentivado de uma forma positiva para ser quem ele realmente é”, explicou.

Os pais de hoje querem formar filhos que sejam capazes, responsáveis, respeitosos, resilientes, com boa autoestima e respeito a ele e ao próximo. Para isso, o castigo não é o melhor meio. “Seu filho cresce, e você vai continuar castigando, punindo ele, com 15 anos? Ele pode crescer deprimido, se sentir desrespeitado. A infância não sai da gente. É preciso rever nossas crenças e trabalhar na conexão real entre pais e filhos por meio da presença de qualidade e do afeto”.

Telma criou seu próprio curso, o Processo de Parentalidade Positivo. “É processo porque não só os nossos filhos, mas nós também mudamos, passamos por diferentes fases. Não tem começo, meio e fim. É um curso de autoconhecimento que ensina também os pilares da disciplina positiva”, afirmou ela, que também é analista comportamental.

A especialista fala que é preciso ter empatia, se colocar no lugar da criança e respeitá-la, mas isso não significa ser permissivo demais. “Você tem que falar não. ‘Filho, mamãe te ama mas não deve fazer isso’ e explicar o porquê. Nenhum extremo é bom. A permissividade cria crianças sem limites que se tornam adultos fracos e inseguros. Queremos o caminho do meio no qual a gentileza e a firmeza vão ser um norte para nós”.

Se você se interessou e quer saber mais sobre a Disciplina Positiva, Telma publica dicas diárias em seu instagram, @positiveparentingeducation e recomenda para os pais o livro “O cérebro da criança” (Ed. Nversos, 240 páginas) de Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson.

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