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18/10/2018 às 16h25min - Atualizada em 18/10/2018 às 16h25min

Mensagem de cunho racista é pichada em porta na UFU

Ataque de ódio foi registrado em banheiro durante congresso de pesquisadores negros

NÚBIA MOTA
Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros diz que manifestações racistas são frequentes na UFU | Foto: Divulgação
Na mesma semana em que várias pichações com mensagens de ódio e agressões contra negros, mulheres, homossexuais e judeus foram relatadas por todo o Brasil, um ataque de cunho racista foi registrado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Durante o 5º Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (Copene), realizado entre os dias 12 e 17 deste mês, participantes se depararam com a frase “Pretaiada vai voltar para a senzala” pichada na porta de um dos banheiros femininos do bloco 3Q. A imagem da agressão repercutiu nas redes sociais após denúncia. A UFU disse que registou Boletim de Ocorrência (B.O) e acionou a Polícia Federal (PF) para apurar o caso, mas o delegado Carlos D’Ângelo afirmou que a corporação não foi procurada pela instituição.  

Nesta semana, a universidade soltou uma nota de repúdio depois que um grupo de participantes do congresso ocupou o prédio da reitoria, na última quarta-feira (17), e pediu uma posição da instituição. A frase escrita no banheiro foi flagrada no sábado (13) pela estudante de Letras Priscila Argolo, de 22 anos, integrante da comissão organizadora do Copene. Ela disse que tinha ido ao bloco 3Q, onde acontecia uma ação para crianças, e foi ao banheiro, quando viu a pichação na porta. Foi ela quem fez a foto da agressão, que circula pela internet.

Segundo a estudante, quando ela voltou ao banheiro, já tinham apagado a frase. “A gente já estava percebendo a reação das pessoas na rua. Quando vi a frase, na porta do banheiro, eu fiquei muito nervosa. Fui conversar com os meus coordenadores e eles falaram para deixar para lá. Depois, os participantes optaram por fazer um ato na reitoria, para o reitor se posicionar, porque uma coisa é ter pichação, outra coisa é ter pichação de ódio durante um congresso com mais de 2,5 mil pessoas. Esse tipo de coisa é recorrente, mas como agora tinham mais pessoas, teve uma repercussão maior”, disse a estudante. 

Priscila Argolo relata que, na quinta-feira (11), um dia antes de começar o congresso, foi abordada por um grupo de estudantes de engenharia, em frente o bloco daquele curso. “Eles riam de mim e um gritou: ‘você não tem vergonha de usar o cabelo assim não?’. Mas na maioria dos casos, percebo o preconceito pelos olhares. Nem sempre os racistas fazem uma pichação. Tem gente que não gosta de ser chamado de racista, mas é”, disse Priscilla.  

A nota de repúdio publicada no site da UFU, assinada pelo vice-reitor Orlando Mantese, publicada na quarta-feira (17), diz que a universidade repudia o grave ato de racismo e que registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Policia Federal (PF), para investigar o crime. Também foi informado a abertura de uma sindicância interna para identificação e punição dos responsáveis. O delegado da PF, Carlos D’Ângelo foi procurado pela reportagem do Diário de Uberlândia e negou. “Não temos nada sobre isso [registro de BO]. As pichações foram apagadas antes de ficarmos sabendo. Não existe BO na PF”, afirmou D’Ângelo. 

RECORRENTE

O professor de Química e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da UFU, Guimes Rodrigues Filho, disse que desde que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou a lei de cotas raciais nas universidades, em 2012, começaram a aparecer manifestações racistas contrárias à ocupação negra em locais onde, historicamente, não havia. “Isso começou a incomodar boa parte da sociedade, porque agora é preciso dividir as vagas das universidades dos cursos mais elitizados, como medicina, engenharia e odonto. Somos uma sociedade racista”, afirmou.

O próprio docente, de 58 anos, disse que já foi vítima de preconceito dentro da UFU, onde trabalha. “Nós, negros, estamos sofrendo isso diuturnamente. Já aconteceu de eu estar carregando equipamento, computadores, e os vigilantes me pararem para saber o que estamos fazendo, por exemplo. Os discentes quando encontram um professor negro na sala, desconfiam da capacidade desse professor em ensinar. Há um estranhamento todo dia, toda hora”, afirmou Guimes. 

Segundo o professor, a UFU tem uma política de educação sobre as relações étnico-raciais e recentemente está sendo formada uma comissão com vários professores, funcionários e estudantes como forma de discutir formas de igualdade dentro da universidade. “Passa por um processo educativo e a universidade tem um grande papel, porque é ela quem forma os profissionais”, disse o professor. 
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