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15/09/2018 às 08h26min - Atualizada em 15/09/2018 às 08h26min

Suicídio precisa ser mais debatido

Especialistas defendem maior discussão sobre o problema, que ocasiona 32 mortes por dia no Brasil

MARIELY DALMÔNICA
Psiquiatra José Sardella defende fim de tabu na discussão do suicídio | Foto: Mariely Dalmônica
A cada 40 segundos, alguém comete suicídio no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). São 800 mil mortes por ano atribuídas ao problema, quase o dobro dos 470 mil homicídios registrados no planeta. 

No Brasil, o suicídio é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 e 29 anos, segundo o Ministério da Saúde. Por dia, cerca de 32 pessoas tiram a própria vida. Estatisticamente, para cada morte, há cerca 10 ou 20 tentativas. 

Para especialistas, mesmo que ainda exista preconceito, é necessário falar sobre suicídio. “Baseadas na desinformação, muitas pessoas acreditam que falar sobre o assunto significa incentivar o suicídio, e isso é uma coisa muito errada. Elas pensam que isso não acontece, e quando acontece é com o ‘vizinho’, e julgam com uma facilidade muito grande. Deveriam entender que as pessoas podem estar em um processo depressivo, ter uma dependência química ou podem estar instituições doentes, como o trabalho e a escola”, disse o psiquiatra José Sardella. 

Para ele, identificar a origem dos problemas é fundamental para prevenir o suicídio. Ato suicida prévio, uso de álcool, transtorno mental, perda de emprego, problemas financeiros, desesperança, dor crônica, senso de isolamento social, falta de suporte, bullying, abuso sexual e alienação parental são alguns fatores de risco individuais. 

“Muitas pessoas não admitem momentos de tristeza, como se não fossem levar curtidas no Instagram ou no Facebook. Sempre pergunto em meus consultórios: você já tentou se matar? E meus pacientes dizem: doutor, você é a primeira pessoa a me perguntar isso. Nós estamos falando de prevenção, e isso é algo que acontece muito antes de chegar ao ato”, disse Sardella. 

Para o psicólogo Juliano Alves, para prevenir, é preciso identificar sinais de mudança comportamental. “Primeiro temos que perceber quando a pessoa está pessimista, com um discurso negativo, com pensamentos de morte. Temos que ficar atentos aos discursos e dar ênfase no quanto é bom viver. Podemos orientar a pessoa a procurar um especialista, assim ela vai ser instruída e conduzida para o melhor tratamento possível”, afirmou. 

Vínculos familiares mais fortes e fé também se enquadram em fatores protetores.

MÍDIA 

Há algum tempo, o suicídio vem sendo discutido na mídia, por meio de textos, livros, filmes e até mesmo séries. No ano passado, a Netflix lançou a série “13 Reasons Why”, também conhecida como os “Os 13 Porquês” no Brasil. Na série, a personagem principal, Hannah Baker, é uma estudante do ensino médio que tira a própria vida depois de gravar em fitas cassete suas motivações.

A produção se tornou assunto entre jovens, pais, psiquiatras e psicólogos. Por um lado, a série teve uma repercussão positiva e chamou atenção para o problema. Por outro, a abordagem pode ter encorajado comportamentos semelhantes. “Dependendo da informação, muitas pessoas teriam uma inocência sobre o suicídio, e podem ser ver como uma personagem, e caminhar nesse sentido. Outros vão ver aquela cena e pensar: eu não quero que isso aconteça”, disse Juliano Alves. 

Segundo o psicólogo, jogos como ‘Baleia Azul’ e ‘Desafio da Momo’ também encorajam o suicídio. “Esses jogos atingem crianças ou adolescentes em fase de construção de identidade. Eles podem entrar por saber que um colega acessou. Nós identificamos que isso é ruim, mas para eles não é. Muitos filhos não têm confiança nos pais para conversar, até mesmo por incapacidade paterna.”

Para Juliano, o foco excessivo nas redes sociais também pode ser prejudicial. “A gente está vivendo momentos de angústia. Essa ausência de contato entre as pessoas tem sido um dos fatores que tem fragilizado os seres humanos”, afirmou.

SETEMBRO AMARELO 

Em 2015, foi criada a data mundial de conscientização sobre o suicídio, o Setembro Amarelo. Desde então, campanhas e palestras abordam o tema abertamente. A data foi criada no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Mundialmente, a Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (Iasp) estimula a divulgação da causa. 

Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), alunos, professores e especialistas se reuniram durante a última semana para debater o tema. A estudante de pedagogia Mariana Silveira acredita que a universidade é um dos locais mais importantes para abordar o assunto. “Os casos de suicídio e de tentativas de suicídio dentro das universidades são muitos. A pressão que os professores colocam, a nossa vivência, a vida fora da universidade, tudo exerce uma força enorme, e tem gente que não tem ajuda necessária. Temos que conscientizar as pessoas que esses casos são presentes e que existe uma solução, mas acabar com a vida não é uma delas.”

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. 

Em caso de necessidade, ligue para: 188.


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