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31/07/2018 às 07h58min - Atualizada em 31/07/2018 às 07h58min

Unidade da PF atua em 60 cidades

Delegado federal Carlos Henrique Cotta D’Ângelo ressalta atuação da FICCO, que hoje existe só em Uberlândia

MARIELY DALMÔNICA | REPÓRTER
“A sensação deixada após anos de Lava Jato é que a classe política brasileira não se interessa pelo futuro do país” | Foto: Walace Torres
O delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo, que está à frente da Polícia Federal (PF) de Uberlândia há cinco anos, decidiu que iria trabalhar na área policial quando era criança e há 16 anos se tornou delegado. Antes de vir para a cidade, D’Ângelo, nascido em Patos de Minas e criado em Ouro Preto, trabalhou por um ano na PF de Uberaba.

Em entrevista ao Diário de Uberlândia, o delegado falou sobre a atuação da unidade que, mesmo tendo sofrido com a redução nos quadros de agentes, é uma das principais referências no combate ao crime organizado. D’Ângelo destacou ainda a atuação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), que hoje só existe em Uberlândia, e como a PF irá atuar durante as eleições.
 
Diário de Uberlândia: A Polícia Federal enfrenta problemas de estrutura em Uberlândia e região?
 
Carlos D’Ângelo: A Polícia Federal possui sete delegacias em cidades do interior de Minas Gerais e ainda sua superintendência em Belo Horizonte. Essas unidades têm a obrigação de atender os 853 municípios mineiros. A delegacia sediada em Uberlândia tem que atender 60 municípios. O efetivo atual da unidade não é o ideal para prestarmos os serviços na quantidade e na qualidade que gostaríamos e que a população merece, mas essa é uma realidade nacional, não é de Uberlândia. A carência de servidores na PF é notória e atinge todo o Brasil. Para se ter ideia, quando a delegacia de Uberlândia foi inaugurada havia duas Varas da Justiça Federal na cidade, hoje há cinco. Além delas, foram criadas no período duas Varas em Patos de Minas, uma em Unaí, uma em Paracatu e uma em Ituiutaba. Todas na circunscrição da Delegacia da PF em Uberlândia que, no mesmo período, viu encolher os seus quadros em mais de 30%.
 
A Polícia Federal é responsável por quais atividades além das investigações policiais?
 
Além de investigar crimes atuando como polícia judiciária da União, a Polícia Federal também tem um importante papel de polícia administrativa. Nós atuamos na emissão de passaportes, controle de estrangeiros, controle de entrada e saída de nacionais e estrangeiros do território nacional, controle de armas de fogo, fiscalização e controle de empresas de segurança privada e ainda controle e fiscalização de circulação de alguns produtos químicos.
 
Fale sobre a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), que hoje existe só em Uberlândia.
 
A FICCO é um projeto idealizado para congregar todas as agências policiais que atuam em Minas Gerais e mais o sistema prisional. Trata-se de um acordo feito há quatro anos em Belo Horizonte e recentemente renovado. Originalmente, o projeto previu a instalação de unidades da FICCO nos sete municípios mineiros onde há delegacias da PF, mais a capital. Todavia, por várias dificuldades, a FICCO revelou-se uma realidade apenas em Uberlândia. Já são quatro anos em que, em um mesmo espaço físico, trabalham policiais federais, policiais rodoviários federais, policiais civis, policiais militares e agentes prisionais.
 
Qual o foco de atuação da FICCO?
 
A FICCO tem o dever de enfrentar os chamados crimes violentos, como roubos, explosões de banco, homicídios e tráfico de drogas. Isso porque esses crimes anseiam a atuação de todas as forças policiais em sua repressão. O tráfico de drogas por exemplo deve ser combatido por todos. Logo, fazer o combate envolvendo a união das polícias favorece a todas elas e à sociedade. A ideia da FICCO é bastante simples. Cada força apresenta seus membros e estes se unem para investigar grupos criminosos organizados na região. É um empreendimento de baixíssimo custo, cada força arca com o salário de seu servidor e seus equipamentos individuais. A Polícia Federal entregou todo o aparato logístico: móveis, computadores, veículos, etc. Com a ajuda da Vara de Execuções penais em Uberlândia conseguimos alguns recursos financeiros e pagamos despesas como aluguel, luz e telefone.
 
Quais têm sido os resultados da FICCO?
 
Considerando os resultados obtidos pela FICCO em Uberlândia nos últimos anos, dezenas de presos, dezenas de veículos e armas apreendidas, e toneladas de drogas retiradas de circulação, tem-se que um projeto viável, barato, simples e eficiente. Se alguém conhecer um modelo de atuação na segurança pública com estas mesmas características, desafiamos que nos apresente.
  
A Lava Jato deu mais visibilidade e credibilidade à Polícia Federal?
 
Não há dúvidas de que Lava Jato deu mais visibilidade à Polícia Federal, embora a atuação da PF no enfrentamento a corrupção já viesse ocorrendo fortemente há anos. Todavia, para além da visibilidade da Polícia Federal, a Lava Jato trouxe a público outras situações que merecem grande reflexão e debate. A forma espúria como se relacionam os políticos e as grandes empresas desde sempre, a forma de atuação dos partidos políticos que muitas vezes atuam com semelhança a organizações mafiosas, a forma, muitas vezes criminosa, como são arrecadados recursos de campanha eleitoral, a politização do Poder Judiciário e do Ministério Público que deveriam ser avessos a esta prática, os conflitos entre os órgãos e acima de tudo isso, a inexistência de um projeto de Brasil por parte da classe política. A sensação deixada após anos de Lava Jato é que a classe política brasileira não se interessa pelo futuro do país, só interessa por conchavos e maracutaias para cada vez mais se locupletarem. Isso é muito triste porque nação nenhuma se faz grande se não for pela força do trabalho do povo guiado por uma classe política digna.
 
Neste ano eleitoral, como será a atuação da Polícia Federal?
 
Por determinação constitucional, a apuração de crimes de natureza eleitoral fica a cargo da Polícia Federal. Por isso, todo o nosso efetivo já está preparado e à disposição das autoridades eleitorais, Justiça e Ministério Público, para investigar eventuais crimes dessa natureza. Historicamente as eleições municipais são mais conturbadas e ocorrem mais problemas. Assim, esperamos que as eleições deste ano ocorram de forma tranquila, mas estamos atentos.
 
A Polícia Federal trata de crimes virtuais?
 
Muitos acreditam que a Polícia Federal é a responsável por investigar todo e qualquer crime que ocorra por intermédio da internet, mas isso não é verdade. A Polícia Federal somente atua quando há interesse da União. São casos em que o crime lesa empresas públicas, órgãos da Administração Direta, servidores públicos federais no exercício da função ou casos em que por tratados internacionais o Brasil se comprometeu a enfrentar, como pedofilia e racismo. Ocorrendo crime pela internet e sendo a vítima um particular, as investigações ficam a cargo da Polícia
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