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06/01/2019 às 07h10min - Atualizada em 06/01/2019 às 07h10min

Chegou a hora de poupar

Pesquisa mostra que 51% dos brasileiros têm como meta guardar parte dos rendimentos neste ano

CAROLINA PORTILHO
Camila Gomes poupa parte do seu salário para uso em emergência ou compras à vista | Foto: Arquivo Pessoal
Poupar sempre fez parte dos planos da auxiliar administrativa Camila Gomes, que desde o seu primeiro emprego, aos 18 anos, reserva parte do seu salário para ser usado em alguma emergência ou para fazer compras à vista. Esse comportamento da jovem, hoje com 27 anos, está dentro da estimativa de uma pesquisa nacional divulgada no último dia 2, que mostra que 51% dos entrevistados pretendem juntar dinheiro em 2019. 

Os dados são da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), que também indicam a intenção do brasileiro em poupar para quitar dívidas. Segundo a pesquisa, cerca de 37% esperam sair do vermelho neste ano.

Ainda de acordo com a pesquisa, sete em cada dez entrevistados (72%) estão otimistas com a economia neste ano e acreditam que a vida financeira irá melhorar. Já 8% revelou o contrário, dizendo acreditar que a economia vai piorar.
Entre o público que vê mudanças positivas, as perspectivas para este ano são manter os pagamentos das contas em dia (69%), fazer reserva financeira (59%) e realizar algum sonho de consumo (57%). Na contramão dessa visão, seis em cada dez entrevistados (58%) acreditam que os efeitos da crise terão impacto ainda neste ano.

Para evitar que isso afete a rotina, os entrevistados dizem que pretendem organizar ou controlar mais as contas da casa (51%), pesquisar mais os preços (50%), aumentar a renda com trabalho extra e bicos (44%) e evitar o uso do cartão de crédito (44%).

“Não tenho cartão de crédito. Se surgir um imprevisto, tenho as minhas reservas, que também são usadas para comprar algo à vista. Por exemplo, estou mobiliando a minha casa com esse dinheiro guardado, assim como foi com o carro. Não era zero, mas não fiquei com dívidas. Optei por pagar integralmente de uma vez. Todo mês eu guardo um pouco do meu salário, que fica em uma poupança. Prefiro me organizar do que passar aperto”, disse Camila Gomes.

A analista de crédito Diovanna Faria, 22 anos, resolveu começar este ano de uma forma diferente dos outros: poupando. Segundo ela, parte do seu 13º já foi guardado, assim como a partir de agora uma fatia do seu salário será encaminhada direto para a poupança. O novo planejamento da jovem surgiu após adquirir dívidas com o cartão de crédito.

“Acabei parcelando a última fatura do cartão de crédito e agora preciso correr atrás do prejuízo. Espero poupar R$ 200 todo mês para zerar as contas, começar a juntar dinheiro e, com isso, fazer alguns planejamentos, como voltar para a autoescola. Uma solução que encontrei para realmente fazer uma reserva é, assim que meu salário cair, colocar essa economia direto na poupança, ou seja, deixar retido o dinheiro. Agora é esconder o cartão e não usar mais”, brincou a jovem.

PLANEJAR É PRECISO
Economista dá dicas para organizar a vida financeira



Fábio Terra diz que é importante escolher um método para poupar dinheiro | Foto: Divulgação

O economista Fábio Terra, de Uberlândia, diz que a grande sacada quando o assunto é renda é viver dentro do orçamento que possui. “Cabe no seu orçamento?” é uma das perguntas que o profissional sugere fazer sempre que alguém quiser adquirir algo, assim como “preciso disso agora ou posso esperar?” e “é essencial para a minha vida neste momento?”.

Para ele, além de ter em mente o que se pode ou não gastar sem comprometer a renda, escolher um método para poupar dinheiro é essencial para um planejamento financeiro. “Que seja uma planilha ou qualquer outro modelo oferecido pelo próprio banco, além de aplicativos já disponíveis para essa finalidade. Há várias maneiras, basta ter disciplina”, disse.

Fábio reforça que as pessoas estão mais conscientes quanto ao uso do dinheiro, o que pode ter relação com o momento da economia do país. Com isso, acabam poupando mais, já que para ter emprego e renda a economia precisa ir bem. 

O economista também faz um alerta aos que estão endividados, sugerindo renegociar a dívida antes que o nome fique negativado. “A pessoa precisa usar essa capacidade de negociação em momentos difíceis. Outro ponto é o cartão de credito, considerado um vilão. A pessoa gasta, gasta, e esquece que é uma dívida que logo precisa ser paga. Os juros são altos, exorbitantes, e acabam fazendo com que a dívida cresça rapidamente, fugindo do controle de quem está nessa situação. Então, se não for urgente e não tiver o dinheiro, o certo é juntar a quantia e comprar à vista. Planejar é importante não só no começo do ano, mas ao longo da vida. Ter saúde financeira faz toda a diferença.” 

O empresário Wladimir Rocha, 31 anos, não precisou passar por nenhum aperto para ter sua vida financeira em dia. Veio de família a questão do planejamento, que é controlado por meio de uma planilha em Excel bem estruturada. Segundo ele, até a bala de R$ 0,20 é incluída nas despesas.

“Já faço minhas economias há anos com o intuito de justamente não cair em situação de dívidas. Hoje, eu mantenho minhas economias na conta bancária e não em um fundo de renda fixa, pois diante de uma necessidade fica mais fácil movimentar o valor. Minha planilha com orçamento familiar contempla gastos até 2023 e atualizá-la é fundamental para que esse planejamento dê certo. Cada método usado, seja ele um app ou mesmo a planilha, precisa ser alimentado”, disse Wladimir.


Wladimir Rocha aprendeu com a mãe a controlar os gastos e planejar sua vida financeira | Foto: Divulgação

QUALIDADE DE VIDA
Oito em cada dez tiveram de fazer cortes


A pesquisa elaborada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), divulgada no último dia 2, também mostrou que oito em cada dez (82%) consumidores ouvidos fizeram cortes ou ajustes no orçamento em 2018, principalmente em refeições fora de casa (52%), compra de itens e vestuário, calçados e acessórios (49%), itens supérfluos de supermercado (47%) e viagens (43%).

Entre as experiências financeiras vivenciadas no ano passado, 41% tiveram de abrir mão de muitos produtos que consumiam, 34% conseguiram pagar as contas em dia, 30% ficaram desempregados e 30% passaram muitos meses com as contas no vermelho.

O levantamento também aponta que 61% conseguiram colocar em prática pelo menos um projeto que tinham para 2018. As principais metas cumpridas foram: cuidar da saúde (22%), pagar dívidas atrasadas (15%), fazer reserva financeira (15%), comprar ou reformar a casa (12%), fazer tratamento odontológico (10%) e realizar uma grande viagem (9%).

Por outro lado, 94% não conseguiram concretizar os principais projetos que haviam planejado para o ano passado, principalmente juntar dinheiro (33%), quitar contas atrasadas (25%) e adquirir ou reformar a casa (25%). Apenas 6% garantem ter realizado todas as metas traçadas para 2018. Questionados sobre os motivos que levaram a não concretizar seus planos, a maioria (53%) justificou falta de dinheiro. Os preços altos também foram um impeditivo para 50% dos entrevistados e 33% mencionaram o desemprego.

Foram entrevistadas 702 pessoas, entre 27 de novembro e 10 de dezembro de 2018, de ambos os sexos e acima de 18 anos, de todas as classes sociais, em todas as regiões brasileiras. A margem de erro é de 3,7 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.
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