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21/11/2018 às 19h00min - Atualizada em 21/11/2018 às 19h00min

Bibliotecas ganham óculos para cegos

Dispositivos fazem leituras e informam usuários por áudios; cidade é a 1ª do interior a fazer aquisição

NÚBIA MOTA
Equipamento é capaz de ler até 250 palavras por minuto e ainda reconhecer cores | Foto: Valter de Paula/Secom/PMU
Três aparelhos capazes de fazer leituras de livros impressos, digitais, reconhecer pessoas e olhar as horas estão disponíveis na Biblioteca Municipal, na Biblioteca do Sesi e no Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU) do bairro Shopping Park, na zona sul. Uberlândia é a primeira cidade do interior do Brasil a receber os dispositivos de visão artificial que fazem a leitura e geram um áudio, podendo ajudar pessoas com outros tipos de dificuldade, além da visual. O aparelho é acoplado em óculos, por meio de uma fita magnética, e pode ainda ser uma saída para quem tem dificuldade de compreensão, no caso, por exemplo, de disléxicos, autistas, pessoas com síndrome de Down, déficit de atenção e até analfabetos. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), de 2010, quase 30 mil pessoas têm algum tipo de deficiência visual na cidade. 

Doron Sadka, diretor da empresa Mais Autonomia Tecnologia Assistiva, representante exclusivo no Brasil dos dispositivos Orcam MyEye2, esteve em Uberlândia, ontem, para apresentar o aparelho, na Prefeitura Municipal. Segundo ele, o equipamento é capaz de ler entre 100 a 250 palavras por minuto e ainda reconhecer cores, identificar cédulas de dinheiro, embalagens e dizer as horas quando o usuário fizer o gesto de olhar o pulso. Também com um simples gesto, a leitura pode ser pausada, retomada ou reiniciada. 

Durante a apresentação, uma deficiente visual fez o teste e o dispositivo conseguiu, além do português, ler livros em inglês e espanhol. “Os óculos possibilitam, por exemplo, saber o nome da bibliotecária e dizer se ela está se aproximando e até tocar em uma roupa e saber a cor dela”, afirmou Doron. 

Cada dispositivo, de acordo com secretaria de Cultura, Mônica Debs, custou 5 mil euros, o equivalente a R$ 21,6 mil. Eles serão disponibilizados nas três bibliotecas, administradas pela Secretaria de Cultura, onde existem uma sala de Braille. Segundo Debs, a compra foi de suma importância para garantir autonomia aos usuários das unidades. “É a inserção da comunidade a uma vida normal. A pessoa passa a ter autonomia, a conhecer o mundo. Acho que as pessoas vão passar a procurar mais esses locais. Vamos fazer um levantamento para saber quantos aparelhos a mais serão necessários e incentivar as pessoas a adquirir seu próprio aparelho, pois existe uma linha de crédito muito interessante”, afirmou a secretária. 

A ideia do prefeito, Odelmo Leão, é adquirir novos dispositivos para o ano que vem, como forma de atender mais pessoas com necessidades especiais. Ele situou, por exemplo, os atletas paralímpicos de Uberlândia e alunos matriculados nas escolas municipais com dificuldades de leitura. “É um valor muito pequeno para o grande benefício que traz ao ser humano. Vamos fazer um planejamento para atuar em mais áreas e aumentar esse atendimento ”, disse Odelmo.

Segundo a empresa fornecedora, o valor pode ser financiado em até 60 vezes por linha de crédito do Governo Federal, pelo Banco do Brasil, destinada ao financiamento de tecnologias assistivas. A expectativa é que o valor caia à medida que a produção ganhe escala. 

FUNCIONAMENTO

O OrCam MyEye 2.0 é um dispositivo de inteligência e visão artificial, que permite o acesso fácil e instantâneo à informação disponível em tempo real. Ele é bem pequeno e, por isso, fácil de ser levado. 

A tecnologia chegou ao Brasil no ano passado e é capaz de detectar todo e qualquer tipo de objeto no campo de visão de uma microcâmera, que escaneia tudo o que “vê”, transformando as informações em arquivos de áudio instantaneamente. A partir daí, o dispositivo retransmite a informação discretamente no ouvido do usuário por meio de um fone conectado.

Para Edu Charles Ramos Faustino, presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Triângulo Mineiro (Adevitrim), a novidade é uma forma de deficientes visuais terem privacidade. Com apenas 8% da visão, Edu, hoje com 41 anos, foi diagnosticado com retinose pigmentar aos 8 anos e enxerga apenas vultos. Como não foi alfabetizado em Braille, ele usa uma lupa eletrônica de 60 cm para ler. “Estes óculos eu posso levar para onde eu quiser. Como eu sou dirigente de uma instituição, preciso ler documentos toda hora e nem sempre tenho pessoas ao meu lado para me ajudar. Quero adquirir um equipamento desse para a associação também”, afirmou. 

O aparelho foi desenvolvido em 2010 pelos israelenses Amnon Shashua, professor da Universidade de Jerusalém, e pelo empreendedor Ziv Aviram, que primeiramente queriam fazer um carro autônomo. “Eles pensaram que se dava para um carro andar sozinho, dava para fazer o mesmo com uma pessoa, porque o carro também é cego se tirarmos o motorista”, disse Doron Sadka.

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