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15/02/2019 às 17h55min - Atualizada em 15/02/2019 às 17h55min

Uberlandenses contrapõem os “dois lados” do consumo de maconha

Especialista fala dos benefícios e malefícios da substância; Delegado esclarece sobre a cidade ser rota de distribuição da droga

NÚBIA MOTA
Uberlandenses relatam os “dois lados” do consumo de maconha | Foto: Polícia Federal
Assim como toda droga lícita, a maconha também tem um grande potencial para o bem e para o mal. A planta medicinal de uso milenar tem propriedades terapêuticas para amenizar sintomas de doença, mas também acarreta uma série de problemas ao organismo humano. O Diário de Uberlândia conversou com especialistas e uberlandenses que ponderaram as duas perspectivas do consumo da substância.

João Vicente Canabarro, de quatro anos, tem microcefalia e paralisia cerebral. Ele usa desde o ano passado o Canabidiol, um composto químico feito de maconha para tentar evitar uma série de ataques epiléticos, que já chegaram a 230 por dia. Já Bob, de 58 anos, que escolheu esse nome fictício em homenagem ao cantor Bob Marley, fuma a droga há 43 anos.

Com a descoberta de um tumor na garganta, em 2018, Bob viu uma outra função para o uso da erva, de um jeito mais medicinal, voltado para a amenização dos sintomas do tratamento e das fortes dores.  “Eu sempre fumei maconha, desde meus 15 anos. Na época não tinha um motivo para me drogar, mas agora com o câncer na garganta a maconha me ajuda muito. Me dá ânimo, ajuda com transtornos do sono, me ajuda a comer”, contou Bob.

Gomes, de 29 anos, fuma maconha há 13 anos e, em uma época de uso abusivo, o rendimento da faculdade caiu bastante. Hoje, ele faz o “uso social” da erva, como ele prefere dizer, e é a favor da legalização como forma de frear a violência que gira em torno do tráfico de drogas.

“Em vez de eu lidar melhor com a morte do meu primo e buscar ajuda de profissionais de saúde, eu fui buscar ajuda de amigos, bebendo muito e fumando muito. Hoje eu não bebo mais álcool, porque eu tenho epilepsia. Eu queria muito me tratar com a maconha, com médicos que receitem a maconha para mim, mas o médico que me trata não tem segurança ainda”, desabafou o jovem.

CONTRAPONTO


De acordo com a professora e doutora da Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Benvinda Rosalina dos Santos, a planta tem mais de 60 princípios ativos que podem ser utilizados pela medicina. “Você pode usá-la in natura, por exemplo, e aí vai tratar aquela doença, como uma doença de Huntington (doença degenerativa do cérebro), um glaucoma, esclerose múltipla, principalmente em epilepsias graves, que não se controlam com outros medicamentos”, disse Benvinda.

No caso da maconha usada para recreação, a cientista Benvinda dos Santos alerta sobre os riscos do uso, principalmente na infância, até os 25 anos, período de maturação do cérebro, quando os neurônios ainda estão em formação. “O hipocampo é o grande local das memórias. O indivíduo que começa a usar a droga precocemente vai interromper esse desenvolvimento cerebral. Quando alguém fuma maconha, você conversa com ele e, no mesmo instante, ele esquece tudo o que você disse. Ele não está adquirindo memória e se não adquire memória, não adquire aprendizado”, afirmou a especialista.

Além da queda no rendimento, o uso da maconha até os 25 anos, sem que a pessoa tenha realmente necessidade de usar a droga, de acordo com a cientista Benvinda dos Santos, pode gerar efeitos nocivos na fase adulta, como desencadear ataques de pânico, por exemplo. “Tem gente que tem o gene da esquizofrenia, que pode estar adormecido para sempre e nunca acordar, mas com o uso de cannabis, durante essa fase, o indivíduo pode se tornar um esquizofrênico”, explicou.

TRÁFICO

Só no ano passado, cerca de 12 toneladas de maconha foram aprendidas em Uberlândia e mais de 40 pessoas foram presas por tráfico de drogas.  De acordo com Carlos D’Ângelo, delegado-chefe da Polícia Federal (PF), geralmente a carga vem do Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, por estarem próximos do Paraguai, onde a maconha é plantada. No Brasil, não se sabe de plantações de maconha, com exceção de uma pequena parte no Nordeste brasileiro, perto do rio São Francisco.

Devido à localização, Uberlândia se tornou um recorrente ponto de passagem de traficantes, onde, muito comumente, são interceptados caminhões ou até carros com maconha até no teto. As grandes cargas que passam por aqui têm destino a São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e o Nordeste do Brasil. “Ora a droga é acondicionada aqui em Uberlândia para distribuição, ora é meramente de passagem. O caminhão não ficaria aqui, a gente intercepta e pega essa droga”, afirmou D’Ângelo.

Em termos de volume e quantidade, a maconha é a droga mais trazida para cidade pelas rodovias, devido ao preço mais acessível. Já para cocaína, como é mais cara, a logística de transporte é aprimorada. “A maconha tem mais saída e eles carregam de qualquer jeito. Houve uma época em que a gente pegava muita cocaína de avião. Compensa para eles trazer assim, mas não compensa trazer maconha, porque o volume é grande e o valor é infinitamente menor”, finalizou o delegado.


A reportagem completa sobre o assunto pode ser lida na edição impressa do Diário de Uberlândia deste domingo (17).

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