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28/01/2019 às 07h47min - Atualizada em 28/01/2019 às 07h47min

Corrida para ganhar (e entregar) o pão

Motociclistas de Uberlândia aderem a aplicativos de entrega de comida como forma de complementar renda

VINÍCIUS LEMOS
Foto: Divulgação
Grupos de motociclistas se juntam em vários pontos de Uberlândia com suas mochilas características. Ao mesmo tempo, uma série deles se locomove com pratos cujos prazos de entrega são tão importantes quanto o valor que vão receber posteriormente pela corrida. Quem anda pelas ruas percebe que Uberlândia passa por um processo pelo qual grandes capitais do país já passaram: a popularização dos aplicativos de delivery. A movimentação característica de motociclistas é o reflexo da expansão desse filão de mercado, que tem sido impulsionado pela tecnologia. Trata-se de uma oportunidade de emprego para uns e de faturamento para outros, como os restaurantes e as empresas responsáveis pelos aplicativos.

No Município, há pelo menos dois grandes aplicativos que têm sido usados por comerciantes, motociclistas e consumidores finais, além de um terceiro voltado apenas para relação entre restaurante e entregador. Os números locais não são fornecidos pelas desenvolvedoras de aplicativos, como iFood e Uber Eats. Em âmbito nacional, contudo, os dados do iFood apontam para um crescimento na casa dos três dígitos por ano no Brasil, o que, nas palavras do diretor comercial da empresa, Lucas Passos, “mostra o quanto o mercado é promissor e o quanto as pessoas estão aderindo ao delivery de comida”.

Embora não haja dados referentes à cidade, o mercado de Uberlândia é visto como promissor pelas empresas de aplicativo. Prova disso é o fato de Uberlândia ter sido um dos municípios inclusos na primeira onda de expansão da Uber Eats no País. Em 2017, a empresa desenvolveu ações em cinco cidades, todas capitais, enquanto no ano passado o aplicativo chegou a um total de 30 municípios, onde as entregas passaram a ser feitas no mês de novembro de 2018.

Para além das pizzas, os entregadores passaram a notar o filão aberto principalmente no segundo semestre do ano passado, quando passaram a fazer entregas sem um vínculo direto com os restaurantes. É possível que o motociclista se cadastre no aplicativo e passe a ser um prestador de serviço autônomo, trabalhando por demanda. O cliente faz o pedido via app, o restaurante o prepara e, para despacha-lo, verifica na plataforma algum entregador disponível, que vai receber de acordo com a distância percorrida e com a saturação de pedidos para uma determinada região.

Informalmente, o Diário de Uberlândia recebeu a informação de que os valores mínimos pagos aos entregadores variam de R$ 3,75 a R$ 5,49, mas a isso são somados a distância e os incentivos para determinado horário. Uma corrida de aproximadamente 3 km com duas paradas, para buscar e entregar o pedido, acompanhada pela reportagem durante uma noite de meio de semana, rendeu a um entregador perto de R$ 8. Os valores, no entanto, podem variar muito, segundo o apurado pelo Diário.

PERFIL

Fato é que o perfil dos entregadores que buscaram os aplicativos nos últimos meses é composto por trabalhadores autônomos, cujo objetivo é complementar renda. Eles buscam se manter em regiões de concentração de estabelecimentos comerciais, o que diminui o gasto com combustíveis e aumenta a velocidade de entrega, já que a avaliação da corrida também conta. Todos os entrevistados pelo Diário de Uberlândia têm outro emprego, o principal, e fazem as entregas em horários alternativos em busca de faturamento extra. A maioria trabalha com pelo menos dois aplicativos.

Há dois meses, Baltazar Martins Ramos passou a fazer entregas usando a própria moto. Ele é escultor e pintor de faixas e cartazes e tem o delivery como forma de faturamento secundário. Ele diz estar satisfeito com os ganhos, mas faz entregas por até seis horas por dia, sendo o trabalho dividido entre o dia e a noite, para compensar. “A entrega vem para complementar a renda. É muito bom e para quem está desempregado também ajuda. Mesmo com gasolina vale a pena”, afirmou. Ele se divide no atendimento a dois aplicativos, além de esperar a avaliação recente de cadastro em um terceiro programa de entregas. “Cada aplicativo tem sua vantagem. Um paga por quinzena, outro recebe dinheiro e cartão e há a possibilidade de negociação direta com o comerciante em outra plataforma”, explicou.
O entregador espera expansão do mercado, da mesma forma que Felipe Henrique Moreira, que é atendente e trabalha à noite fazendo entregas. Ele disse que ainda não conseguiu faturar o esperado, mas que está há duas semanas apenas no ramo. “É um extra, para complementar o salário mesmo. No final de semana dá mais, entre quinta e sábado. Mas já teve dia em que fiquei duas horas e fiz apenas uma entrega. Na última semana peguei apenas R$ 70”, ponderou.

O setor também atrai bastante gente como o André Luis Soares, que já exercia atividade remunerada com a moto em uma auto elétrica da cidade. Desde o início do mês, ele passou a fazer entregas de refeições e disse que, apenas nessa semana, já encontrou com outros oito novatos. Ele explicou que a burocracia para adesão é pequena, mas há aplicativos que pedem comprovação de CNH com permissão para atividade remunerada. “Isso na renovação da documentação pesa. Na minha casa tem um exemplo: minha mulher gastou R$ 200 para renovar a CNH dela, a minha custou quase R$ 700 por conta de exames como o toxicológico e o psicotécnico para quem tem a CNH profissional”, explicou.

Pelo menos por enquanto, Soares garante que o trabalho de entregas por aplicativos compensa, apesar de não poder ser a fonte de renda primária.
 
UBER EATS
Plataforma busca posicionamento no mercado local

 
Recente na cidade, a Uber Eats busca posicionamento no mercado nesses dois meses de operações em Uberlândia. Segundo entregadores autônomos e comerciantes, o iFood ainda é dominante em pedidos e entregas locais.

A gerente de comunicação da Uber Eats no Brasil, Gabriela Manzini, afirma que busca aplicar a experiência com transporte de passageiros – realizado pela Uber - para ter infiltração no Município. De qualquer forma, ela avalia que o mercado local é amplo e que a expansão do serviço passará pelo descobrimento da plataforma por parte da população local. A Uber Eats não revelou quantos restaurantes e entregadores estão cadastrados na plataforma em Uberlândia.

“A gente vê crescimento no geral desde que o serviço chegou ao Brasil. Esse mercado passou muito tempo sem novidades e a chegada dos aplicativos trouxe alternativa de entrega. O delivery aumenta a eficiência na distribuição de comida. No futuro, a pessoa vai poder escolher cozinhar e não mais fazer por extrema necessidade”, afirmou.
 
COMÉRCIO
Empresários conquistam mais clientes
 


Renato afirma que aplicativo tem ajudado a ganhar mais clientes | Foto: Vinicius Lemos
 
Há três anos Renato Naves Ribeiro abriu um restaurante especializado em cozinha japonesa no bairro Planalto, na zona oeste. O objetivo dele nunca foi fazer o atendimento em salão, até porque o negócio ainda era pequeno e na própria casa. A entrega sempre foi o filão. Com o crescimento do restaurante, ele abriu um ponto comercial fora de sua casa e os pedidos antes feitos apenas por telefone e WhatsApp foram ampliados para um aplicativo. Hoje, 80% de tudo que ele vende parte desse app.

“Tenho uma logística boa e mantenho três entregadores. Não mando mais do que dois pedidos por moto até para que haja rotatividade”, disse. Os entregadores do restaurante de Renato Naves, contudo, são contratados pela empresa. Segundo o empresário, isso ajudar a possibilitar um controle maior. O porém são encargos de manutenção do aplicativo, que vão de um taxa de 12% por venda, além de R$ 100 mensais, taxas bancárias e de cartões. “Mas o aplicativo traz muito cliente”, afirmou.

Também com 16 motociclistas contratados, Gislene Coelho Menezes, dona de um restaurante no bairro Santa Maria, aderiu ao uso de um app para pedidos há pouco mais de um ano. Ela disse que ficou surpresa com a adesão da clientela. “Fiz teste por uma ou duas semanas. O crescimento incentivou a continuar e tem espaço para crescer mais”, disse. O carro chefe dela ainda continua o pedido via telefone, mas a empresária acredita que as entregas por app sejam o futuro de muitos estabelecimentos. Atualmente, o faturamento de Gislene Menezes em pedidos feitos por telefone e app chegam a 40% do total. Ela chega a fazer 550 entregas em um dia como domingo, quando tem grande demanda.
 
 
 
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