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28/09/2018 às 07h54min - Atualizada em 28/09/2018 às 07h54min

A experiência e os desafios de ser pai

Referência no assunto, Marcos Piangers é autor dos livros “O Papai é Pop” 1 e 2 e participa de simpósio em Uberlândia

MARIELY DALMÔNICA
Marcos Piangers, na foto com a família, participa de evento em Uberlândia | Foto: Lauro Maeda/Divulgação
Conhecido por compartilhar suas experiências sobre paternidade nas redes sociais e nos livros “O Papai é Pop” e “O Papai é Pop 2”, o jornalista Marcos Piangers virá a Uberlândia no próximo dia 29 de setembro para uma palestra na 10ª edição do Simpósio de Oncologia, promovido pelo Centro Oncológico do Triângulo (COT). Com o tema ‘Criatividade: fora da caixa, dentro da caixa’, a palestra de Piangers irá abordar a participação mais efetiva dos pais na criação dos filhos e a valorização da mulher.

Com atividades voltadas para modalidades médico e multidisciplinar, o evento contará com a presença de especialistas de renome nacional que abordarão temas relevantes e novidades no tratamento do câncer. As inscrições podem ser feitas no site: www.simposiocot.com.br.

O jornalista, casado com Ana Cardoso e pai de Anita e Aurora, já vendeu 250 mil livros, tem 630 mil seguidores no Instagram e mais de 3 milhões de curtidas no Facebook. Antes de vir à cidade, Piangers conversou com o Diário de Uberlândia sobre paternidade e contou um pouco de como será palestra que ministrará no sábado.
 
Diário de Uberlândia: Quando e por que você decidiu escrever e criar conteúdo sobre paternidade?
Marcos Piangers: Não foi nada muito planejado, quando a minha primeira filha nasceu em 2005 eu percebi que aquilo tinha um impacto muito grande na transformação na vida do homem, da mulher, do casal e na rotina da casa. Sou jornalista e comecei a documentar frases que minha filha falava, acontecimentos, o dia do parto, os primeiros meses, o impacto que aquilo tinha no casal. Guardei aquilo como se fosse um diário e depois de 10 anos uma amiga viu e pediu para publicar em um jornal uma vez por mês. Esses textos encontraram um público, e em 2015 publicamos um livro. Eu não tinha expectativa nenhuma de vendas, mas acabou vendendo 250 mil cópias no Brasil, em Portugal, na Espanha e foi lançado também em inglês. Esse tom despretensioso transformou o livro em sucesso e para muitas pessoas eu me tornei uma referência em paternidade. É muita responsabilidade nas costas, portanto me aproximei de profissionais, empresas e estudos que pudessem me ajudar.
 
De onde surgiu o nome "O Papai é Pop"?
Eu estava pensando em possíveis nomes para o livro e é uma brincadeira com aquela música do Engenheiros do Hawaii, “O Papa é pop”. E com a realidade de já ter trabalhado em rádio e televisão no sul do Brasil, algumas pessoas já me conheciam. Era para ser um título engraçado.
 
Qual o perfil das pessoas que te acompanham? A maioria é homem ou mulher?
É bem dividido, a gente percebe que nas palestras sobre paternidade, muitos casais vão, e o público da internet também é bem dividido entre homens e mulheres. A grande questão é que existe uma nova geração de homens mais interessados no assunto, que tem a noção de que uma família só existe quando todo mundo trabalha por um mesmo objetivo para ter um ambiente saudável e harmonioso dentro de casa, que dá condições para aquela criança florescer e descobrir todos os potenciais e ao mesmo tempo, ter uma vida de casal íntima com proximidade, carinho e amor. O perfil que me lê, vê os vídeos, compartilha no WhatsApp, é um público que é bem equilibrado. A “grande sacada” são pais e mães que perceberam que a família é uma construção de todos, não só do homem que paga a conta e da mulher que troca as fraldas, mas da mulher que está no mercado de trabalho e de um homem que se sente responsável por estar participando no que diz respeito à educação, saúde, brincadeira, afeto, conversa, e que valoriza o que importa de verdade na vida, não só um carro caro ou um apartamento grande, muito do meu público está procurando essa essência.

Atualmente, muitas mães e pais estão trocando experiências na internet. Qual a importância disso para você?
É muito importante, mas a questão é que não existe um manual, porque cada filho é de um jeito, e cada pai é de um jeito. O grande ‘pulo do gato’ não é seguir uma bíblia, um manual ou uma receita padronizada, mas é você conversar e viver perto do seu filho, e perceber que isso vai te transformar em um pai peculiar, saber a hora de dizer sim, de dizer não, a hora de aceitar dormir junto, a hora de tirar o bico, de conversar sobre questões importantes como drogas, sexo, violência, amizades. Esse pai tem que ser muito mais personalizado para o seu filho, mas esses grupos de apoio são fantásticos quando não têm julgamentos que o coloquem em uma posição hierárquica. A gente encontra alguns grupos que as pessoas falam “meu filho dorme a noite toda”, “meu filho começou a ler com dois meses”, e isso faz com que muitos pais se sintam solitários dentro desses grupos. Se ajude sem se julgar e construa um ambiente seguro de troca de experiências.
 
Você sempre quis ser pai?
Sempre quis ser pai, como eu não tive pai, isso sempre foi uma coisa importante na minha vida, e eu tinha a esperança de poder experimentar essa relação que eu não tive quando eu era criança. Quando minha esposa disse que estava grávida eu fiquei muito feliz.

Qual a idade das suas filhas?
Anita tem 13 e Aurora tem 6 anos. Anita já está pré-adolescente e nossas conversas já são mais sérias, mas cada fase é uma delícia. Até a adolescência está sendo interessante, de descobertas, conversas e às vezes de sofrimento, mas sofrer junto com seu filho também é construir uma história bonita. Então, quando ela tem problemas na escola, briga com uma amiga ou se apaixona, a gente também tem que estar por perto, participando, servindo como apoio, como um mentor e criando um ambiente de acolhimento.

Desde quando você decidiu mudar a sua rotina e passar mais tempo em casa?
Desde sempre. Quando a Anita era pequena a gente passeava no carrinho de bebê na rua, eu via algum amigo e ele falava: “você tá de babá hoje?”, quando na verdade não existia entre meus amigos essa cultura de pai participativo. É tão esquisito como isso nos afasta da família, a gente sabe que isso é algo importante e como isso pode nos transformar, ter uma vida mais equilibrada, mais feliz, mas ao mesmo tempo tudo nos afasta, seja o trabalho, os amigos, a cultura. Em diversos momentos da minha vida eu percebi que estava trabalhando demais e não priorizando o que realmente importa.

Como foram os seus primeiros meses como pai e como é atualmente?
Como eu disse, sempre quis ser pai e sempre quis participar, mas não sabia o quanto eu iria participar. Existe uma cultura de que a mulher cuida da casa e o homem só precisa pagar as contas, e por algum tempo eu caí nessa armadilha de achar que meu papel na família era pagar as contas. Mas com o tempo vi que era fundamental estar por perto, acompanhando na escola, ao pediatra, estar por dentro de todos os assuntos, reorganizar a minha lista de prioridades. Atualmente a gente tem uma vida mais próxima, mais tranquila e bem harmoniosa e é a melhor coisa do mundo. A busca pela felicidade passa pelo autoconhecimento, e quando a gente vê que é mais feliz com a família, a gente muda. Se você não sabe por onde começar, comece por uma reunião curta no trabalho ao invés de fazer uma reunião que não leva a lugar nenhum. Comunique para o seu chefe e seus colegas que você é pai. Fique com seu filho de verdade, e não no celular ou computador. Organizar a vida e priorizar a família é organizar a vida profissional também, organizar a vida social, ir menos ao estádio de futebol, ir menos ao bar beber com os amigos. Seu filho não te pede uma vida, ele te pede 20 anos no máximo e lá pelos 15 anos já estão se desenhando independentes. Não é um “bicho de sete cabeças” como a gente pinta, é um período de muitos desafios, mas é muito importante que a gente crie uma geração mais gentil, justa e humana, que entenda o papel do homem como cuidador e uma figura próxima da família. Se você não quer pensar em fazer um mundo melhor, seu filho pode fazer a sua vida muito mais equilibrada e muito mais feliz.
 
Em relação à sua infância e a infância das suas filhas, o que mudou?
Mudou basicamente a abundância que elas têm hoje, acesso à iogurte, doce, bala, chiclete, informação, celular e tecnologia. A gente vive em uma época de abundância, de muito consumo e isso são elementos positivos, mas ao mesmo tempo perigosos, porque quando você sai de uma geração como a nossa, que tinha mais abstinência, minha mãe não tinha dinheiro para comprar basicamente nada, a gente jantava pão com queijo, por exemplo. Hoje é positivo porque nos dá mais conforto e ao mesmo tempo negativo, porque devemos criar limites, passamos tempo demais comprando e consumindo, achando que nossa vida é só ganhar dinheiro e gastar dinheiro, acho que a gente tem que reequilibrar nossos valores na sociedade moderna.


Foto: Lauro Maeda/Divulgação

Acredita que sua paternidade foi influenciada pela ausência do seu pai?
Sim, acho que toda paternidade é influenciada pela história da vida do pai. É um fator impactante na minha história, a falta de um pai, e acho que eu seria um pai melhor se eu tivesse um. E não acho que um pai ausente cria um pai presente, pelo contrário, a maioria dos filhos de pais ausentes também abandona e também tem uma vida mais desequilibrada.
 
Como é ser tão conhecido nas redes sociais, já se acostumou?
É esquisito porque eu sempre parto do princípio de que ninguém me conhece. Quando eu estou andando no aeroporto, na rua ou com minhas filhas em algum parque, sempre acho que ninguém me conhece. Minha mulher e minha filha mais velha falam: “aquele lá te reconheceu”, mas eu fico andando como se isso não existisse, porque no final das contas, é difícil saber como devo me comportar. Eu tento agir como se ninguém me conhecesse, e acho que essa é a forma mais pura que eu posso me comportar.

Você pode adiantar um pouco sobre o assunto de sua palestra “Criatividade: fora da caixa, dentro da caixa”?
Os dois assuntos se misturam, a criatividade e a paternidade. As crianças são seres criativos e todos nós nascemos criativos, imaginativos e fomos perdendo essa capacidade por alguma razão. Na palestra eu tento trazer os motivos e as razões por que a gente perdeu essas capacidades criativas, tento dar caminhos para que a gente crie filhos mais inventivos e mais preparados para o futuro, porque o futuro vai exigir profissionais mais criativos e inventivos. Na palestra, trago os desafios dos próximos anos, a diferença de comportamento da nossa geração e da geração deles. Espero que seja um evento muito especial e que todos saiam de lá inspirados.
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