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26/08/2018 às 10h04min - Atualizada em 26/08/2018 às 10h04min

Ação Moradia quer ampliar horta orgânica

Projeto aguarda aprovação de área há 6 meses; demora faz ONG correr risco de perder apoio financeiro

NÚBIA MOTA
Natasha Grzybowski diz que ampliação de horta pode ajudar na criação de renda de famílias atendidas | Foto: Núbia Mota
São 25 anos de história de ajuda à comunidade de baixa renda dos bairros Dom Almir, Morumbi, Alvorada, Joana D’arc e região. Atualmente, a Ação Moradia atende 240 crianças e jovens, emprega 30 pessoas e beneficia mais de 400 famílias com projetos dentro da instituição. Como forma de ampliar ainda mais esse atendimento, a ONG tem um projeto de expandir a horta orgânica e agroecológica, que funciona na entidade em um espaço de 1 mil m², no bairro Morumbi, para uma área institucional de pouco mais de 3 mil m², no bairro Reserva dos Ipês. As hortaliças do projeto Hortas Urbanas, que, atualmente são todas consumidas pelos alunos e funcionários, passariam a ser também comercializadas, gerando emprego e renda. Mas a concessão de uso da área aguarda a aprovação da Prefeitura desde fevereiro deste ano e a Ação Moradia corre o risco de perder o apoio financeiro de empresas privadas que se se interessaram na ideia, caso o projeto não se inicie até outubro.

Por sua vez, a Prefeitura de Uberlândia informou que o processo está em tramitação interna, conforme determina a lei, sendo submetido à análise jurídica.

Dentro do projeto da horta orgânica e agroecológica, que inclui também o projeto de viveiro, ambos iniciados há um ano, são oferecidos cursos gratuitos ministrados pelo agrônomo Guilherme Vasconcelos. Foi exatamente nesse público à procura de capacitação que a ONG percebeu várias pessoas em busca de emprego e renda.

“Seria um benefício tamanho para a comunidade conseguir essa área maior, que não tem como expressar em palavras. Ofertamos os cursos profissionalizantes aqui e não queremos que a pessoa morra com esse conhecimento, queremos que usufrua, que tenha um fundamento. É a possibilidade de dar um futuro para as pessoas da comunidade, não só capacita-las, mas empregá-las”, disse Natasha Grzybowski, assistente de projetos da Ação Moradia. 

O espaço pleiteado pela ONG é uma parte de uma área institucional de 8 mil m² em desuso, no bairro Reserva dos Ipês, lançado em 2016 na zona leste da cidade. Áreas institucionais são aquelas destinadas à edificação de equipamentos comunitários, como praças, ginásio de esportes, áreas de lazer, escolas, postos de saúde, entre outros. Como o projeto da horta é de pouco mais de 3 mil², seria possível a Prefeitura construir também outras edificações no local.

Segundo a Ação Moradia, o processo 2787/2018 de concessão de direito real de uso foi protocolado no dia 2 de fevereiro e já passou por mais de nove repartições na Prefeitura. O que foi informado à ONG é que o pedido precisa passar por todas as secretarias e autarquias, para que estas demonstrem algum possível interesse pela área. Ainda pelo que foi informado à instituição, a Secretaria de Saúde demonstrou interesse em 2 mil m² da área institucional, mas o espaço ainda é suficiente para a horta também ser abrigada. 

“Queremos 3 mil m². Eles querem 2 mil m². Ainda sobram 3 mil m². Mas esse terreno não deve ser usado tão cedo. Estamos em momento de crise e a Prefeitura não deve construir nada agora. Além disso, tem mais outras áreas ali perto e queremos só uma parte daquele espaço. Esse documento precisa ainda ser votado na Câmara. É um processo muito lento e burocrático e estamos com o recurso dos patrocinadores parado, correndo o risco de perder”, disse Natasha. 

PROFISSIONAIS 
Espaço já garante a renda de famílias atendidas

Na horta orgânica e agroecológica da ONG Ação Moradia são plantadas 50 variedades de hortaliças, como beterraba, berinjela, tomate cereja, cinco tipos de alface, entre outros, sem o uso de nenhum tipo de agrotóxico. Neste mês, foi dado início também ao plantio de temperos como manjericão, sálvia, tomilho, hortelã e camomila.

Como no viveiro são produzidas cerca de 130 mil mudas por mês e a horta não comporta tantas unidades, os vasinhos são vendidos a preços que variam de R$ 3,50 a R$ 5 e os principais compradores são produtores agrícolas da cidade. Já o que é produzido na horta vai todo para o preparo do almoço das 240 crianças atendidas pela instituição e os 30 funcionários. 

Com o novo espaço pleiteado, a intenção da Ação Moradia é promover feiras orgânicas em vários locais de Uberlândia para vender os produtos produzidos. 

Maria Santana de Lima, de 46 anos, trabalha na ONG há 16 anos e há 3 meses está na horta orgânica. Ela disse que com a ampliação do espaço para área institucional do bairro Reserva dos Ipês, o projeto vai gerar emprego a outras famílias. “Até para mim vai se bom, porque eu vou poder aprender ainda mais”, afirmou. 

O morador do bairro Morumbi, Antônio Alves, de 30 anos, tem uma filha de 11 anos atendida pela Ação Moradia e também procurou por capacitação. Ele nem acabou o curso de hortas orgânicas oferecido pela instituição e já conseguiu uma vaga remunerada como viveirista.  “Isso aqui é minha vida. Estou trabalhando com o que eu gosto. Eu já tinha uma experiência em uma empresa, mas não sabia mexer desde o início como aqui, desde a semeação e com produtos totalmente orgânicos. Seria excelente outras pessoas poderem vir trabalhar também”, disse Antônio. 



OBRA 
Sede seria construída com tijolos fabricados na ONG


O projeto arquitetônico da horta orgânica e ecológica do bairro Reserva do Ipês já está pronto. A ideia é fazer uma sede de 42 m² dentro da área institucional, para abrigar os funcionários que serão contratados. A casa seria feita com tijolos orgânicos feitos na fábrica reativada neste mês na Ação Moradia. 

A fábrica de tijolos ecológicos foi fundada em 2002 e, no ano seguinte, foi construído com o próprio material o 2º Centro de Formação da Família, no bairro Morumbi, onde hoje funciona a ONG. 
Em 2006, a Ação Moradia construiu, em regime de mutirão, 50 casas com tijolos ecológicos doadas à comunidade. Maria Santana, que hoje trabalha na horta orgânica da ONG, construiu a casa dela, em 2013, no bairro Integração, com os tijolos que ela mesma fabricou a custo zero, quando ainda trabalhava na fábrica. “Vinha sábado e domingo com meu filho fazer os tijolos com o material doado”, afirmou a funcionária. 
Oscar Pereira de Albuquerque é morador do bairro Morumbi e foi ele que iniciou a fábrica de tijolos em 2002, onde trabalhou por 8 anos. Ele retomou os trabalhos há menos de um mês, reativando a produção de 1.300 peças por dia. “A fábrica estava fechada, mas agora eu empreguei quatro pessoas da comunidade que precisavam trabalhar e retomamos os trabalhos. Eu também já trabalhei na horta por 6 anos e seria muito bom que ela também empregasse mais gente”, afirmou.

Os tijolos orgânicos são feitos apenas de areia, cimento e água. A principal diferença em relação aos tijolos comuns é que os orgânicos são feitos por meio de cura hidráulica, ou seja, o produto não é cozido em forno, um processo que consome madeira e ainda resulta na emissão de gases poluentes. “Como ele é feito de encaixe, nem precisa usar cimento durante a construção”, disse Oscar Pereira. 


Oscar Pereira com os tijolos que podem ser usados na construção de sede | Foto: Núbia Mota
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