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30/09/2018 às 05h01min - Atualizada em 30/09/2018 às 05h01min

Distantes, porém antenados

Quantidade de brasileiros que irão às urnas no exterior neste ano é 41% maior que em 2014; internet ajuda na informação

NÚBIA MOTA
Sérgio vai ajudar a escolher, pela primeira vez desde que foi embora, o novo presidente do Brasil | Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
Sérgio José de Azevedo, 30 anos, se mudou para os Estados Unidos há pouco mais de uma década e só agora foi atrás dos seus direitos eleitorais. No próximo dia 7 de outubro, mesmo de longe, ele vai ajudar a escolher, pela primeira vez desde que foi embora, o novo presidente do Brasil. O carpinteiro faz parte de um grupo de exatos 500.727 brasileiros que vão às urnas no exterior - um número 41% maior do que há 4 anos, no último pleito. 

Sérgio é morador da cidade de Brick Township, no estado de Nova Jersey, e há cerca de 4 anos começou a se interessar por política. Ele acredita que a maior adesão dos imigrantes às eleições no Brasil se deve à facilidade de comunicação, graças à internet e ao uso de smartphones. “Dá para saber tudo o que está acontecendo aí no Brasil e ter acesso ao histórico dos candidatos”, afirmou o carpinteiro, que é natural de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, a 220 km de Uberlândia, e casado com a norte-americana Ashley de Azevedo, com quem tem um filho, Hudson, de 6 anos.

O aumento significativo de brasileiros aptos a votar fora do país é atribuído a uma parceria entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o que facilitou o cadastramento eleitoral de brasileiros no exterior. No total, 744 urnas serão enviadas aos locais de votação no exterior. Desse número, 680 são eletrônicas e 64, de lona. Essas últimas serão remetidas a 60 locais e devem atingir cerca de 10 mil eleitores que moram em países com dificuldades alfandegárias, problemas como queda de energia e instabilidade política ou com quantitativo de eleitores muito pequeno, localizados na África, Caribe, América Central, América do Sul e Europa. 

Por terem o maior número de eleitores fora do Brasil, a maior parte das urnas eletrônicas será enviada para Boston (46) e Miami (45), nos Estados Unidos. Boston conta com 35.044 eleitores brasileiros cadastrados e Miami, 34.356. A terceira cidade com maior número de brasileiros aptos a votar no exterior é Tóquio, no Japão, com 26.092 eleitores. 

Segundo a chefe da Zona Eleitoral do Exterior (ZZ), Juliana Caitano, em 2014, por exemplo, a votação não chegou ao interior da China, mas, neste ano, vai ser possível este alcance. “Também faremos a votação no interior do Vale do Bekaa, no Líbano, que é uma comunidade em uma montanha muito isolada. Como eles moram em uma área de conflito, não conseguem sair do vale e votar em Beirute”, afirmou Juliana.

A responsabilidade pela organização da eleição no exterior cabe ao Cartório da Zona Eleitoral no Exterior (ZZ), fora do Brasil. Depois de lacradas, as urnas foram recolhidas pelo Itamaraty, que fará a distribuição para o exterior como malas diplomáticas a consulados e embaixadas. Nesses locais, cabe aos funcionários do MRE organizar e garantir a realização do pleito.

EMPRESÁRIA
“Nossos governantes não nos deram condições de permanecer aí”


As mulheres são maioria entre os brasileiros aptos a votar no exterior com 58,4%, totalizando 292.531 eleitoras, enquanto os homens equivalem a 41,6% do eleitorado. A faixa etária feminina que predomina fora do país é a de 35 a 39 anos e a masculina é de 40 a 44 anos.

Rosana Conz Lucas, de 39 anos, se mudou há 16 anos de Uberlândia para Newark, cidade mais populosa do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, onde é proprietária de uma empresa de transportes de limusines para executivos. Nos primeiros anos depois que foi embora, ela retornava durante as eleições para votar, mas agora, como cidadã norte-americana, casada com o norte-americano Michael Lucas, com quem tem os filhos Tristan, de 7 anos, e Bradley, de 7 meses, vai participar do pleito de longe, no país onde vive.

Para ela, o voto é uma ferramenta importante para mudar a realidade do Brasil, de onde ela saiu depois de ficar desempregada, fechar a empresa de roupas de couro e demitir 40 funcionários, e ainda trancar a faculdade de Publicidade por falta de condições de pagar a mensalidade. “Não importa se moramos fora, queremos um país melhor para nossas famílias que continuam no Brasil. E a culpa da gente ter vindo embora é dos nossos governantes, que não nos deram condição de permanecer aí. Quando vim, foi bem difícil, foi por necessidade. Não sabia a língua, vim com uma mão na frente e outra atrás, mas a economia americana hoje está excelente, no auge ”, disse Rosana, natural de Iturama (MG) e que por 8 anos morou em Uberlândia.

Bem participativa politicamente, a empresária disse que recebe muitas mensagens dos amigos e parentes do Brasil, o que acaba a deixando a par do que acontece nesse período eleitoral. “A rede social é muito forte. Aconteceu aqui nos Estados Unidos, porque o (Donald) Trump só foi eleito por causa da internet. E aí no Brasil vai acontecer do mesmo jeito”, afirmou.


Rosana saiu de Uberlândia desempregada e hoje tem uma empresa e família nos
UA | Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

NA HOLANDA
Psicóloga foi atrás de mais segurança para criar a filha


Desde que descobriu a gravidez, em Uberlândia, onde morou por 26 anos, a psicóloga Samara de Sousa Soares Vasconcelos, hoje com 30 anos, natural de Brasília, e o marido, o engenheiro de software Eduardo Stuart Vasconcelos, decidiram buscar um local com mais segurança para criar a filha. Hoje, Bia tem 2 anos e há 1 ano e 5 meses mora com os pais em Amsterdã, capital da Holanda. “Como no ano passado não teve eleição, essa vai ser a primeira que vou votar aqui. Não abro mão desse direito, porque eu posso voltar. O Brasil é o meu país e mesmo estando fora, eu me preocupo muito. Eu quero ter minha parcela de participação nesse processo tão importante, mesmo que mínima”, disse Samara. 

A psicóloga acredita que o aumento de 41% no número de eleitores brasileiros no exterior é um sinal de que o Brasil não é mais a melhor opção para se viver. “Viemos para cá e o principal motivo foi nossa filha. Queríamos que crescesse com mais segurança, mais tranquilidade. Que não precisássemos viver em um condomínio fechado para ter essa sensação de estar mais seguro dentro da nossa casa. O que eu vejo com os outros brasileiros que moram aqui é que a questão da segurança pesa muito. O que faz mais diferença é essa liberdade de andar tranquilamente, de ter alguma coisa e não ficar preocupado que alguém vai vir pegar, vai te machucar e até te matar por causa de um objeto. Aqui também tem roubos, de bicicleta, principal meio de locomoção aqui, mas ninguém vai pôr uma arma na sua cabeça para levar sua bicicleta”, disse Samara.



Samara: “Quero ter minha parcela de participação nesse processo tão importante”
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
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