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11/12/2018 às 07h05min - Atualizada em 11/12/2018 às 07h05min

Santa Catarina vai atender 60% SUS

Previsão do novo grupo gestor é reabrir em março do próximo ano, ampliando especialidades e transformando unidade em hospital escola

WALACE TORRES
Sócio majoritário do Santa Catarina afirma que hospital reabre em março | Foto: Núbia Mota
Fechado há dois anos, o Hospital Santa Catarina deverá ser reaberto em março do próximo ano com a proposta de se tornar, também, um hospital escola, nos mesmos moldes do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. Essa é a intenção do novo gestor da unidade, o político, professor, médico e empresário do ramo de educação e saúde Ruy Adriano Borges Muniz. Ex-prefeito de Montes Claros, ex-vereador e ex-deputado estadual, Muniz esteve na semana passada em Uberlândia, participando da Assembleia Geral Extraordinária que aprovou a ampliação do capital patrimonial do hospital.
 
Para se tornar o sócio majoritário, Muniz, que está à frente da Sociedade Educativa do Brasil (Soebras), que conta com hospitais e instituições de ensino em vários estados, está investindo R$ 6,5 milhões agora, chegando a R$ 30 milhões nos próximos dois anos.
 
Em entrevista exclusiva ao Diário de Uberlândia, o novo gestor disse que o Santa Catarina será reaberto com 60% do atendimento voltado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e o restante à saúde suplementar.
 
Diário de Uberlândia: Por que o interesse pelo Hospital Santa Catarina?
 
Ruy Muniz: O que é interesse nosso aqui no hospital Santa Catarina? Fazê-lo voltar a funcionar. Uberlândia é a segunda cidade de Minas, uma cidade importante, rica, de grande população e que tem grandes deficiências na área da saúde, como as cidades grandes. Então nós vamos reabrir o hospital, com pelo menos 60% de atendimento pelo SUS e 40% de medicina complementar. Vamos trazer também a parte educacional para Uberlândia dentro de cursos de especialização, de residência médica, mestrado, doutorado na área de saúde.
 
 Então seria também um hospital universitário.
 

Vai ser um hospital de ensino. Ele vai levar um tempo para se transformar de um hospital geral para também de ensino. Ele vai ter as características do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, vai ter professores, residentes, acadêmicos, mais a qualidade dos médicos que estamos tentando resgatar – estamos chamando praticamente 100% do corpo clínico do hospital para que eles voltem a trabalhar. Também daremos oportunidade para os ex-funcionários do Santa Catarina que, por motivo de causa justa tiveram que sair, foram demitidos. É uma parceria, a gente conta com a ajuda do prefeito Odelmo Leão, do secretário de Saúde, doutor Gladstone, do Ministério Público, do Poder Judiciário, dos médicos, da Unimed para fazer esse esforço e retomarmos o funcionamento do hospital o mais rápido possível. Nossa previsão é que esse hospital volte a funcionar no mais tardar em março de 2019.
 
 Quando o senhor fala desses projetos, significa que então pode vir para a cidade um novo curso de Medicina a partir do seu grupo de ensino?
 

É nosso objetivo, no futuro próximo temos esperança de que esse novo governo desregulamente a forma com que estão liberando os cursos de Medicina pelo país. Através de edital, o governo escolhe a cidade e faz o edital de concorrência para ver qual a escola que vai assumir o curso de Medicina. Uberlândia tem mais de 700 mil habitantes e tem condições de ter um novo curso de Medicina e nós vamos lutar para trazê-lo. E a base para isso tenho certeza de que a nova regulamentação vai exigir: primeiro, profissionais titulados, mestres e doutores, e aqui em Uberlândia tem; segundo, infraestrutura, quem quiser abrir um novo curso de Medicina tem que ter no mínimo um hospital escola, residência médica, e nós, transformando o Santa Catarina nesse hospital de ensino, sairemos na frente das demais escolas que estão aí. Com exceção da UFU, ninguém tem um hospital. Nós seremos um grupo educacional que tem um hospital. Não é só Medicina, mas cursos de Enfermagem, Farmácia, Gestão Hospitalar, de Especialização para Médicos, a gente tem essa expertise e fará isso no Santa Catarina.
 
Qual é o grupo educacional?
 

Rede Soebras – Sociedade Educativa do Brasil. Dispõe de diversos hospitais, escolas, tem grandes marcas, como no caso de Belo Horizonte o curso Promove, temos várias unidades educacionais em Montes Claros, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e outras capitais brasileiras. Esse grupo que já administra hospital em Belo Horizonte, a Fundação Hilton Rocha, e agora vem pra cá. Mas quem vai fazer a gestão da saúde aqui? São os médicos que sempre fizeram a boa gestão do Santa Catarina. A cultura médica de Uberlândia é uma cultura de grande centro, aqui faz todos os procedimentos de alta complexidade, tem um corpo médico fantástico que irá contribuir e muito para esse projeto de saúde e educação.
 
 Hoje o Santa Catarina se encontra em processo de recuperação judicial. Dentro de quanto tempo o senhor acredita que possa sair dessa situação?
 

Se dependesse da gente seria imediatamente, tem uma série de providências que precisam ser tomadas, mas acredito que em seis meses, um ano, no máximo, vamos negociar com os credores e pedir o fim dessa recuperação judicial para que o hospital tenha a sua vida tranquila e volte a ter um curso normal. Na área de prestação de serviços não é muito adequado o caminho da recuperação judicial, porque as dívidas que são passíveis de ser negociadas são de muito curto prazo, a dívida principal é com os trabalhadores e médicos, e você tem apenas 12 meses para pagar após a aprovação do plano. Quando a empresa é do setor comercial ou industrial aí às vezes existe dívida grande bancária, com estoque de mercadorias, e se ganha um prazo maior para pagar, de cinco, oito anos. No caso de prestação de serviços, não. Como a gente faz uma empresa funcionar com harmonia com o trabalhador sem receber o seu salário? Ou com o médico sem receber os seus honorários? Então, para o hospital Santa Catarina funcionar bem ele precisa ter esse equilíbrio e os prestadores de serviço satisfeitos. Portanto, queremos quitar todo esse débito trabalhista em no máximo 12 meses.
 
 Essa reabertura deve ser gradativa?
 

Há um planejamento em que a gente vai tentar voltar os serviços que o Santa Catarina tem expertise e credenciamento para isso. O Santa Catarina sempre teve um pronto atendimento e ele vai voltar com isso. É um hospital cirúrgico, portanto o bloco cirúrgico vai voltar, bem como as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Para você fazer cirurgias de mais riscos é preciso ter uma retaguarda de UTI. E vai voltar o carro-chefe, as cirurgias cardíacas, as hemodinâmicas, implantação de marca-passo, stent, fazer todo o processo que consagrou o Santa Catarina como um dos melhores e mais importantes da história de Uberlândia.
 
Hoje existem várias áreas com carência na cidade. O Santa Catarina também poderá suprir essas demandas? Quem depende do Ipsemg em Uberlândia, por exemplo, está desamparado.
 
Nós vamos ter quatro grupos de clientes que serão atendidos em Uberlândia. Primeiro, a família Unimed, a grande maioria dos médicos sócios do Santa Catarina também são filiados à Unimed. Outro é o SUS, o hospital só atendia o SUS na alta complexidade em cardiologia. A gente vai ampliar esse atendimento, tanto na cardiologia como em outras áreas também. Vamos conversar com o prefeito, o secretário de Saúde, com o Conselho Municipal de Saúde e identificar quais as necessidades do município de Uberlândia, aonde tem vazio assistencial e propor implantar esses serviços. E os funcionários públicos do Governo de Minas Gerais, tanto os professores quanto a Polícia Militar, Polícia Civil, fiscais do Estado, nós vamos habilitar o hospital para receber esse público. E haverá também as pessoas que procurarem espontaneamente e quiserem pagar um preço. Os médicos que irão compor o corpo clínico têm pacientes particulares, então a pessoa que quer ser atendida rapidamente mas não tem plano de saúde e nem quer ser atendida pela SUS, teremos também essa clientela. O equilíbrio do hospital vai ser 60% SUS e 40% medicina suplementar, principalmente a parceria com o plano de saúde da Unimed.
 
 Nesses três meses até a reabertura do hospital, a prioridade agora é obter os alvarás, as liberações e as reformas necessárias?
 

A abertura do Santa Catarina é uma corrida de obstáculos, digamos assim. Tem três obstáculos a serem superados, lembrando que para chegarmos até aqui na Assembleia tivemos que superar vários conflitos judiciais, de ego, de interesse pessoal, foi uma caminhada longa de quase um ano. O primeiro obstáculo é reativar os contratos, especialmente com o SUS, a Unimed, o Ipsemg e a Polícia Militar. Depois disso temos a questão da vigilância sanitária. O hospital ficou fechado, tem que ter uma fiscalização de novo, olhar a questão da água, do gás, questão de incêndio, da segurança do hospital, da higienização, os aparelhos a serem calibrados. Então precisamos validar as licenças para o hospital voltar a operar adequadamente. Já sabemos que existem algumas dificuldades e, portanto, vamos pedir um prazo e provavelmente fazer um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] ou um TOC [Termo de Obrigações a Cumprir], no caso da vigilância sanitária, para tomar as providências dentro de seis meses, um ano. E paralelamente com isso, as reformas e ajustes, alguns investimentos. Já foi detectado que a ressonância do hospital se perdeu e teremos que fazer investimento para comprar uma nova. Alguns equipamentos importantes [serão adquiridos]. E quem sabe, no futuro, a gente fazendo uma expansão boa possamos investir em robô. Hoje, o Da Vince, que é o grande robô que faz cirurgias com qualidade, com segurança – aqui em Uberlândia não sei se já tem algum hospital instalado, mas em Belo Horizonte já tem três hospitais instados, São Paulo também - que dá segurança e rapidez ao paciente, para o médico. Antigamente um robô desses custava 8 milhões de reais, hoje o robô custa cerca de R$ 3 milhões. Então é uma coisa viável de se trazer pra cá. A cirurgia robótica é o que há hoje, quem tem poder aquisitivo vai para São Paulo para operar, é uma cirurgia totalmente segura, minimamente invasiva. Precisamos fazer muitas coisas para o hospital ficar no estado da arte. Uberlândia é uma cidade exigente, aqui não dá certo se for um hospital com deficiências, tem que ser um hospital que compete com os melhores que estão aí. Esse é o nosso propósito: fazer o Santa Catarina voltar a ser o líder. O Santa Catarina já foi o hospital do governador, Rondon Pacheco já foi tratado lá, as famílias tradicionais de Uberlândia foram tratadas lá. Queremos voltar essas condições para que atenda as pessoas tanto na alta complexidade, do SUS, mas também as pessoas com poder aquisitivo na medicina suplementar.
 
Qual será o investimento do grupo no hospital?
 

O grupo deve nos próximos dois anos investir na ordem de R$ 30 milhões, esse é o propósito. Inicialmente, vamos fazer um investimento de R$ 6,5 milhões para aumento de capital para que o hospital tenha um patrimônio líquido positivo e possa fazer esses investimentos emergenciais para voltar a funcionar. Quando você fala de uma ressonância magnética de boa qualidade, você está falando de um investimento de 1,5 milhão de dólares, ou cinco, seis milhões de reais. Uma tomografia para competir aqui precisar ser de pelo menos 128 cortes para que dê resolução e seja o exame desejado pelas pessoas. Nosso modo de atuar nos hospitais é: medicina avançada para todos. Com investimento em tecnologia, apoio de um corpo clínico competente, a tradição do Santa Catarina vamos fazer com que esse projeto seja vitorioso. Não sou mágico, estou vindo para fazer um investimento seguro, conservador, para resgatar uma obra que faz parte da história de Uberlândia.
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