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19/09/2018 às 07h37min - Atualizada em 19/09/2018 às 07h37min

Pesadelo sem hora para acabar

Dólar impulsiona litro da gasolina comum, que bate R$ 5,29 na cidade; economistas dizem que cenário tende a continuar

NÚBIA MOTA E MARIELY DALMÔNICA -
No início da semana, postos de combustíveis repassaram ao consumidor final o reajuste dos combustíveis aplicados nas refinarias | Foto: Núbia Mota
Há menos de uma semana, a Petrobras elevou em R$ 0,02 o preço do litro da gasolina nas refinarias para as distribuidoras e o novo valor, de R$ 2,2514, passou a vigorar na sexta-feira (14). Já na segunda-feira (17), os postos de combustível de Uberlândia repassaram o aumento para o consumidor final, o que fez o preço da gasolina saltar, na maioria dos estabelecimentos, de R$ 4,98 para R$ 5,29, representando um aumento de 6%. Quem estava optando pelo álcool, também tem mais despesa, pois o combustível subiu de R$ 2,98 para R$ 3,29, um acréscimo de 10%. Apesar do susto, o consumidor deve manter o bolso preparado. Isso porque, segundo especialistas, não há perspectiva de mudança no quadro de altas nos combustíveis a curto ou médio prazo, e os impactos devem ser ampliados.

Segundo o doutor em economia Fábio Terra, duas são as causas que explicam os frequentes reajustes da gasolina. A primeira é o alto preço do petróleo no mundo, seguido do aumento do dólar no Brasil, que fechou ontem em R$ 4,14. “O petróleo vai se tornando mais caro e como também é cotado em dólar, eu preciso de mais reais para comprar um dólar e, logicamente, para comprar mais petróleo. E tudo que vem do petróleo vai ficando mais caro, a gasolina é um exemplo”, disse o especialista. 

“É consequência de uma turbulência política no mercado interno e de uma questão política nos Estados Unidos, que aumentaram a taxa de juros por lá e fizeram com que o dólar se valorizasse no mundo inteiro”, disse o também economista Fábio Machado. De acordo com Fábio Terra, vários setores são atingidos com o aumento do petróleo. Ele afirma que à medida que o diesel também for reajustado, deverá aumentar os fretes e consequentemente os preços de todas as mercadorias transportadas.

Deverá ainda ter reflexo na aviação, porque o preço do querosene chegou a R$ 3,30, um recorde histórico, e na energia elétrica, porque as usinas termoelétricas usam o óleo diesel e o gás para operarem. “E a conta de luz do brasileiro fica mais alta. Tudo que tem gasolina, óleo diesel, querosene, gás, é afetado pelo preço do dólar e do petróleo”, afirmou Fábio Terra.

No dia 6 de setembro, a Petrobras divulgou um novo mecanismo de proteção financeira (hedge) para controlar o preço da gasolina. Com isso, os reajustes, que antes da greve dos caminhoneiros eram diários, deverão acontecer a cada 15 dias. “A política de reajuste da Petrobras é quase contemporânea. Ou seja, subiu o preço do petróleo lá fora, subiu o dólar, a Petrobras reajusta. Chegou a ser diário, agora tem um espacinho de tempo, mas de todo jeito, a Petrobras não segura o reajuste de preço lá fora”, afirmou o especialista.

CLIENTE FINAL

A motorista de aplicativo Dalila Fraga abasteceu no álcool, no último domingo (16), a R$ 2,83 o litro, porque alguns estabelecimentos da cidade garantem promoções para esses profissionais. Na segunda-feira, ela foi pega de surpresa com a informação nas redes sociais dos novos preços praticados na cidade. Para ela, o trabalho está ficando inviável. “Quando comecei a trabalhar, no fim do ano passado, a gasolina era pouco mais de R$ 3,50 e eu tinha meu lucro. Aumentou desse tanto e não tivemos ajuste nas corridas. Vai complicando, porque ainda tem a manutenção do carro. Tem corrida, principalmente pela Uber, em que pagamos para rodar”, disse a motorista, mãe de dois filhos de 7 e 3 anos, que divide o tempo com um emprego como analista de qualidade em um laboratório.

Na mesma situação, estão os taxistas da cidade, sem reajuste nas corridas desde abril de 2016 e com a concorrência maior, desde que foi implantado o serviço de aplicativos. “Tivemos que tirar os descontos para os clientes. Não rodamos vazios e não vamos pedir reajuste até que a Prefeitura regularize o serviço de aplicativos. Estamos aguardando”, afirmou Roque Moraes, presidente do Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Táxi de Uberlândia.

CARTEL

O motorista de Uberlândia já deve estar acostumado. Assim que há reajuste nos combustíveis, praticamente todos os postos da cidade passam a cobrar o mesmo valor pelo litro. A prática já gerou tanta desconfiança que foram abertas investigações, por parte do Procon Municipal e Ministério Público Federal, sobre a possível prática de cartel.

Um administrador de um posto de combustíveis de Uberlândia, que não quis se identificar, recebeu nova mercadoria ontem já com o reajuste sobre a gasolina. Em relação ao álcool, ele disse que houve um aumento há algumas semanas, mas só agora está sendo repassado ao cliente final. Sobre o fato de boa parte dos estabelecimentos ajustarem as tabelas, ficando com os valores praticamente iguais, ele explicou que é devido à concorrência e à falta de fiscalização. “Os postos entram em uma guerra de preço e a margem cai, às vezes, por causa de alguns comerciantes que adulteram combustível. Enquanto não tiver uma fiscalização, principalmente nesses postos de beira de rodovia, vai ficar difícil”, afirmou.

Segundo o professor em economia Fábio Terra, o fato de praticamente todos os postos de Uberlândia aumentarem os preços ao mesmo tempo e colocarem o mesmo valor se deve à própria competição entre os estabelecimentos. “Se você por 1 litro de gasolina no seu carro e percorrer toda a avenida João Naves, ida e volta, nesse caminho, encontra 10 postos de combustível e tem muita opção de escolha, o que força o preço [a se manter igual]. É muito competitivo e não cartelizado. Nada impede que eles combinem preço e pode sim haver uma cartelização, mas não podemos afirmar, porque não tem prova. Se fazem, fazem bem feito”, afirmou.
 
 
MERCADO
Cenário de reajuste deve continuar após eleições

 
Para o economista Fábio Machado, o cenário político atual do Brasil não é favorável e não será um dia após as eleições, marcadas para 7 de outubro, que tudo vai mudar em relação aos preços dos combustíveis. “Há vários cenários que mostram que o dólar vai continuar alto, sobretudo se for um candidato que assuma um primeiro mandato, porque gera desconfiança nos investidores e nos próprios empresários”, disse. O professor em economia Fábio Terra também avaliou as possibilidades de mudança no quadro econômico do país, a partir do presidente eleito. A análise foi feita em cima dos cinco primeiros colocados nas pesquisas. 

Segundo Terra, se Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, for o vencedor, deverá ter uma menor taxa de câmbio. No caso de Jair Bolsonaro (PSL), ainda há uma dúvida, porque apesar do conselheiro econômico do candidato, Paulo Guedes, ser bem quisto no mercado financeiro, há uma divergência nas ideias de ambos, o que pode gerar certa desconfiança nos investidores. Em relação a Marina Silva (Rede), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), ainda de acordo com o economista, o mercado também pode reagir com certo receio, inicialmente, mas provavelmente haverá uma redução no câmbio antes do fim do ano.

“Logo após a eleição, o presidente eleito deve anunciar o ministério e todos os cinco [candidatos] devem contar com pessoas que têm bom relacionamento com o mercado, com exceção do Bolsonaro, se ele não seguir o que conselheiro prega, o que ele fez a vida inteira. Mas se ele seguir, o mercado vai amar. Não vai precisar chegar a 1° de janeiro para gente saber. Vamos ter um tempo tumultuado até novembro”, afirmou.

Desde 2015, o cenário turbulento no Brasil, logo após as eleições da Dilma Rousseff (PT), seguido do impeachment em 2016 e os escândalos envolvendo Michel Temer (MDB) e o empresário Joesley Batista, gerou grande discórdia política no País. Para Fábio Terra, a crise financeira brasileira só deverá ser amenizada após um consenso político, como forma de resolver pautas importantes, como por exemplo, a reforma da Previdência e a questão do ajuste fiscal feito pela PEC do Teto de Gastos. “O caminho não é a PEC do Teto, porque é uma camisa de força gigante e não tem meios de ser cumprida. Se houver um acordo político, os investidores internacionais vão olhar o país de outra forma, já resolvendo seus problemas”, disse o doutor em economia.

A ideia é a mesma do economista Fábio Machado. “Precisa de um presidente que tenha força no Congresso, invista na questão das reformas previdenciária e tributária e ajuste a parte fiscal do país, que foi o que nos colocou nessa situação, senão vai melhorar tão cedo”.  
 
FAZENDA
Ministro defende saída para sistema de subsídios

 
O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse ontem que é preciso uma saída para o atual sistema de subsídios ao diesel, criado após a crise gerada com a paralisação dos caminhoneiros, em maio último. “Precisamos de soluções mais estruturais para esse problema”, defendeu ao comentar os preços elevados dos combustíveis, uma das queixas do setor de transporte de cargas.

Como uma alternativa, Guardia propôs dar mais competição ao setor do refino, com mais liberdade de preços, e adotar um tributo como proteção, para absorver as variações do preço do petróleo no mercado internacional.
Os caminhoneiros protestaram durante 11 dias e, para acabar com a mobilização, o governo prometeu reduzir em R$ 0,46 o preço do diesel nas bombas, por meio de subsídio ao combustível e corte de impostos federais e estaduais. “É uma solução emergencial. Não aguentaríamos mais uma semana de greve e soluções precisavam ser apresentadas. Estamos arcando com os custos”, disse, acrescentando que os subsídios são temporários, e acabam em dezembro.

O ministro participou ontem da abertura do 1º Seminário Sefel de Energia. Durante todo o dia, especialistas do setor público, privado e regulatório debateram a agenda de governo para o setor e seus aspectos regulatórios e concorrenciais. Para Guardia, é uma oportunidade para discutir temas importantes, como a flexibilização na política de preços da Petrobras, o custo-benefício da venda direta de etanol dos produtores e os pesos e encargos na conta de energia elétrica. O ministro da Fazenda defendeu ainda a agenda adotada pelo governo federal nos últimos dois anos e meio, de promover um ambiente econômico com regras mais claras, transparente e baseadas no funcionamento do mercado. “Tudo que estamos falando de avanços no ambiente regulatório requerem manutenção do ambiente macro [econômico]”, disse, ressaltando a necessidade e continuidade de reformas para “aumentar a competitividade da economia brasileira”, como as reformas fiscais, da Previdência e a manutenção do teto de gastos.

AGÊNCIA BRASIL

 
 
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