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16/09/2018 às 07h30min - Atualizada em 16/09/2018 às 07h30min

Homens são maioria entre jovens

Estudo estipula que população masculina é maior até a faixa dos 40 anos; no total, mulheres prevalecem

NÚBIA MOTA
Médica Natália Ferreira diz que ainda há resistência masculina para buscar cuidados médicos | Foto:
Uberlândia tem 19 mil mulheres a mais do que homens, de acordo com estimativa do Painel de Informações Municipais 2018, lançado neste mês pelo Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Cepes-UFU), considerando as taxas médias de crescimento anual dos períodos censitários de 2000 a 2010. Até aí, nenhuma novidade, já que há décadas essa é a dinâmica brasileira: nascem mais homens, mas eles morrem em maior quantidade e em idades mais jovens. A diferença do último censo, de 2010, para a nova estimativa é que, há 8 anos, a quantidade de mulheres na cidade sobressaía a dos homens antes dos 30 anos, no entanto, atualmente, a diferença só é percebida a partir dos 40. 

Em 2010, o número de mulheres já era pouco maior do que o de homens a partir da faixa entre 25 e 29 anos, com 52 pessoas a mais do sexo feminino (veja arte). Dos 30 aos 34 anos, a diferença chegava a 736 mulheres a mais, pulando para 1.623 dos 35 aos 39 anos. Hoje, entre 35 e 39 anos, a quantidade é praticamente a mesma para ambos os gêneros, mas, diferentemente do último censo, ainda há mais 92 homens. 

Já entre 40 e 44 anos, o número de mulheres sobressai ao de homens em 1.315, enquanto há 8 anos sobressaia em 1.623. Mas o que mais chama a atenção é que, a partir daí, a diferença dá um salto e começa a ficar significativa. Atualmente, tem 3.554 mulheres a mais entre 45 e 49 anos, ou seja, uma diferença 57% superior à de 8 anos, quando a diferença era de 2.263. 

Segundo a médica de família Natália Madureira Ferreira, as mudanças podem estar relacionadas a uma participação masculina maior nos cuidados com os filhos pequenos ou até com os pais já idosos, quando estão doentes. “Quando o pai é participativo e presente, ele tem uma sensibilidade diferente. Ele leva o filho para um atendimento, por exemplo, porque está com dor de garganta e lá, o médico pergunta se a criança teve contato com alguém doente. Ele se toca que também está com dor de garganta há alguns dias. Essa autopercepção fica mais apurada. Mas no geral, o homem deixa para procurar atendimento quando já está muito ruim”, afirmou. 

De acordo com a professora Geisa Gumiero, do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), como o estudo feito pelo Cepes ainda é uma estimativa, é preciso aguardar 2020, quando sairá o novo censo, para fazer uma análise mais detalhada e comprovada. Mas ela acredita que a mudança também pode estar atrelada ao fato das mulheres estarem mais produtivas e inseridas no cotidiano da sociedade. “Lutamos muito pelos nossos direitos. Estamos entrando no mercado de trabalho mais cedo, a sobrecarga e o estilo de vida está ficando bem parecido com a dos homens. Com isso, doenças que antes eram representativas no gênero masculino, agora também atingem as mulheres, como AVC, infarto, e, possivelmente, os acidentes de trânsito, que antes aconteciam mais com os homens. Os homens estão se cuidando mais”, afirmou Geisa.

MUDANÇA

Apesar de não aparentar, Ernandes Fortunato Lino tem 54 anos. Ele é educador físico do ambulatório de psiquiatria do Hospital de Clínicas da UFU (HC- UFU) e personal trainner e afirma ter pertencido a uma geração que, durante a infância, brincava muito, subia em árvores, pulava muros e corria. Conforme envelheceu, no entanto, Lino se viu em uma minoria entre os amigos de idades semelhantes a se preocupar com o físico e a saúde. 

Há cerca de 10 anos, ele disse que está ocorrendo uma mudança de hábito entre o público que ele atende como personal e professor de dança de salão. Antes, ele só tinha alunas e hoje, elas dividem espaço com os homens. “Eu não tinha alunos. Agora está meio a meio. O público feminino procurava mais nosso trabalho por causa da parte estética e hoje elas resgataram os namorados e os maridos e os levaram também para praticar exercício físico”, disse Ernandes. 

Ainda de acordo com o profissional, para chegar aos 54 anos, como ele, em boa forma física e feliz da vida, é importante também cuidar da mente, fazer o que se gosta, amadurecer com os desafios e buscar o bem-estar interior. “Não é fácil. Muitos me veem de jaleco e perguntam se sou médico, se sou doutor. Não sou. Sou doutor no que faço. Amo minha profissão e sou muito feliz”, afirmou.

MORTALIDADE

Segundo o pesquisador do Cepes e doutor em demografia, Luiz Bertolucci Júnior, responsável pelo estudo do Painel de Informações Municipais 2018, estima-se que nascem aproximadamente 105 homens para cada 100 mulheres em Uberlândia, mas em todas as faixas etárias, a mortalidade masculina é maior, sobretudo na fase adulta. “Apesar de nascerem mais, eles morrem mais e mais cedo. Quando se olha em algumas faixas etárias, principalmente entre 20 e 45 anos, a mortalidade masculina é mais pesada, principalmente por causas externas, como acidentes de trânsito e violência. Os homens também estão mais na construção civil, onde há mais riscos. Já a mortalidade das mulheres se concentra por volta dos 70 anos, por causa de problemas circulatórios e tumores malignos”, disse Luiz Bertolucci.  

Os dados de segurança do Governo mineiro sobre Uberlândia mostram que a cada 10 mortes violentas na cidade, nove são da população masculina. Em 2017, foram 90 homens mortos contra 15 mulheres assassinadas. Em 2016, os registros de homicídios chegaram a 79 homens e nove mulheres. 

Uma outra explicação para Uberlândia ter 19 mil mulheres a mais, principalmente em idades adultas, ainda segundo o demógrafo, está no fato de haver maior migração para cidade do público feminino. “São indicadores, que o Censo vai corrigir”, disse Luiz Bertolucci.  
 
CENSO DE 2010
 

 

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