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05/05/2019 às 09h30min - Atualizada em 05/05/2019 às 11h08min

Mais de 1 mil animais são atendidos por mês no hospital veterinário da UFU

Cães e gatos representam 85% dos atendimentos em Uberlândia; hospital também recebe animais silvestres

MARIELY DALMÔNICA
Diretor diz que hospital da UFU é um dos que mais fazem atendimentos no País | Foto: Divulgação
Cerca de 14 mil animais, entre domésticos e selvagens, foram atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) durante o ano passado. Neste ano, a expectativa é que o local, que tem 42 anos de história, receba ainda mais animais domésticos, silvestres e de grande porte, como ruminantes e equinos.

Aproximadamente 85% dos atendimentos realizados no local são de cães e gatos. O restante está dividido entre os animais silvestres que são resgatados na região, como lobos-guará e tamanduás-bandeira, e animais maiores, como cavalos e vacas. O hospital conta com 36 residentes, três veterinários contratados e 12 professores do curso de Veterinária, que também atuam como médicos. Ao todo, 95 pessoas integram a equipe.

Raphael Simões Vieira, de 23 anos, é um dos residentes do hospital, e atua na clínica cirúrgica. Ele se formou no ano passado e desde março deste ano atende animais domésticos diariamente. “Meu foco sempre foi esse, farei dois anos de residência. Eu gosto demais de trabalhar aqui, é um desafio. Mas o melhor é que o hospital tem a maioria dos exames que precisamos”, afirmou o jovem, que sempre sonhou em cursar Medicina Veterinária.


 
“A gente tem a ideia de resolver todos os problemas do animal no hospital. Aqui, fazemos os exames de rotina, laboratoriais, raio x, ultrassom e fazemos praticamente todas as cirurgias. Hoje, somos um dos hospitais veterinários que mais atendem e mais fazem cirurgia no Brasil”, afirmou Diego José Zanzarini, diretor executivo do Hospital Veterinário da UFU.


Os atendimentos no local são cobrados, mas seguem uma política de preço justo, de acordo com o diretor executivo. “Apesar de ser um hospital da universidade, temos funcionários pagos pela Fundação de Apoio do hospital. Dependemos da arrecadação”, disse. Com o objetivo de atender toda a população da cidade, e até mesmo da região, o hospital conta com programas de desconto para as pessoas mais carentes. Famílias que estão inseridas em programas do governo, como o Bolsa Família, recebem atendimento gratuito. Para pessoas de maior renda, os atendimentos custam R$ 80.

O hospital também tem uma política de auxílio aos protetores de animais, que têm isenção para consulta e desconto nos procedimentos. Organizações Não Governamentais (ONGs) voltadas para o resgate de animais, como a Associação de Proteção Animal (APA), recebem um atendimento gratuito por semana, seja uma consulta ou até mesmo uma cirurgia. “Eles têm uma facilidade, já que prestam serviço para a comunidade. Fazemos o que está ao nosso alcance, mesmo assim sabemos que não é suficiente”, disse o diretor executivo.

Segundo Zanzarini, algumas pessoas, por desconhecimento da política do hospital, pegam algum cachorro ou gato na rua e levam para o hospital esperando que o atendimento seja gratuito. “Se a pessoa pegou o cachorro, é responsabilidade dela. É louvável ajudar o animal, mas ela resgatou e tem a sua responsabilidade também”, afirmou.

O hospital, junto com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), também realiza o Projeto de Castração Solidária. O cadastro é feito no CCZ e deve atender até 1.650 animais neste ano. “Desde o ano passado fizemos um incremento em 25% dos animais castrados. Neste ano, aumentamos mais 5%. A procura é muito alta”, disse o diretor executivo.

SILVESTRES
Cerca de 10% dos animais atendidos anualmente no hospital são silvestres. Em média 100 espécies nativas do cerrado são recebidas pelo professor André Luiz Quagliatto, responsável pelo atendimento clínico a animais selvagens e coordenador técnico do Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (Lapas).

O setor foi criado há quase 20 anos pelo professor, que sentia falta de um local de atendimento para esses animais em Uberlândia.


 
“Recebemos animais de toda a região do Triângulo Mineiro e até do Alto Paranaíba. Eles ficam aqui o tempo necessário para a recuperação. Fazemos o tratamento na clínica, cirurgia, se for necessário, e internação”, disse Quagliatto.


Segundo o professor, enquanto alguns animais retornam para a natureza, outros não podem voltar ao local de origem. “Temos um lobo-guará que está com a gente há dois anos, por exemplo. Alguns acabam ficando com alguma mutilação ou deformidade que os impedem de voltar e competir com outros animais”, disse.

Algumas espécies silvestres acolhidas pelo setor do hospital já foram levadas para zoológicos do Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, ou para algum criador conservacionista. “Por sorte, temos pessoas que investem nessas ações de preservação”, afirmou.

O setor, que atua com quatro residentes, além do professor responsável, luta contra a extinção dos animais nativos da região. “Temos feito um esforço para que esses animais voltem para a natureza. Esse exemplo vale para tamanduás, lobo-guará, lontra, aves. Existe uma fauna muito rica, o cerrado é o bioma que apresenta maior biodiversidade”, disse Quagliatto.

A maioria dos animais que chegam até o setor de silvestres é atropelada por veículos em rodovias ou aves que colidem com aeronaves. O sargento Sivonaldo Medeiros, comandante de guarnição da Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA) acolhe diversos animais nessas situações e os encaminha para o hospital todas as semanas.

“Na zona urbana a gente encontra muito gambá, capivara, tamanduá-bandeira, ouriço e coruja. O Lapas está sendo um parceiro muito grande. Se recolhemos um animal machucado, trazemos para o professor fazer uma avaliação com os veterinários e só fazemos a soltura mediante a aprovação deles”, disse o sargento.

Uma das espécies mais comuns na região, o tamanduá-bandeira, chamou a atenção da estudante alemã Lilja Fromme, que fez o mestrado em veterinária em Uberlândia e voltou para pesquisar sobre o animal para o doutorado.

“Gostei muito do trabalho do setor. Sempre me interessei por tamanduás. Já conhecia eles por documentários, acho um animal tão diferente, parecem pré-históricos, e ao mesmo tempo está em risco de extinção”, afirmou a doutoranda, que está no Brasil há dois anos e volta em breve para o país natal.

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