Foto: Jorge Alexandre Araújo Dar seta para indicar que vai entrar à direita ou à esquerda, respeitar a travessia do pedestre na faixa que é de uso exclusivo e estacionar em locais permitidos são regras nem sempre praticadas por muitos que compõem o trânsito de Uberlândia. Quando essas atitudes são somadas aos problemas já existentes em relação à mobilidade urbana, torna-se mais difícil a circulação e o convívio harmônico entre motorista, pedestre, motociclista e ciclista. Cada um defende o seu espaço, estando certo ou errado. Mas se ainda está longe de Uberlândia se tornar uma cidade modelo em relação à mobilidade urbana, qual o papel de cada um nesse contexto?
Para William Rodrigues Ferreira, professor doutor em planejamento urbano e de transportes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), uma sociedade mais solidária pode ser o caminho para obtermos um trânsito mais seguro e menos pesado. “As pessoas estão pensando mais no universo delas e não como um todo. Cada um tem suas particularidades, seus problemas, mas é preciso mudar essa mentalidade de olhar para dentro de si, e passar a olhar para o próximo. Por mais que tenha programas, tentativas de sensibilização de educação para o trânsito, parece que existe um distanciamento. As pessoas estão pouco solidárias ou têm perdido essa noção de solidariedade, de comunidade”, disse.
O professor acredita que é preciso ter uma mudança de cultura quanto às responsabilidades de cada um nesse contexto relacionado ao trânsito e que a educação sobre o tema precisa ser tratada ainda quando criança. “Quando se aprende a ser solidário ainda na infância, o reflexo chega até a vida adulta e impacta diretamente nas condutas do dia a dia. Caso contrário, as pessoas passam a não ter senso de comunidade, ou seja, se estão com pressa, continuarão estacionando em vagas destinadas a deficientes e idosos, a fazer fila dupla em porta de escola. A educação é a essência para uma sociedade mais solidária. As pessoas precisam entender isso”, disse.
Em uma cidade com quase 700 mil habitantes, segundo estimativa de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e uma frota de 424.909 veículos, conforme dados desse ano da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF-MG), são necessários vários investimentos para melhorar a mobilidade urbana em Uberlândia, que, segundo Ferreira, caminha a passos lentos, mas dentro da normalidade dos municípios brasileiros como um todo.
“Temos poucas ciclovias e as que temos não são integradas. Também falta manutenção nelas. O transporte público é engessado, não dá liberdade para o usuário. Mesmo com as melhorias já feitas, falta sinalização para orientar o trânsito, faltam obras em pontos de gargalos na cidade, as calçadas não são acessíveis. Com isso, os conflitos vão surgindo, como congestionamentos e acidentes. Essas pontualidades todos já sabem e há estudos que mostram essas necessidades, mas o que vão fazer quanto a isso, seja a curto ou a longo prazo?”, questiona o professor
A saída, para William, é a solidariedade, a gentileza, em que as pessoas possam ter o prazer de andar pelas ruas do bairro onde moram e de apreciar os espaços públicos, mesmo diante dos problemas. Ainda segundo ele, o que diferencia uma cidade da outra não é só o envolvimento do poder público, mas o da sociedade com as causas.
“Com a mobilização é possível conseguir benfeitorias, como uma praça iluminada, rede de vizinhança solidária, plantar árvores na área verde perto de casa. Tem coisas que dependem da gente para o bem da comunidade como um todo. É possível termos uma cidade confortável, mas depende do esforço de todos. Mais importante do que reclamar é mobilizar as pessoas da sua rua, por exemplo, e tentar achar saídas para construir essa sociedade mais justa, mais humana e mais confortável”.
William acredita que o poder público investe em melhorias conforme sua capacidade orçamentária, mas reforça que é preciso pensar no planejamento de uma forma menos pragmática e passar para uma perspectiva mais social. “A maioria das ações implementadas na cidade tem foco no automóvel, no motorista particular. Podemos observar isso com as constrições de trincheiras, viadutos, rotatórias, que são ótimas para dar fluidez no trânsito, mas a cidade não vive só disso. Precisamos avançar em vários pontos, mas esperar não resolverá os problemas. Por isso é importante afloramos esse lado acolhedor, mais humano.”
Professor William Rodrigues Ferreira acredita que a educação sobre o trânsito precisa
ser tratada ainda quando criança | Foto: Divulgação
INVESTIMENTOS
Se por um lado o comportamento das pessoas precisa de avanços, o caminho também precisa ser o mesmo quanto aos investimentos em obras de mobilidade urbana.
Apesar das reclamações de falta de sinalização horizontal e vertical, de melhorias em vias de maior fluxo, de instalação de semáforos para atender os pedestres, entre outros pontos, a Prefeitura anunciou na última quarta-feira (24) o cronograma de execução de 22 obras de mobilidade urbana, que contemplam viadutos, trevos, pontes, trincheiras, travessias, além de recapeamento, pavimentação e prolongamento de vias. A maioria está prevista para ser iniciada em 2019 com conclusão em 2020.
Como peça importante nesse processo, o Executivo foi convidado para fazer parte desta matéria, parte importante inclusive, mas em todas as tentativas o pedido foi negado por sua assessoria de comunicação.
BICICLETA
Modal ajudou publicitário a ampliar visão sobre trânsito
Uberlândia tem hoje 95 km de vias exclusivas para ciclistas, representando apenas 3,2% dos mais de 3 mil km de malha viária urbana. São 58 ciclovias e 20 ciclofaixas. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Planejamento de Transporte da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran), em 2016, cerca de 30,5 mil pessoas utilizam a bicicleta como meio de transporte diariamente na cidade. Esse número passa a ser maior quando são incluídos os que usam a bike esporadicamente, seja a lazer ou para uma prática esportiva.
Há mais de dois anos, o publicitário e designer Fabricio Barbagelata, 31 anos, adotou a bike como rotina em sua vida. Todos os dias ele usa as ciclovias da avenida Rondon Pacheco para ir de casa ao trabalho e vice-versa. Segundo ele, o meio de transporte de duas rodas fez com que passasse a enxergar o próximo com outros olhos. “Sempre fui ligado à natureza e também no pensar no outro, mas com a bicicleta essa visão foi ampliada. Quando estou de carro, por exemplo, eu paro nas faixas de pedestres e de ciclistas. Essas atitudes passaram a ser mais constante e naturais, não sendo aquele ato forçado, como se fosse obrigação de trânsito.”
Fabricio disse que usa esse momento com a bicicleta para refletir sobre a vida e nessa rotina de segunda a sexta percebe que falta muita empatia por todos, seja ele motorista, pedestre, motociclista e até ciclistas. “Todos usam o trânsito e não é porque você está a pé que não tem que adotar medidas que visam a segurança de todos. De um modo geral falta esse olhar para o próximo. Eu ando na faixa da avenida Rondon, que é de uso de ciclistas, e nela tem gente andando a pé e passeando com animais de estimação. Tenho que parar toda hora por esses exemplos, sendo que ao lado tem a faixa de uso comum.”
MOTO
Motoboy vê “guerra” entre grandes e pequenos
Há 25 anos trabalhando em cima de uma moto, Carlos Henrique Vieira Gonçalves, 53 anos, diz que o trânsito está cada vez mais caótico e as pessoas menos solidárias. Ele avalia que a circulação nas vias de Uberlândia se tornou uma guerra entre grandes e pequenos.
“Nós, que estamos de moto, temos que nos policiar para que os ônibus e veículos maiores não nos derrubem. Claro que existem pessoas conscientes, mas esse número é baixo, não chega nem a 10%, na minha opinião. Aí, todo o resto não é solidário, é competitivo, o que só prejudica o trânsito”, disse.
O motoboy diz que se policia bastante para respeitar o próximo, mas que às vezes acaba não executando o papel humano por conta de terceiros. Como exemplo, ele cita a faixa de pedestre, que faz sinal para o carro de trás que está parando para dar preferência ao pedestre, mas nem sempre o motorista que está vindo faz o mesmo.
“É complicado parar na faixa, corremos o risco de o veículo que vem bater na moto e gerar um acidente com vítimas por não parar por conta do pedestre. Parei a moto agora para conversar com você, mas a maioria dos motociclistas não faz isso. Dirigem falando ao celular, escrevendo mensagens. Inclusive, o uso do telefone tem sido um problema grave no trânsito. Antes da tecnologia na palma da mão, o trânsito era mais tranquilo, as pessoas tinham mais disciplina. Agora, a distração está demais.”
CARRO E PEDESTRE
Taxista já vê melhorias no dia a dia
O taxista Regis Ferreira da Silva, de 40 anos, tem uma visão diferente dos demais sobre o comportamento das pessoas no trânsito. Ele acredita que há mais solidariedade hoje do que antes, mesmo concordando que ainda há passos a serem caminhados quando falamos em respeito ao próximo. Ele, que atua há 13 anos na profissão, disse que mesmo com o dia corrido consegue ver ações voluntárias pelas ruas da cidade.
“Parar na faixa de pedestre está cada dia mais comum e antes ninguém fazia isso. Temos uma frota enorme e isso acaba complicando seguir à risca as regras de trânsito, mas vejo mais pontos positivos que negativos. Avalio que as pessoas estão mais disciplinadas, mesmo com deslizes cometidos no dia a dia”.
Ele também exemplifica que em certos cruzamentos onde não tem semáforo ou sinalização, os motoristas acabam parando para dar preferência a quem está tentando atravessar a via. Em contrapartida, Regis concorda que é preciso um trabalho de conscientização junto aos motoristas, que andam tendo pouca paciência quando estão no volante.
“Ando cerca de 300 km por dia na cidade e é preciso ter jogo de cintura para lidar com as situações, mas cada um precisa fazer o seu papel para tudo ocorra de maneira mais harmônica. O sinal nem abriu e o motorista de trás já está buzinando e isso gera um estresse que acaba sendo refletido no trânsito, deixando-o improdutivo.”
Taxista Regis Ferreira concorda que atitudes no trânsito precisam ser melhoradas
Foto: Divulgação
EXEMPLO
No Centro da cidade é comum flagramos pedestres atravessando no meio da rua, sendo que logo à frente tem semáforos com faixas exclusivas para esse público. Também é possível encontrar bons exemplos, como o da aposentada Ana Maria Viera, de 62 anos. Na avenida Cipriano del Fávero com a rua Santos Dumont, para fazer a travessia, ela andou de uma ponta a outra do quarteirão para a usar a faixa de pedestre. Segundo ela, se todos andassem conforme as regras os desgastes seriam menores.
“Tenho um neto que foi atropelado por imprudência dele e do motorista. Muito ruim vivermos em uma sociedade em que as pessoas só se preocupam com o seu bem-estar. Procuro fazer o meu papel e assim contribuir para um trânsito mais saudável”.
Frota tributável em Uberlândia Veículo | Quantidade |
Automóvel | 234.693 |
Moto | 106.746 |
Caminhonete | 42.793 |
Caminhão | 15.253 |
Ônibus | 2.798 |
Motorcasa | 9 |
Total | 402.292 |
Dados de 2018 da (SEF/MG); frota pagante de impostos Cronograma das obras* Obra | Local | Início da obra | Entrega da obra |
Terminal Dona Zulmira | Av. Aspirante Mega com a Av. José Fonseca e Silva | Outubro 2018 | Outubro 2019 |
Viaduto | Av. João Pessoa sobre a BR 365 (Rua México) | Janeiro 2019 | Julho 2020 |
Viaduto | Av. dos Municípios sobre a Av. Rondon Pacheco | Janeiro 2019 | Julho 2020 |
Ponte | R. dos Pica Paus sobre o Rio Uberabinha | Divulgado apenas o período de estudo do projeto – outubro 2018 a janeiro 2019 |
Ponte | Av. Oscarina Chaves sobre o Rio Uberabinha | Fevereiro 2019 | Julho 2020 |
Trincheira | Av. Nicomedes Alves dos Santos com a Av. Vinhedos | Fevereiro 2019 | Setembro 2020 |
Viaduto | Rua Conrado de Brito sobre a linha férrea | Fevereiro 2019 | Agosto 2020 |
Ponte | Sobre o Córrego Vinhedo – Continuação da R. Carioca | Fevereiro 2019 | Julho 2020 |
Viaduto | Av. Afonso Pena – Transposição Linha Férrea | Fevereiro 2019 | Agosto 2020 |
Viaduto | Av. Sacadura Cabral | Fevereiro 2019 | Agosto 2020 |
Prolongamento de Via | Rua das Papoulas | Fevereiro 2019 | Julho 2020 |
Duplicação | Ponte Cícero Naves de Ávila | Março 2019 | Setembro 2020 |
Trincheira | Alvorada sobre a BR 452 | Março 2019 | Julho 2020 |
Prolongamento | Av. Dimas Machado | Março 2019 | Agosto 2020 |
Alargamento | R. Lineu Anterino Mariano (CEMIG – CRIU) | Março 2019 | Abril 2020 |
Duplicação | Trevo Ivo ao Anel Viário Ayrton Senna | Abril 2019 | Sem previsão |
Ponte sobre o rio Uberabinha | Av. Afrânio Rodrigues da Cunha com a Av. Silvio Rugani | Maio 2019 | Novembro 2019 |
Prolongamento | Av. Balaiadas | Julho 2019 | Janeiro 2020 |
Trevo Ivo Alves Pereira | Av. Getúlio Vargas com a MG-497 | Julho 2019 | Sem previsão |
Duplicação do Viaduto | Av. Monsenhor Eduardo | Julho 2019 | Janeiro 2020 |
Trevo | BR-497 e R. Mussaendras (Sest/ Senat / ITV) | Julho 2019 | Dezembro 2020 |
Recapeamento | Vias urbanas – 260km – Prioridade com linhas do transporte coletivo | Outubro 2018 | Dezembro 2020 |
*Início das obras contempla processo de licitação e execução dos trabalhos, conforme informado pelo secretário de Trânsito e Transportes (Settran), Divonei Gonçalves, que também informou que o cronograma pode sofrer alterações.