Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
28/02/2019 às 07h52min - Atualizada em 28/02/2019 às 07h52min

Alunos seguem longe do caminho da roça

Comparecimento de estudantes da zona rural tem sido baixo em escolas municipais; pais também relatam problemas com ônibus

MARIELY DALMÔNICA
Na última terça-feira (26), pais protestaram contra as mudanças no transporte escolar em frente à escola de Tenda dos Morenos | Foto: Núbia Mota
 O impasse envolvendo o transporte escolar na zona rural tem afetado o comparecimento de estudantes nas unidades de ensino de Uberlândia. Ontem, no terceiro dia letivo para escolas de fora da zona urbana, houve unidades que registraram comparecimento de apenas 12% do corpo discente, segundo apurou o Diário de Uberlândia. A Prefeitura, por sua vez, diz que o comparecimento total de estudantes bateu 65% em toda a rede. Alguns pais e responsáveis reclamam também das condições dos ônibus que fazem o transporte dos estudantes em regime emergencial. Ainda ontem, um dos veículos do sistema chegou a atolar durante o trajeto.

As aulas na zona rural começaram na última segunda-feira (25), com uma semana de atraso em decorrência das mudanças emergenciais no sistema de transporte escolar. As vans, por exemplo, não pegam mais os alunos na porta de casa, como ocorria anteriormente, o que faz os estudantes se deslocarem por longos trechos para chegar a uma linha mestra, onde aguardam ônibus paras as escolas. De acordo com a Prefeitura, o Município tem utilizado ônibus de forma emergencial, já que o processo de contratação das vans ainda não foi concluído.

O Diário de Uberlândia entrou em contato com a Escola Municipal José Marra da Fonseca, no distrito de Cruzeiro dos Peixotos, e um funcionário informou que o comparecimento às aulas, ontem, foi abaixo de 60% para alunos da zona rural, mas acima de 90% para moradores da comunidade. De 35 alunos, 10 foram às aulas.

Dois dos alunos faltantes foram os filhos da dona de casa Alexandra Amaral, que mora a 8 km da escola. Para chegar até o local onde os ônibus escolares passam, a mãe teria que se deslocar por cerca de 15 km. “Eles não foram para a aula nenhum dia, é inviável e fica caro. O transporte é um direito adquirido das crianças, ninguém está pedindo nada”, disse.

Segundo Alexandra, um ônibus que atendeu os alunos da José Marra estava com a frente quebrada e com os faróis queimados. “A estrada está bem ruim, não tem condição de ônibus circular. Da minha casa até a escola tem que passar por duas pontes, nem a cavalo conseguimos levar meus filhos”, disse a mãe.

A produtora rural Fernanda Alves é mãe do Kauê Alves, de 7 anos, que também está sem ir à aula desde segunda-feira (25). Além de não ter condição de levar o filho todos os dias até a linha mestra por conta da distância, a mãe afirmou que a estrada até a Escola Municipal José Marra da Fonseca, a rodovia municipal Neuza Rezende, está muito perigosa. “O carro sempre fura o pneu, a Prefeitura não arruma a nossa estrada, os moradores que se reúnem para arrumar.”

A distância da casa de Fernanda, que fica no Distrito de Martinésia, até a linha mestra é de cerca de 6 km. “Tenho vizinhos que estão a mais de 15 km de distância da linha. Estamos sendo muito prejudicados. Trabalhamos aqui porque tínhamos o direito ao transporte. Se a gente voltar para a cidade, a produção diminui.”

Segundo ele, pais e responsáveis irão se reunir com a Secretária de Educação, nesta tarde. “Também estamos mandando um documento para a vara da Infância e da Juventude, temos 120 assinaturas”, disse.

DOM BOSCO

De acordo com uma professora, que preferiu não ter seu nome divulgado, a Escola Municipal Dom Bosco, que fica próximo ao Rio das Pedras, recebeu, ontem no turno da manhã, apenas 37 alunos, 12% do total, de cerca de 300. Segundo a professora, os servidores foram trabalhar por meio de duas vans. “Eu tive que levantar antes das 4h30 e cheguei na escola 6h55, horário em que as aulas deveriam ter iniciado”, disse.

No ano passado, os professores eram conduzidos por três vans, que os buscavam na porta de casa. Agora, os servidores que não estão se deslocando por meio do serviço, que sai a partir de terminais de ônibus, estão indo para as escolas de condução própria, segundo a professora.

TAPUIRAMA

A produtora rural Irene Fernandes mora no distrito de Tapuirama e está levando o filho Fernando Alves, que está no 8º ano, para a aula de carro. Fernando estuda na Escola Municipal Sebastião Rangel. “De onde eu moro até a linha mestra dá 8 km, a mesma distância da minha casa. De acordo com a diretora, de 489 alunos, foram 233 pela manhã. Disseram que tinha que atingir 50% de alunos para ser dia letivo, mas como os servidores foram e tem mais de 10 alunos, a aula vai ser dada normalmente.”

A dona de casa Cleide Cordeiro é mãe de cinco crianças. Todas estudavam na Escola Municipal Professora Maria Regina Arantes Lemes, que está fechada para reforma, e agora estudam na Escola Municipal Professora Rosa Maria Melo, no bairro Pequis. Segundo Cleide, os filhos conseguiram ir para a escola pela primeira vez apenas ontem, graças a um vizinho, que se deslocou até a linha mestra e pediu que o motorista o acompanhasse para pegar os alunos na porta das casas. “Ele disse que amanhã [hoje], virá novamente”, afirmou a mãe, que mora a 4 km do ponto de ônibus.

OUTRO LADO

Por meio de nota, a Prefeitura de Uberlândia informou que, ontem, de 4 mil alunos, 2,2 mil compareceram às aulas matutina e vespertina nas escolas da zona rural. “Apesar de funcionar de forma emergencial e temporária, o serviço de transporte escolar para a zona rural está garantido para mais de 4 mil alunos, além dos servidores que trabalham nas unidades”.

O Município informou ainda que o veículo danificado, citado na reportagem pela dona de casa Alexandra Amaral, sofreu avarias durante o trajeto, mas o problema já foi solucionado. Sobre as reclamações referentes às condições das vias rurais, a Administração Municipal informou que irá enviar uma equipe técnica aos locais para fazer vistorias.

“O Município reforça, mais uma vez, que o novo modelo de contratação individual do transporte escolar atende a uma recomendação do Ministério Público Estadual. O órgão indicou ao município a necessidade de contratar motoristas de forma individual e não mais por intermédio de cooperativas”, conclui a nota.

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90