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21/10/2018 às 08h00min - Atualizada em 21/10/2018 às 08h00min

A economia no centro do debate

O Diário de Uberlândia ouviu dois economistas para avaliar os principais pontos dos planos de governo de Bolsonaro e Haddad

MARIELY DALMÔNICA
Fábio Terra diz que Haddad tem propostas mais bem definidas | Foto: Divulgação
A uma semana para definir quem será o novo presidente do Brasil nos próximos quatro anos, o eleitor ainda tem muitas dúvidas sobre as reais intenções dos candidatos em determinadas áreas fundamentais para a retomada do crescimento do País. A começar pela economia, que é um dos assuntos mais abordados nesta campanha. Reformas, criação de empregos e privatizações, por exemplo, têm aspectos bem distintos nos programas de governo dos candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) e, de acordo com economistas, quem for eleito pode não conseguir cumprir o que está prometendo.

O Diário de Uberlândia ouviu dois especialistas no assunto, um que vê com mais simpatia o plano de Bolsonaro e outro que prefere as propostas de Haddad.
Deputado pelo Rio de Janeiro há 27 anos na Câmara Federal, Jair Bolsonaro defende a privatização de empresas, promete extinguir estatais, quer reduzir os 29 ministérios para 23, unificar impostos e ampliar a reforma trabalhista.

O ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad pretende isentar impostos para os mais pobres, pretender revogar a Emenda Constitucional 95/2016 (que limita por 20 anos os gastos públicos), suspender as privatizações, substituir a reforma trabalhista pelo Estatuto do Trabalho e implementar o Programa Salário Mínimo Forte, que prevê aumento no salário mínimo todos os anos, mesmo que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja negativo. 

PLANOS

Para Fábio Terra, economista e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), é difícil confiar nas propostas dos candidatos à Presidência. “Ambos têm o seu plano de governo, e esses planos servem como uma diretriz. Mas é difícil confiar que eles [os planos] sejam efetivamente tudo o que cada um levaria para a prática”, disse.

Segundo o professor, o plano de governo do Bolsonaro não detalha bem as propostas. “É um plano que reconhece que o Brasil enfrenta um problema fiscal, mas a solução oferecida por ele é que o problema seria resolvido com a privatização de empresas e com o corte de subsídios, mas ele não mostra nada detalhado”, afirmou.

Fábio disse que, além das divergências nas propostas econômicas, um dos candidatos procura definir melhor os planos, caso seja eleito. “Por outro lado, o Haddad tem propostas mais bem definidas, como fazer uma reforma tributária que taxe lucros. Há também uma proposta de um aumento na isenção do imposto de renda. Mas ele [Haddad] não toca em reforma da Previdência, só nos últimos debates que chegou a comentar que alguma é necessária, mas sem especificar qual. Uma outra coisa que entra no plano do Haddad é que o país passa por um problema fiscal, e ele coloca uma meta da recuperação da situação fiscal: quatro anos.”

PROMESSA É DÍVIDA?

Para o professor, a maioria das propostas não precisa só da vitória no segundo turno, mas também depende das condições do governo. “Tem duas grandes dúvidas, a primeira delas é: será que o ‘casamento’ entre Bolsonaro e Paulo Guedes [economista] será longo? A razão para essa desconfiança é que é difícil acreditar que ele vá permitir a privatização das empresas estatais. O Bolsonaro chama generais para participar do Ministério, mas foram esses generais que criaram empresas estatais. Acreditar que terá uma renúncia é bem difícil. Outra dúvida é: qual seria a conduta econômica do Haddad? Quem ele colocaria como seu ministro da Fazenda? Ele é economista e tem consciência da necessidade que se é ganhar credibilidade no mercado, ele deve apostar em um ministro mais conservador, isso seria relevante”, afirmou Terra.

O professor disse que não concorda com nenhuma das duas propostas econômicas dos candidatos, mas acredita que os planos do Bolsonaro são mais confusos. “Acho que a proposta do Paulo Guedes confunde muito diagnóstico com solução. Se a gente não corrigir receita e despesa não adianta privatizar as coisas, não acho que a solução via privatização seja a melhor, e para isso eu uso sempre o contraponto que temos empresas estatais que estão vindo para o Brasil. A gente vende e outra adquire”, disse Terra. 

Segundo o professor, a reforma tributária proposta por Haddad está mais detalhada. “Também gosto muito da ideia de taxar lucros e dividendos. Revogar a Emenda Constitucional do Teto é relevante e importante, porque ela não é executável. E a gente precisa efetivamente discutir a reforma da previdência, nas últimas falas, o Haddad deu pelo menos um sinal de que ele reconhece o problema.” 

REFORMAS
O equilíbrio fiscal tem que voltar, diz economista

Para o economista e empresário Fábio Machado, da ISF Crédito Orientado, os candidatos à Presidência têm planos que seguem rumos opostos. “Cada um vai para um lado. Sem partidarismo, a política econômica do Bolsonaro me agrada muito mais. Eu não tiro o mérito do governo do PT, mas ele trouxe um desequilíbrio fiscal, e a inflação gera desemprego. O Bolsonaro propõe cortar gastos públicos e privatizar algumas estatais. Temos muitas empresas sob gestão do governo, e isso pesa muito, a gente tem uma dívida pública que está passando 80% do PIB. Se ele vai conseguir ou não fazer as reformas, eu não sei, mas o equilíbrio fiscal tem que voltar.”

Segundo Machado, as propostas econômicas de Haddad são semelhantes às propostas do Partido dos Trabalhadores (PT) de outros anos. “Temos mais do mesmo: colocar dinheiro no mercado, taxar importação, dar crédito subsidiado. Isso em um curto prazo faria o país crescer, mas aumentaria a dívida pública e o desequilíbrio fiscal. Um ponto positivo é que eles focam muito nos programas sociais, mas o melhor programa social que existe é gerar emprego”, disse o economista.  

Para Machado, o atual presidente do Brasil, Michel Temer, fez mudanças significativas, mas acredita que o governo de Jair Bolsonaro pode mudar ainda mais, caso consiga cumprir suas promessas. “Nos últimos dois anos, Temer conseguiu fazer reformas importantes, como aprovar a PEC do Teto, que foi uma medida necessária. Eu acredito que o governo do Bolsonaro possa botar o país nos trilhos, mas ele será um presidente que não vai gerar uma tranquilidade na população. Ele quer desonerar as importações, para que elas cheguem mais baratas no país. O plano econômico dele tem a proposta de abrir mais o comércio exterior para as relações comerciais com os outros países. Isso ajuda combater a inflação porque a concorrência de produtos aumenta”, disse.

Segundo o economista, as reformas que Bolsonaro pretende fazer são importantes para o Brasil. “Ele pretende fazer reformas para fazer o ajuste fiscal, que é necessário para o País voltar a crescer. As reformas são importantes, sou a favor de algumas privatizações. Já o plano econômico do Fernando Haddad prevê uma política mais expansionista, que seria emprestar dinheiro através dos bancos públicos. A gente tem um modelo de crescimento, que foi implementado pelo governo Lula principalmente, esgotado. Temos um cenário de necessidade de ajuste fiscal”, afirmou o economista.

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