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08/08/2018 às 08h18min - Atualizada em 08/08/2018 às 08h18min

Somos pedestres o tempo todo

No dia em que se comemora o Dia do Pedestre, vale a reflexão sobre direitos e deveres de todos os que compõem o trânsito

CAROLINA PORTILHO | REPÓRTER
Foto: Secom/PMU/Arquivo
Lucas Santos, de 12 anos, foi atropelado às vésperas do Natal do ano passado na esquina da sua casa, no bairro Cidade Jardim, zona sul de Uberlândia. A mãe dele, Patrícia Santos, lembra até hoje do acidente que deixou o filho por seis meses em processo de reabilitação, já que quebrou dois ossos da perna e teve fratura exposta. Segundo ela, a falta de atenção do motorista e do filho foi a principal causa do acidente.

“Foi na esquina de casa, em um bairro que é residencial. Lucas foi atravessar a rua, um carro virou e ele não teve tempo de voltar ou concluir a travessia. Ele estava com a avó, mas atravessou sozinho. O nosso erro foi não ter atravessado a rua com ele, e o do motorista foi não ter prestado mais atenção, respeitado o limite de velocidade da via”, conta. “O lado mais frágil é o pedestre, e em segundos a falta de atenção pode tirar uma vida”, disse a funcionária pública de 41 anos.
O adolescente passou por cirurgia, usou fixador externo por conta da fratura exposta, gesso, cadeira de rodas e muletas. Apesar da recuperação, o atropelamento deixou sequelas. “Lucas ficou traumatizado, ele tem pavor de atravessar ruas. Ele está bem melhor fisicamente, mas o psicológico foi afetado. A lição que tiro disso tudo é que temos que pensar mais no próximo, avaliar as situações e se colocar no lugar do outro. Dá para atravessar, dá para acelerar sendo que estou vendo um pedestre em travessia?”, questionou Patrícia.

A história do Lucas faz parte de uma estatística que coloca o Brasil entre os países com maiores números de acidentes de trânsito, resultando em mortes ou sequelas nas vítimas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil detém a quinta posição no ranking de países com maior índice de acidentes de trânsito em nível mundial. Só nos quatro primeiros meses de 2018, foram mais de 27 mil pedestres vítimas de acidentes de trânsito, segundo boletim especial divulgado em maio pela Seguradora Líder, administradora do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre, ou por sua Carga, a Pessoas Transportadas ou não (DPVAT). De 2008 (60.539) pra 2017 (98.750), o número de indenizações pagas a pedestres acidentados evoluiu 63%.
Na data em que se celebra o Dia do Pedestre - 8 de agosto -, a reflexão dos direitos e deveres de cada um que compõe o trânsito é válida para garantir o direito de ir e vir de todos, seja na condição de motorista, motociclista, ciclista ou pedestre.

Entre os bons exemplos registrados pela reportagem do Diário de Uberlândia está o das irmãs Celia e Alice Aparecida Silva, que sabem da importância de atravessar na faixa de pedestre, mas mesmo assim nem sempre se sentem seguras. “Mesmo quando estamos certas encontramos dificuldades. Tem motorista que para em cima da faixa e com isso temos que desviar para concluir a travessia. É aquele ditado da época da minha mãe: melhor esperar um minuto do que perder a vida”, disse Celia.

O olhar do pedestre deve estar sempre atento ao que acontece ao seu redor, por ser a parte mais frágil do trânsito. E nesse meio do caminho há obstáculos como postes, bancas, placas, lixeiras e outros mobiliários urbanos, além de calçadas irregulares. De acordo com a Prefeitura de Uberlândia, de janeiro a julho desse ano foram emitidas 2.581 notificações aos donos de imóveis que apresentam irregularidades em calçadas. No mesmo período foram aplicadas 599 multas referentes ao mesmo problema. Não foi passado à reportagem os dados de 2017 para que fosse feito um comparativo, mas de acordo com o diretor de Acessibilidade e Mobilidade Reduzida da Prefeitura, Idari Alves da Silva, calçada em desacordo com a lei é o principal problema da mobilidade na cidade.
 
MOBILIDADE
“Todos têm o direito de ir e vir sem interferências”

Que seja por alguns minutos, todos nós somos pedestres. Se pegou o carro para ir à padaria, estacionou o veículo e desceu em direção ao estabelecimento, a pessoa passou da condição de motorista para pedestre. A boa convivência entre todos, incluindo os motociclistas e os ciclistas depende, principalmente, do respeito mútuo para que o trânsito flua com segurança.

Se todos são pedestres, a atenção deve ser redobrada não só na hora de atravessar uma rua, mas por onde pisa e por onde anda. No meio do caminho é possível encontrar postes, bancas, placas e outros mobiliários urbanos, e ainda tem a calçada, que lidera o ranking de reclamações registradas junto à Prefeitura, sendo atualmente o maior problema no quesito mobilidade.

“O universo do pedestre é amplo. Temos idosos, crianças, pessoas com algum tipo de deficiência, grávidas e mães com carrinhos de bebês, por exemplo. Todos têm o direito de ir e vir sem interferências. A calçada pertence às pessoas e não ao dono do imóvel, que é o responsável por manter sua calçada em conformidade com a lei”, disse Idari.

A calçada se divide em partes, sendo uma delas chamada de Faixa de Serviço, que deve ter 55 cm a contar a partir do meio-fio. Esse trecho é destinado para a colocação de árvores, rampas de acesso para veículos ou portadores de deficiências, poste de iluminação, caixa de correio e lixeiras.

Na sequência tem a Faixa de Circulação destinada exclusivamente ao trânsito de pedestres, portanto deve estar livre de quaisquer desníveis, obstáculos físicos, temporários ou permanente e vegetação.

“Existem construções mais antigas que ainda não estão em conformidade com essas regras, mas aos poucos os proprietários são orientados para fazer os ajustes. Os novos empreendimentos, por exemplo, já contam com o projeto de calçada e isso significa que está dentro da lei. Temos uma cartilha com todas as exigências necessárias quando o assunto é mobilidade urbana. Além desse material, a Secretaria de Planejamento Urbano tem profissionais para orientar e tirar qualquer dúvida para que não sejam cometidos erros. Aquilo que se faz duas vezes sempre sai mais caro”, comentou o Idari.

O diretor de Acessibilidade e Mobilidade Reduzida da Prefeitura também reforça que as mudanças vêm ocorrendo por conta das pessoas procurarem seus direitos. Segundo ele, a maioria das reclamações sobre calçadas é procedente, cabendo ao proprietário os reparos.

“O dever da Prefeitura é de fiscalizar e do dono do imóvel, atender as exigências da lei. Há uns 20 anos, quando esse assunto de mobilidade começou a surgir, o problema era geral: nas escolas, prédios públicos em geral, na educação, saúde, moradia e acesso ao transporte. Hoje, só temos a calçada como problema, inclusive na construção particular, seja ela de uso comercial ou residencial. Se o erro persistir ou se o dono do imóvel não fizer as adaptações no prazo estipulado, ele é multado e consequentemente gera uma denúncia no Ministério Público para providências cabíveis”, completou Idari.
 
Sensibilização


Programa conscientiza crianças sobre comportamento no trânsito | Foto: Secom/PMU/Arquivo

 
Patrícia Almeida, que é coordenadora do Núcleo de Educação para Mobilidade Urbana e Cidadania, da Secretaria de Trânsito e Transportes (Settran), acredita que a sensibilização é o caminho certo para uma sociedade mais organizada no trânsito. Segundo ela, já existe uma evolução quanto ao pensamento dos direitos e deveres dos pedestres e a tendência é ir melhorando, já que o tema trata principalmente sobre a vida.

“Somos pedestres o tempo todo, então a melhor forma de construirmos um trânsito mais seguro é a orientação, é a conscientização, o amor à vida. Se cada um cumprir com o seu papel, com certeza teremos resultados expressivos”, disse.

A especialista em educação para o trânsito reforça alguns projetos desenvolvidos pela Settran visando essa conscientização sobre todos os agentes que integram o trânsito. Uma das ações é a Transitolândia, que trabalha as questões de segurança e comportamento no trânsito com crianças entre 5 a 12 anos. A partir de orientações dos agentes de trânsito, elas passam por situações vivenciadas no dia a dia, utilizando vias de uma mini cidade construída em um espaço no Parque do Sabiá.

“Ensinar nossas crianças é um passo importante, pois elas são nosso futuro. Nesse projeto elas aprendem sobre travessia na faixa de pedestre, calçadas com rampas de acessibilidade, a importância do cinto de segurança, a obediência às regras e à sinalização de trânsito, o respeito e a solidariedade necessária para um trânsito mais humano. Falar sobre isso com as crianças é importante, pois elas já são usuárias da via pública”, destacou Almeida.
 
Contran
Punição a pedestres foi adiada para 2019
 
O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) adiou para 1º de março de 2019 a aplicação de multas para pedestres e ciclistas que cometerem infrações de trânsito. Segundo a Resolução nº 706/2017, pedestres e ciclistas serão multados caso permaneçam ou cruzem vias por onde passam carros, como ruas, avenidas, pontes e áreas de cruzamento. Além disso, serão autuados se andarem fora das ciclovias e passarelas de passagem, por exemplo.
A punição para o pedestre será de R$ 44,19. Já para o ciclista que for flagrado em local proibido ou que estiver guiando a bicicleta de forma agressiva a multa pode chegar até R$ 130,16. Ele terá ainda a bicicleta recolhida pelos agentes de trânsito.
 
Dicas de segurança para os pedestres
 
- Faça a travessia sempre em faixa de segurança;
- Se não houver faixa de segurança, atravesse a via sempre em linha reta;
- Caminhe sobre a calçada. Se não houver, ande em fila única pela borda da pista;
- Jamais atravesse pela frente ou pela traseira de um ônibus ou outro veículo, pois o condutor que estiver vindo poderá não visualizá-lo;
- Nunca atravesse driblando os carros em movimento;
- Olhe para os dois lados antes de atravessar, mesmo se a rua for de mão única;
- Quando fizer a travessia, escolha um lugar onde você tenha boa visão dos veículos e possa ser visto facilmente pelos motoristas;
- Não atravesse a rua correndo, nem faça brincadeiras durante a travessia;
- Nunca espere abaixo do meio-fio o momento para fazer a travessia;
- À noite ou em dias chuvosos procure usar roupas claras;
- Respeite a vez do motorista. Nunca tente atravessar se o sinal estiver aberto para os carros;
- Utilize as passarelas para pedestres nas grandes avenidas ou rodovias;
- Trazer sempre presos à coleira e afastados do meio-fio, animais com os quais circule eventualmente;
- Na calçada, caminhar sempre do lado direito, afastado do meio-fio;
- Ter atenção às entradas e saídas de veículos (garagem);
- Observar as calçadas obstruídas por veículos e entulhos, por exemplo, nas quais os pedestres precisam descer a pista de rolamento (rua).
 
Dicas de segurança para os motoristas
 
- Trafegue na faixa certa: em baixa velocidade, conserve-se na faixa da direita;
- Só ultrapasse pela faixa da esquerda;
- Não faça do sinal amarelo um complemento do verde. Pare e evite acidentes com carros e pedestres;
- Buzina só em último caso;
- Fazer "pega" nas ruas é crime;
- É proibido usar telefone celular enquanto se dirige;
- Estacione sempre corretamente. Nunca pare em fila dupla, principalmente em frente a escolas. A calçada é lugar de pedestre, não de carro;
- Cinto de segurança é obrigatório;
- Faixa de pedestre: o próprio nome já diz tudo. Não pare o carro sobre ela. É contra a lei;
- Dar preferência aos pedestres quando passarem por uma calçada ou entrarem em uma garagem;
- Dar preferência aos pedestres que começaram a atravessar em um cruzamento ou faixa de pedestre quando o sinal está verde para o motorista;
- Dar preferência aos pedestres que estão atravessando na rodovia onde há faixa ou não, assim como em cruzamentos onde não há sinal ou controle de trânsito;
- Não ultrapassar qualquer veículo que pare em uma interseção ou faixa de pedestre para permitir que um pedestre ou ciclista atravesse com segurança.
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