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01/12/2018 às 10h02min - Atualizada em 01/12/2018 às 10h02min

Grupo francês loca Hotel Presidente

Empreendimento terá um novo modelo de gestão com serviços mais enxutos aos hóspedes

IGOR MARTINS E NÚBIA MOTA
Simplicidade, rapidez e bom custo-benefício fazem parte dos conceitos que a B&B Hotels, empresa francesa que acaba de chegar a Uberlândia, promete aos hospedes do seu empreendimento na cidade a partir de hoje. Localizado na Praça Tubal Vilela, o prédio do histórico Hotel Presidente, está sob o comando do grupo internacional que realiza neste sábado um evento para oficializar o começo de suas atividades na cidade e em Minas Gerais. 

A negociação girou em torno de R$ 4,2 milhões em um contrato de concessão do imóvel. Os franceses Fabrice Collet, CEO mundial da B&B Hotels, Olivier Coustet, CEO no Brasil, e Céline Vercollier, diretora financeira do grupo, falaram ao jornal Diário de Uberlândia na quinta-feira (29) sobre o primeiro empreendimento no estado e segundo no Brasil.

Com 475 hotéis espalhados por 10 países da Europa, a B&B Hotels sentiu que era a hora de expandir a rede para fora do continente. De acordo com Olivier Coustet, várias pesquisas de mercado foram realizadas até a conclusão da diretoria sobre o projeto de expansão no País. “Quando se fala em mercado hoteleiro, o Brasil é uma das principais forças do mundo. Para a B&B, criar esta rede aqui significa ter hotéis nas principais cidades do país e podemos dizer que Uberlândia está entre os 10 principais locais aonde queremos estar presentes”, afirmou Fabrice Collet.

Para o CEO da B&B no Brasil, Uberlândia atende os requisitos do empreendimento para a construção da rede. “Nós adoramos locais onde existe uma mistura de agronegócio, indústrias e serviços. Uberlândia se encaixa perfeitamente no nosso modelo de negócios e é uma cidade com mais de 650.000 habitantes”. Para Coustet, a ideia da empresa francesa é ampliar a presença da B&B no sudeste brasileiro, bem como na região norte do Paraná.

Mesmo em um período de incerteza política e econômica, os três diretores são unânimes ao falarem do poderio econômico e financeiro do país. Os executivos não titubearam ao discorrerem sobre o cenário e declaram que por mais que desejem uma alavancada rápida na economia, não há como prever quando isso irá se concretizar. Mas confiam que ela irá acontecer naturalmente, que seja em um, cinco, dez ou vinte anos.
Para Fabrice Collet a transição política é natural e diz que a empresa espera que a economia brasileira volte a ser estável nos próximos anos. “Sempre que se inicia um novo ciclo com um novo presidente, há uma nova esperança.”

O HOTEL

Com o objetivo de levar maior agilidade e praticidade aos hóspedes os diretores executivos e financeira confirmaram algumas mudanças em relação ao antigo modelo de gestão do Hotel Presidente. Os franceses acreditam que é necessário entregar à população algo mais atual na realidade do mercado hoteleiro. “Queremos oferecer um serviço simples, mas de qualidade. Um local para a pessoa dormir, tomar um bom café da manhã e ir embora. Por isso, não temos academia, piscina ou serviço de quarto”, disse Collet.

Conhecido pela sua tradição gastronômica, o Hotel Presidente ficou famoso pela feijoada, que acontecia aos sábados para uberlandenses e visitantes entre outros momentos de glamour à mesa. O diretor executivo mundial da rede hoteleira francesa disse que, a princípio, eventos gastronômicos não serão realizados no hotel B&B. Entretanto, o francês não descartou a possibilidade de firmar parcerias para que este costume seja mantido no local. “A ideia é realmente oferecer ao hóspede o necessário. Uma cama, um banheiro e um café da manhã. O objetivo agora não é entrar neste mercado gastronômico, mas vamos analisar parcerias. Até porque já sei que em Minas Gerais o forte é o pão de queijo”, brincou Collet.

A EMPRESA

Surgida em 1990 na região da Bretanha, na França, a B&B Hotels é uma multinacional presente em 10 países da Europa: França, Espanha, Itália, Alemanha, Polônia, República Checa, Bélgica, Suíça, Eslovênia e Áustria. Além disso, está presente no Brasil com unidades em Uberlândia, São José dos Campos, e futuramente nas capitais Rio de Janeiro e São Paulo. Com 28 anos de história, a B&B Hotels nunca encerrou as atividades de um hotel.

A rede hoteleira de Uberlândia
Número de estabelecimentos: 50 de todas as categorias. Inclui os dois hostels.
Quartos de hotel: 3.392
Leitos: 6.066 
Diária média: R$ 180,00
Média de ocupação: 2 dias
Perfil do visitante: turista de negócios e participantes de eventos técnico-científico. Alta da hotelaria de segunda a quinta-feira.

História
Prédio era sinônimo de luxo e riqueza 

O Hotel Presidente nasceu da iniciativa do ex-prefeito Tubal Vilela da Silva, que não chegou a ver o projeto pronto. O empreendimento, inaugurado no dia 7 de março de 1964, foi por muitos anos sinônimo de luxo e riqueza dos visitantes da cidade. Hospedou artistas famosos e políticos e inclusive ganhou esse nome para homenagear o ex-presidente da república Juscelino Kubitschek de Oliveira, grande amigo de Tubal Vilela e que chegou a conhecer o prédio, mesmo depois da morte do empresário uberlandense, em 1962. 

A ideia era dar o nome de Hotel Presidente Juscelino, mas 24 dias depois da inauguração foi deflagrada a Ditadura Militar no Brasil. Como JK se opunha ao regime militar e teve até os direitos políticos cassados, o nome não agradou. “Ligaram para meu irmão, Rômulo, e pediram para tirar o nome de JK e então ficou só Hotel Presidente”, disse o empresário Tubal de Siqueira Silva, filho de Tubal Vilela e que ainda é proprietário do imóvel terceirizado, ao grupo francês B&B, a essa repórter durante uma entrevista para a publicação Almanaque de Hoje e Sempre. Para o empreendimento de 12 pavimentos, construído pela Tuvil S.A, foram gastos 300 milhões de cruzeiros na época. Como o ex-prefeito morreu antes de finalizar a obra, os filhos finalizaram os trabalhos. 

O jornalista Neivaldo Honório da Silva, o Magoo, era criança quando o Hotel Presidente foi inaugurado. Desde antes, ele já engraxava sapatos na praça Tubal Vilela, na época chamada praça da República, ali de frente, e quando o hotel foi aberto, os meninos engraxates ficavam de olho nos hóspedes abastados. “Se a gente cobrava 1 cruzeiro do cliente tradicional, do hóspede podia cobrar 2 ou 3 cruzeiros e ele te dava 5 ou 10 cruzeiros. Só hospedava gente que tinha dinheiro. A molecada ficava por ali, não na calçada por que eles não deixavam, mas por ali, abordando as pessoas”, disse o jornalista. 

Anos depois, exatamente em 1986, Magoo tinha acabado de começar sua nova carreira na imprensa, na TV Paranaíba, e foi incumbido de buscar a atriz Vera Fisher para dar um entrevista no estúdio da emissora. Como o jornalista já era conhecido do gerente, o Dorvalino, desde a época de engraxate, não foi levado a sério quando buscou a ex-miss Brasil no saguão do hotel. “Fui buscar a Vera Fischer às 18h. Ali do lado tinha o restaurante Garibald’s, que estava lotado, e o saguão do hotel também lotado, e falei na recepção “A Vera Fischer está me esperando”. O Dorvalino não quis chamar e falou que ia me por pra fora. Lá tinha uma espécie de mezanino, onde serviam as refeições, e ela apontou lá em cima, em um vestido transparente e falou: ‘Magoo, é você?’ Ela desceu como se estivesse desfilando na passarela, muito elegante, me deu o braço e eu sai dando tchauzinho pro Dorvalino”, disse Magoo. 

Outras celebridades, como Glória Menezes, Ronnie Von, Ronald Golias,  Francisco Cuoco, Wilson Simonal,   Caetano Veloso,  Aguinaldo Timóteo,  Jair Rodrigues ,  Roberto Carlos, Mário Lago  e Chico Anysio também se hospedaram no Hotel Presidente.   No local, tem um livro de ouro com os registros desses hóspedes ilustres. 

Em 2012, o Hotel Presidente abandonou a estrutura onerosa e passou a ser administrado pela rede BHG, que gerencia hotéis em todo país. O grupo BHG encerrou suas atividades no fim de 2017 e se uniu a então multinacional Accor Hotels, que passou, até então a administrar o empreendimento.

Laços
A amizade entre o prefeito e presidente


Entre 1951 e 1955, quando Juscelino Kubitschek de Oliveira governou Minas Gerais, Tubal Vilela da Silva estava à frente da Prefeitura de Uberlândia. Ambos eram filiados ao Partido Social Democrático (PSD), criado há pouco, em 1945, e mantinham uma amizade que ia muito além da esfera política. Nos vídeos sobre a vida de JK é comum encontrar fotos dele ao lado de Tubal Vilela.

JK vinha sempre a Uberlândia. No mandato de Tubal Vilela, na praça Tubal Vilela, na época praça da República, foi ainda entronizado o busto do ex-presidente da República. JK veio à cidade ver a homenagem e até tirou foto ao lado do monumento. 

Depois da morte do amigo, Juscelino continuou visitando a família. Vinha sempre à cidade e se hospedava na casa de Rômulo Vilela, filho do ex-prefeito e seu compadre. Quando uma das filhas de Rômulo nasceu, a Siomara Vilela, Tubal Vilela pediu ao filho para que convidasse JK para batizá-la. “Sempre que ele vinha, a casa enchia de gente para vê-lo. Ele veio a Uberlândia pela última vez em abril de 1976, pouco tempo antes de morrer”, disse Silvana de Almeida Silva, neta de Tubal Vilela e filha de Rômulo. No álbum de fotografia da família estão também os registros da despedida de JK na cidade, já agosto de 1976, quatro meses depois, ele morreu em um acidente automobilístico na Via Dutra. 


Prefeito Geraldo Ladeira, engenheiro Lucas Lopes, Tubal Vilela e o presidente JK

Este resgate histórico foi organizado por meio de informações fornecidas pelo colunista do Diário Antônio Pereira e pelo trabalho da repórter que assina a matéria para o Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre.
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