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08/04/2019 às 14h44min - Atualizada em 08/04/2019 às 14h44min

Endometriose atinge 10% da população feminina no Brasil

Ginecologista de Uberlândia diz que doença atinge, principalmente, mulheres entre 13 e 45 anos

MARIELY DALMÔNICA
Eloisa foi diagnosticada com a doença após colocar DIU | Foto: Eloisa Santana/Arquivo Pessoal
Depois de uma tentativa falha em colocar um dispositivo intrauterino (DIU), a professora de inglês Eloisa Santana descobriu que tinha endometriose, doença que mesmo atingindo uma em cada dez brasileiras, de acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, é pouco conhecida e, na maioria das vezes, de difícil diagnóstico. O Diário de Uberlândia conversou com uma especialista e pacientes que foram diagnosticadas na cidade para falar sobre os desafios da doença. 

“Descobri em 2012. Depois de um tempo fiquei sabendo, por meio de outra médica, que mulheres com endometriose não podem colocar o dispositivo, porque o útero tenta expulsá-lo. Foi o que aconteceu comigo”, disse Eloisa Santana.

Ela foi diagnosticada por meio de ultrassom transvaginal após apresentar outros sintomas, como cólicas, fluxo intenso, ciclo desregulado e dores durante as relações sexuais. “A lesão que eu tinha ficava voltada para a bexiga. Eu tinha uma sensação constante de estar com infecção urinária”, disse.

De acordo com a ginecologista de Uberlândia,Renata Tavares, o surgimento da doença tem uma série de causas, associadas a fatores genéticos, anormalidades imunológicas e disfunção endometrial. Segundo ela, o período mais comum de manifestação da doença é na idade fértil da mulher, entre 13 e 45 anos.

Além dos sintomas que afetaram Eloisa, existem outros relacionados à doença, como dor pélvica crônica, alterações urinárias cíclicas no período menstrual, alterações intestinais cíclicas no período menstrual, dificuldade de engravidar e presença de massa pélvica.

Segundo a médica, o diagnóstico se inicia na suspeita clínica, ou seja, através dos sintomas. “E logo iniciamos tratamento medicamentoso no intuito de inibir a menstruação da paciente. Porém, o diagnóstico só é realmente confirmado com cirurgia videolaparoscópica, com inspeção direta da cavidade e visualização dos implantes”, disse. Existem alguns exames complementares que também ajudam a avaliar a suspeita da doença, como o ultrassom transvaginal e a ressonância magnética da pelve.

Ainda de acordo com Tavares, a doença pode ser classificada em três tipos, que variam de acordo com os locais de acometimento. Eles podem ser divididos em: endometriose superficial, endometriose ovariana e endometriose profunda.

A endometriose só tem regressão dos sintomas e uma cura definitiva após a menopausa da paciente, segundo a ginecologista. “Antes disso, o controle dos sintomas da doença é fundamental para ter uma melhor qualidade de vida. Por isso é importante o acompanhamento regular com o ginecologista e a adesão ao tratamento.”

Desde que descobriu a doença, há cerca de sete anos, Eloisa Santana faz o tratamento utilizando anticoncepcional injetável para interromper os períodos menstruais. “Brinco que tenho minha vida antes da menstruação e depois da menstruação, minha qualidade de vida melhorou demais.”
 
MÃES
De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, há 30% de chance de que mulheres com endometriose fiquem estéreis. Segundo a ginecologista Renata Tavares, de 30% a 50% dos casos de infertilidade na mulher têm associação com a doença. “Cada caso é avaliado à parte, mas existem, dentre os tratamentos, a indicação da ovulação isolada, associação à inseminação intrauterina ou até mesmo fertilização in vitro (FIV)”, afirmou a médica ginecologista Renata Tavares.

A pedagoga e escritora Leda Gonzaga descobriu que tinha a doença aos 32 anos, quando já era mãe de dois filhos. Antes de ser diagnosticada, ela chegou a pensar que estava com câncer no útero. “Desde a adolescência eu já passava mal. Estava com dores, muita hemorragia e fomos investigar. É difícil a descoberta da doença”, disse.


Escritora Leda Gonçalves montou grupo de apoio a mulheres com endometriose | Foto: Divulgação

Na época, Leda Gonzaga retirou o útero e fez tratamento com uma injeção para câncer de próstata. “Tive uma qualidade de vida melhor, mas em 2015 ela voltou de novo, dessa vez nos ovários”, afirmou a escritora, que iniciou outro tratamento. “O medicamento começou a atacar meu fígado e eu parei de tomar. Hoje, ainda sinto dores e tenho sintomas da menopausa. Também tive um problema muito sério no intestino, a doença foi afetando tudo.”

Em 2013, Gonzaga, que já escrevia livros infantis, reuniu diferentes relatos de mulheres que também possuem endometriose e publicou um livro sobre o tema, “Endometriose - O silêncio e a dor da alma”. “Eu comecei a pesquisar, fazer diversos textos e colher depoimentos, e a editora se interessou.”

A escritora também teve a ideia de criar o grupo Mulheres Canguru, para dar apoio a outras pacientes. “A gente faz um trabalho de terapia, e estamos pensando em produzir alguma cartilha”, afirmou Leda.

A administradora Marília Rocha, de 29 anos, descobriu que portava a doença há cerca de oito anos, e isso não impediu que ela se tornasse mãe do Davi, de um mês. “No meu caso não era cirúrgico pela questão de idade. Como descobri jovem, teve essa vantagem. Ela não afetou os órgãos de reprodução. Se demorar, a doença pode tomar conta”, disse.


Administradora descobriu a doença há cerca de oito anos e mesmo assim foi mãe | Foto: Marília Rocha/Arquivo Pessoal

Marília Rocha teve diversos sintomas comuns a quem tem endometriose, mas precisou passar por três médicas diferentes até receber o diagnóstico. “Falam que só conseguem afirmar com certeza se abrir e ver. Eu fiz ultrassom, uma série de exames e tratei como se fosse [endometriose]. O medicamento paralisa o problema, mas não cura”, afirmou a administradora.

Segundo a médica de Marília Rocha, existe 50% de chance da doença se manifestar depois da gravidez. Em breve ela irá fazer novos exames para saber se a endometriose ficou adormecida ou se ela precisará retomar o tratamento nos próximos meses.

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